The Crew

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The Crew se vende como um MMO de corrida, mas à primeira vista, parece ser um Need for Speed da Ubisoft. No entanto, após completar sua campanha, experimentar todas as classes de carros e chegar até o nível 900 (pois é, nove-fuckin’-centos!), devo dizer que a melhor forma de defini-lo é como um RPG de corrida. Mas calma, antes de chegar nisso, vamos começar pelo básico.

UMA ROAD TRIP PELOS EUA

Ao contrário da maior parte dos jogos de corrida, The Crew tem uma história, onde cada corrida é uma missão, e cada missão começa e termina com uma cutscene. Não espere muito da história, no entanto.

Você controla Alex, um corredor pintudão cujo irmão é assassinado. Ele é acusado do crime e passa cinco anos no xilindró. Daí aparece uma mina milagrosa do FBI e fala “aí, brôu, me ajuda a prender os caras que armaram procê e eu limpo sua ficha”. Não, ela não é mana, mas eu não consegui resistir.

Temos aqui um jogo em mundo aberto com aquele que é provavelmente o maior mapa já feito em um videogame. Trata-se dos fuckin’ EUA todo. Todo? Não. O mapa é baseado nos EUA completo, mas ele em si é focado em várias cidades menorzinhas (todas famosas, como Nova Iorque, Las Vegas e Chicago, cada uma com seus principais pontos turísticos) e em muita estrada ligando cada uma das cidades.

A campanha principal faz um bom trabalho ao te apresentar para muitas variações. Você vai passar por centros urbanos, rurais, gelo, praias. Enfim, se tem nos EUA, tem aqui. E embora o cenário varie bastante, boa parte do mapa fica inexplorado ao final da jogatina, o que parece um tanto de desperdício. Dê uma olhada na galeria, onde eu coloquei uma imagem do meu mapa ao completar a campanha, após algumas dezenas de horas de jogo, e veja quanto dele ainda está em branco.

Cada fase da linear e longuíssima campanha (às vezes você tem mais de uma para escolher, mas precisa cumprir todas para progredir) é chamada de missão e todas elas dependem da sua habilidade na direção, embora a maior parte delas não sejam corridas propriamente ditas.

CLASSES DE CARROS

Aqui você começa a ver o lado RPG de The Crew. Ao comprar um carro novo, ele é praticamente inútil. Você precisa tuná-lo em uma das classes para poder fazer as missões. As classes vão sendo destravadas conforme você sobe de nível, e cada missão exige uma classe específica. Elas são as seguintes:

Street: A classe padrão. Carros tunados para correr no asfalto no meio da cidade. Está desbloqueada no começo do jogo, então a princípio não faz muita diferença.

Dirt: A segunda classe a aparecer começa a mostrar diferença. São carros tunados para correr em estradas de terra (ou, como dizem nossos amigos do sul, estradas de chão), e estão mais propensos a fazer drifts.

Perf: Minha preferida. Carros de alta performance, focados em correr rápido e em terem excelente dirigibilidade, bem do jeito que eu gosto. Frear, aqui, é opcional.

Raid: A classe raid deve ser ativada em carros grandes, como pick-ups, e é totalmente focada em off-road. Não em estrada de terra, mas em lugares sem estrada nenhuma, tipo através de riachos, pedras, montanhas e afins. No início parece que vai ser legal, pois é a classe mais única do jogo. No entanto, como as missões focadas nessa classe acontecem em terrenos muito irregulares, é comum o carro capotar, o que dá vontade de jogar o controle na televisão.

Circuit: Minha segunda classe preferida. Aqui o negócio é profissa, véio. São carros tunados para correr em circuito fechado, sem trânsito. Velozes nas retas e rápidos nos freios, estas missões são bem diferentes dos rachas urbanos e rurais do resto do jogo, e é uma pena que sejam tão poucas (salvo engano, são apenas três, todas corridas).

LEVEL UP

Continuando o lado RPG de The Crew, temos seu sistema de níveis. Você tem um nível de piloto, que vai subindo naturalmente conforme adquire experiência. Cada nível upado te dá um skill point, mas os upgrades não fazem grande diferença. O que o nível afeta mesmo são as peças que você pode equipar no seu carro. E aí o bicho pega.

Cada peça que você equipa em cada carro vai afetar o nível do carro. E esse é o que importa. Dependendo do seu desempenho nas missões ou nas skills (as sidemissions), você ganha uma medalha, que vira uma peça, que por sua vez vai aumentar ou diminuir o nível do seu carro.

Cada missão da história tem um nível recomendado. E embora isso seja perfeitamente ignorável no início da campanha, vai se tornar algo vital no feeling, na progressão e na dificuldade do jogo.

