Devo começar essa resenha com uma confissão: desde a época do Mega Drive/Sega CD não acompanho as aventuras do Sonic. Sempre fui uma das três pessoas do mundo que preferiam a Sega à Nintendo e tive todos os seus videogames até o Saturn (incluindo o fracassado 32X). Portanto, pode-se dizer que os jogos do porco-espinho azul tiveram um papel bem importante na minha adolescência gamemaníaca. Ao menos até o Sonic 3.
Li em algumas resenhas que os jogos do Sonic com aquele estilo que os programadores gostam de tentar nos convencer que é 3D (mas que para mim se chama vetorial ou poligonal) são horrendos, pois focam mais em resolver quebra-cabeças do que na ação pela qual os jogos da série sempre primaram. Nessas mesmas resenhas, também era dito que este Sonic Heroes é o primeiro jogo “3D” do Sonic que resgata a emoção de outrora.
Pois bem, o parágrafo acima teve como intuito informar o delfonauta através de coisas que eu, humildemente, não tenho conhecimento pelos motivos explicados no começo do texto. Posso então, apenas falar deste Sonic Heroes e, digo sem medo: ele é detonante!
Em Sonic Heroes, você escolhe um time entre quatro opções. O time Sonic é o principal e tem os mais conhecidos e tremendões personagens da série: Sonic, Tails (que teve sua primeira aparição em Sonic 2, do Mega) e Knuckles (que deu as caras em Sonic 3). Esse time é o que prima pela maior velocidade. O time Dark conta com um sósia do Sonic chamado Shadow (que nunca vi antes) e mais dois, uma morceguinha e um robô. Esse grupo é o que tem a intenção de ser o mais difícil, pois existem mais inimigos nas fases. O time Rose conta com a namoradinha do Sonic, Rose e mais dois amiguinhos genéricos. Caso você seja iniciante, o jogo recomenda que você comece jogando com essa galera. Para terminar, tem o time Chaotix, com os personagens do jogo homônimo de 32X. Esse time é o mais diferente de todos, pois quando se joga com eles, o objetivo da fase deixa de ser chegar ao final, mas encontrar itens escondidos durante a fase. Justamente por isso, se você é um fã dos jogos do Sonic originais, esse será o time mais chato.
Todas as opções têm bichinhos com características distintas: um é rápido, o outro é forte e o outro voa. Você controla um por vez, aquele que é chamado de líder e os outros são controlados pelo CPU. O líder do time pode ser alterado a qualquer momento, conforme suas habilidades se fazem necessárias.
As fases são as mesmas para todos os times e a dificuldade é praticamente equivalente. Apesar de o time Dark ter mais inimigos e o Rose ter menos, você dificilmente vai morrer por ataques de inimigos. O sistema de “energia” é o mesmo do Mega Drive. Enquanto você tiver argolinhas, pode apanhar o quanto quiser que continua vivo. E como o jogo é bem generoso quando se trata de oferecer argolinhas (ou até mesmo vidas extras), os inimigos servem apenas como saco de pancada. A real dificuldade são os abismos e você vai cair neles até dizer chega.
As reais diferenças entre os grupos são poucas. Temos, por exemplo, as animações que aparecem entre as fases, que mostram a motivação da galerinha escolhida para destruir o vilão. Todos os times têm também um golpe especial (com uma animação diferente para cada um) que mata tudo que estiver na tela e só pode ser usado quando a barrinha estiver cheia. Além disso, em alguns chefes, ao invés de lutar contra o vilão do jogo, você luta contra os outros times, normalmente com desculpas estúpidas e que não fazem sentido algum, denotando apenas a falta de criatividade do pessoal que fez o jogo, pois está na cara que você apenas luta contra os outros times para que eles não tenham que criar tantas máquinas loucas para o vilão como faziam nos jogos antigos.
Já que falamos do vilão e dos chefes, vamos tratar disso mais um pouco. O vilão do jogo é o cientista louco chamado Dr. Eggman. Inicialmente, estranhei esse nome, pois para mim ele se chamava Robotnik e o visual do personagem é exatamente o mesmo dos jogos antigos. Posteriormente, fiquei sabendo que Robotnik era o nome japonês e Eggman o estadunidense, o que me deixou ainda mais confuso. Afinal, na época do Mega Drive, sempre jogava as versões estadunidenses, que eram as lançadas aqui no Brasil. Então me toquei que não me lembro de o nome do vilão ser mencionado durante os jogos, pois naquela época, os personagens não falavam e não existiam cutscenes. Provavelmente o nome Robotnik saiu de alguma revista de games da época. Ou sei lá, você tem alguma teoria melhor? 😉
Assim como nos jogos de outrora, os chefes aparecem a cada duas fases. Tirando os péssimos momentos onde você luta com os outros “heróis”, eles normalmente trazem Eggman em alguma máquina gigantesca e assustadora (embora fofinha, afinal, é um jogo do Sonic) que necessitam de técnicas específicas para serem destruídas. Além dessas máquinas, alguns chefes (dois, para ser exato) por falta de criatividade da equipe da Sega são apenas Eggman voando ao seu redor enquanto conjura centenas de inimigos divididos em ondas que devem ser destruídos. Embora seja claramente uma desculpa para o pessoal não criar mais máquinas malucas, esses chefes são bem divertidos, pois são verdadeiros massacres perpetrados pela sua equipe, já que os heróis são absurdamente poderosos. Principalmente o Sonic, que tem um ataque (que é feito pressionando o botão de pulo enquanto estiver no ar) onde ele praticamente vira uma bala teleguiada que ataca o inimigo mais próximo. Com esse ataque, você pode matar todos os inimigos da tela (tirando uns mais poderosos ou que têm armadura) em um só pulo, basta continuar apertando o botão.
