Suítes Imperiais é algo não muito comum no mundo da literatura mais adulta (ou fora do gênero fantasia, se preferir): uma sequência. É a continuação de Abaixo de Zero, romance de estreia do autor Bret Easton Ellis. E se você se lembra da resenha, sabe que eu não gostei do livro. Então você deve estar se perguntando por que diabos eu li a continuação?
Seria eu masoquista? Nada disso. Tendo se passado mais de vinte anos entre os dois livros, é óbvio que Ellis estaria muito mais experiente e poderia pegar um caminho completamente diferente do que apresentou em seu primeiro livro. Poderia, mas não foi o que ele fez.
Na verdade, ele manteve a mesma toada do original, tanto na temática quanto nos pequenos blocos de texto, representando um pequeno episódio da história, ou minicapítulo, se preferir.
Levando em conta o tempo transcorrido na vida real, o romance mostra o protagonista Clay, agora como um importante roteirista de cinema, retornando a Los Angeles para participar da seleção de elenco de seu mais novo filme. Durante sua estada, vai reencontrar várias das figuras de sua juventude que foram igualmente importantes em Abaixo de Zero.
Há uma melhoria visível em comparação com a primeira parte. Aqui, há de fato uma história, uma trama geral que liga tudo e não apenas slices of life como no anterior. Pode não ser uma história particularmente boa, mas me agrada mais do que ler um livro sobre nada específico.
Outra coisa legal é que Bret Easton Ellis incorporou elementos de metalinguagem. Ou seja, no início do livro, Clay já avisa que sua juventude e a de seus amigos virou romance e que, posteriormente, esse livro foi adaptado para o cinema, num filme que mudou praticamente tudo e não reflete suas vidas.
O bacana é que, de fato, Abaixo de Zero foi adaptado para o cinema (com um certo Robert Downey Jr. no elenco) descaracterizando completamente o Romance. Se o livro é pesado, mostrando sexo e consumo de drogas sem pudores, sua versão cinematográfica virou um filme teen típico dos anos 80. Ellis não poupa críticas ao longa no início de Suítes Imperiais.
Contudo, todos os outros elementos analisados anteriormente ainda se aplicam. Os personagens continuam impossíveis de se relacionar e simpatizar e, mesmo este tendo uma história completa, continua sendo na linha de “pobres rapazes ricos. Tão entediados que acabam se encrencando sozinhos”. Pelo menos não dá para dizer que o autor não seja consistente na temática.
Para quem leu e gostou do primeiro, Suítes Imperiais é melhor e resgata bem os antigos personagens para uma nova trama. Para quem não gostou, contudo, este aqui pode ser visto como mais do mesmo e é bem difícil com que ele o faça mudar de opinião. Melhor arriscar outros trabalhos do autor.