Acontece que as missões vão ficando muito difíceis, especialmente se você estiver focando na história. Tem algumas que eu ficava mais de dez segundos atrás do líder, vantagem que é muito difícil de tirar. Porém, ao subir o nível do meu carro, era eu que ficava com essa vantagem. Os níveis em si não fazem tanta diferença na dirigibilidade, mas afetam diretamente a dificuldade das missões. Dependendo dos equipamentos do seu carro, uma fase pode ser impossível ou fácil demais.

E aí entra algo que torna The Crew único, mas ao mesmo tempo pode não ser muito bem-vindo. As últimas horas de jogo sobem exponencialmente o nível exigido nas missões, colocando o jogador às vezes 100 níveis abaixo do recomendado, o que faz com que você tenha que fazer grinding nas skills até estar pronto para a missão em si. E como cada carro tem um nível individual, você vai ter que ficar refazendo as mesmas skills com os seus preferidos de cada classe. É como upar vários personagens em um RPG, bastante comum em jogos do gênero, mas não tenho certeza de quão bem isso será recebido em um jogo de corrida.

SKILLS

Talvez você tenha se assustado quando eu falei que em alguns casos o seu nível estará 100 abaixo do recomendado. No entanto, no final da campanha, se você conseguir uma medalha de ouro ou platina nos skills pode subir de uma vez 30 ou 40 níveis.

Até tem um sistema de fast travel, embora seja um tanto limitado. Caso você não tenha explorado a área, só pode ir de um aeroporto/estação de ônibus conhecido para outro. Depois de ter “liberado” uma estação, você pode se teleportar para ela diretamente do mapa, o que funciona muito bem e é bem rápido, praticamente sem loadings.

Porém, algumas das missões ficam no meio do nada, onde não tem nenhuma estação ou aeroporto próximo, então você vai dirigir bastante pelos EUA. As skills ficam praticamente no meio do caminho, de forma que você tem que desviar delas se não quiser fazê-las. Isso, somado à sua duração de em média 40 segundos cada uma, fará com que você faça várias numa boa. Agora é legal fazê-las por vontade própria, ter que fazer só para subir de nível se torna sacal em determinada altura.

As skills são divididas em vários tipos. Algumas delas são muito legais, como o teste de velocidade (vá o mais rápido possível sem sair da rua) ou a linha de corrida (mantenha pelo menos uma roda na linha que vai diminuindo com o tempo e vá o mais rápido possível). Outros, em compensação, são bem chatos, como o de escalar a montanha ou o de ter que passar no meio de portas que vão ficando cada vez menores.

TIPOS DE MISSÕES

As missões são bem variadas. Temos a básica corrida de A a B, e também algumas poucas em circuito, no qual você dá algumas voltas pelo mesmo caminho. Essas são as melhores, e é uma pena que o jogo não foque apenas nelas.

Tem outros tipos básicos, como uma corrida contra o tempo ou fugir da polícia no menor tempo possível. O problema é que tem também alguns tipos bem chatinhos, como pegar coisinhas que foram jogadas por um avião ou ter que destruir um carro inimigo. Sim, poderia ser legal, como em Burnout, mas o carro inimigo é sempre muito rápido e precisa de muitas batidas para quebrar.

Os tipos de missões são bem equilibrados, o que não é um elogio. Normalmente, em um jogo de corrida, a maior parte dele é corrida. Aqui para cada corrida que você faça, vai fazer um time trial, e assim por diante. Isso faz com que o jogo em geral seja um tanto irregular. Eu gostei da maior parte das missões, mas as que eu não gostei me tiravam o ânimo de jogar. Seria legal se o jogo permitisse que você focasse no que gosta, mas todas as missões devem ser completadas para a história andar.

Tem também um trecho da história que é focado na parte “gelada” dos EUA, e essa parte é muito chata. Eu nunca gostei das fases de gelo nos jogos de ação, para mim era uma desculpa para piorar a jogabilidade, e é exatamente o que acontece aqui. A não ser que o desafio de passar uma corrida inteira evitando que seu carro derrape para fora da pista lhe apeteça, você vai sofrer neste pedaço da história tanto quanto eu sofri.

Tem um outro tipo de missão que merece até um intertítulo só para ela, pois é algo único a The Crew.

AS FACTION MISSIONS

As faction missions são corridas longas. Longas mesmo. Você pode achar que a distância da sua casa até a farmácia é longa, mas isso não é nada perto de quão longas são essas missões. A mais curta delas dura mais de 10 minutos, e as mais longas passam de quatro horas.

Elas são as missões que mais justificam o tamanho absurdo do mapa do jogo, e têm objetivos muito legais, como “passe por todos os pontos turísticos dos EUA” ou “vá de uma costa a outra do país”. E é justamente por isso que elas são tão longas. Eu até tinha interesse em fazer todas elas, mas elas não salvam no meio e é muito difícil eu ter tempo para jogar quatro horas sem parar, então se tornou impossível.

Eu fiz algumas no entanto, que duravam entre 60 e 90 minutos, e posso dizer que é uma sensação única. É algo como as raids de um RPG, um tipo de missão para jogadores de nível avançado que levam sua jogatina a sério. Se eu for me lembrar de uma característica de The Crew para a posteridade, seriam justamente essas missões.

Elas são difíceis, são tensas e ao mesmo tempo são praticamente um tour virtual pelos EUA. Recomendo a qualquer jogador pelo menos tentar fazer uma dessas que demora por volta de uma hora, pois é totalmente diferente da sensação de qualquer outro jogo de corrida.

O LADO MMO

Enquanto você explora o mapa de The Crew, vai encontrar outros jogadores fazendo sua própria campanha e sua própria exploração. Você não precisa interagir com eles, mas cada vez que for fazer uma missão, tem a opção de convidar os outros que estão no mapa com você para um modo cooperativo até quatro pessoas.

Cooperativo naquelas, claro. Afinal, se for uma corrida, todo mundo vai querer chegar primeiro, e se for um time trial, a diferença é que você estará correndo contra um ou mais fulaninhos ao invés de contra o relógio. A parte cooperativa é que apenas um dos jogadores precisa chegar em primeiro para avançar a história.

Os jogadores que aceitarem seu convite vão entrar na sua crew e você vai continuar junto com eles. Nas missões seguintes, ao invés de você ter a opção de convidar todos que estão no jogo, vai poder convidar apenas quem está na sua crew, o que achei um tanto limitador.

Isso porque muitas vezes apenas um ou dois vão topar fazer a missão com você, então em uma futura missão, seria legal convidar esses dois e quem mais estiver no jogo. Os primeiros quatro que aceitarem o convite jogam e pronto. A parte limitadora é que se você tiver apenas um carinha na sua crew, vai ficar preso jogando apenas com ele, mesmo que o mapa esteja cheio de gente. Por causa disso, eu não consegui fazer nenhuma missão em quatro pessoas, pois nunca quatro pessoas aceitavam de uma vez.

Você também sempre tem a opção de fazer as missões sozinho, contra o computador, e muitas vezes não vai nem ser sua opção, pois não vai ter ninguém no seu jogo ou ninguém vai aceitar. A impressão que dá é que a Ubisoft superestimou as vendas que faria de The Crew, e ele é muito menos habitado do que Destiny, para citar outro jogo focado no online.

E assim como Destiny, você não pode jogar The Crew off-line, nem mesmo para fazer as missões da campanha sozinho. O jogo simplesmente não passa do menu principal. Da mesma forma, ele também não roda se você não tiver baixado a última atualização.

O lado bom é que o save dele é totalmente online, o que significa que você não precisa fazer backups nem ocupar o valioso espaço do seu HD com ele. Isso vem com um preço, e o primeiro load é considerável (coisa de três minutos), mas pelo menos depois disso os loads são bem aceitáveis.

PVP

Se cooperativo não é sua praia, talvez você queira jogar apenas contra outros jogadores. The Crew traz essa opção, mas não funciona. Você precisa dirigir até um dos ícones de PVP espalhados pelo mapa (poderia ser apenas uma opção no menu, mas você precisa ir até lá) e mandar procurar jogadores.

Nos testes que eu fiz, ele achava alguns jogadores, mas nunca achava o suficiente para começar o jogo. Cheguei a esperar 13 minutos e nada, então eu desisti. Cá entre nós, não fez falta, pois as corridas em cooperativo já são competitivas e é bem mais rápido achar gente para fazer, mas se isso é algo que você faz questão de ter, não é aqui que vai encontrar.

OUTRAS COISINHAS MAIS

Uma coisa que gostei muito em The Crew é o seu GPS, que coloca riscos no céu (veja imagem na galeria), o que funciona muito bem, especialmente se comparado ao GPS no minimapa que a maioria dos jogos usa.

Algo nem um pouco legal, no entanto, são as microtransações que a Ubisoft insiste em colocar em todos seus jogos. Quer destravar um carro, mas não quer usar dinheiro do jogo para isso? Ora, use dinheiro de verdade. E o que é pior é que os carros no jogo são caríssimos, em toda minha campanha, comprei apenas dois (e um peguei via UPlay). É assim apenas para incentivar a microtransação, o que é um saco. E acredito que a maioria das pessoas vai achar um absurdo cinco dólares para destravar um carro. Afinal, por cinco dólares você compra jogos completos na PSN.

A EQUIPE

E se você leu até aqui, acredito que tem uma boa ideia do que esperar de The Crew. É um jogo com alguns problemas graves, mas que também é bem divertido em seus melhores momentos. Se você é fã de jogos de corrida mais arcade, como um Need For Speed, ou se sempre quis um pouco de velocidade nos seus RPGs, é uma boa pedida.

O ANIVERSÁRIO

Só para não deixar passar batido, hoje o DELFOS completa 11 anos no ar. É tempo pra caramba. Feliz aniversário para o Alfredo.

Galeria