Você também sobe de nível sempre que encontra um item específico, passa por um checkpoint ou usa o ataque especial. Isso deixa os heróis ainda mais poderosos e o jogo mais divertido. Tente executar uma seqüência de ataques com Knuckles no nível 3 e veja quão tremendão é seu último golpe (o bicho literalmente faz chover bolas de fogo).
Os gráficos são cabulosos. Os cenários são coloridos, detalhados e belíssimos, não deixando nada a dever para o Super Mario (o encanador italiano é o mascote da Nintendo e era o grande concorrente do Sonic nos bons tempos em que a guerra dos games não envolvia nem a Sony nem a Microsoft) nenhum. Eu diria até que os gráficos de Sonic Heroes são ainda melhores do que os de Doom 3 por um simples motivo: você consegue enxergá-los. E o melhor de tudo: ao contrário do jogo da ID, Sonic Heroes é leve e roda bem até em computadores mais antigos.
O som, por outro lado, não é nada tão especial. As vozes até são legais (principalmente Eggman e suas risadas de supervilão sádico) e os efeitos sonoros, como o barulho das argolinhas, soam como na época do Mega (e isso não é um problema). Outra vantagem é que, em uma época onde os jogos dificilmente têm músicas (aproveite e leia a supermatéria do Bruno sobre as trilhas sonoras mais marcantes do games) ou, quando têm, tocam apenas em momentos específicos, Sonic Heroes nos traz mais uma lembrança dos bons tempos colocando uma música diferente para cada fase. E a música toca o tempo todo. A diferença é que as composições são muito menos marcantes do que as do primeiro jogo, ou as do Sega CD, por exemplo, o que nos dá aquela sensação de que podia ter rendido mais.
Infelizmente, o jogo não é desprovido de defeitos. O maior deles é o defeito de games “3D” mais patético e mais comum já criado pelo homem: a câmera. Na maior parte do tempo, ela até funciona bem, pois você pode virá-la a seu bel prazer. Agora, em alguns momentos mais dramáticos, a câmera trava em determinada posição. Isso, embora seja bonito visualmente e bem-vindo em alguns momentos, torna outras partes simplesmente inviáveis e irritantes.
A câmera, contudo, não arruína o game. Jogar com o time do Sonic é nostalgia total, principalmente quando o porco-espinho está liderando. É divertidíssimo sair correndo a toda tentando pegar a maior quantidade possível de argolas, mas não parando por nada. Afinal, você é o Sonic e parar para ficar pegando coisinhas é para os fracos (como o time Chaotix, por exemplo).
Sonic Heroes também conta com um modo para 2 jogadores que é basicamente uma corrida entre dois times com a tela dividida. Não é grande coisa, mas rende alguns momentos de diversão. Bem que a Sega poderia ter inventado um jeito de jogar em até três pessoas, cada um controlando um dos membros do time.
Todas as características dos jogos antepassados estão aqui. Os loopings, aqueles breguetes que te dão um impulso, os itens de invencibilidade (que muda a musiquinha) e o escudo que impede que você perca suas argolas quando for atingido marcam presença. Das inovações, a maior delas é o grinding, que consiste em trilhos por onde os seus personagens vão deslizando enquanto canhões tentam derrubar você (e se derrubar, bau-bau) e muitos itens vão passando ao seu redor se você for macho o suficiente para pegá-los.
No primeiro ato da última fase, especificamente, o grinding é ainda mais emocionante pois você está, literalmente, no céu (a fortaleza de Eggman é aérea) e cair significa se esparramar em um chão tão distante que você nem pode enxergá-lo. Essa fase é uma das mais divertidas de toda a série Sonic (pelo menos dos jogos que conheci). Infelizmente, no segundo ato, anoitece e perde um pouco a graça, pois fica mais difícil de observar os lindos cenários. Se bem que, considerando a velocidade do porco-espinho, você não vai ter muito tempo para ficar olhando.
Também está de volta, aquela que é a maior marca dos jogos do Sonic: a fase de pinball (que até inspiraram um game à parte: Sonic Spinball para Mega). Nessa fase, o porco espinho e seus amigos viram uma bolinha de pinball e você passa a controlar os flippers. Porém, cuidado, mirar no caminho errado significa a morte certa.
Uma boa decisão da Sega foi excluir a fase da água. Tradicionalmente a fase mais chata dos jogos do Sonic, consistia em sair correndo embaixo da água procurando por bolhas que prolongariam seu fôlego (e sua vida). Aqui isso não existe. Cair na água tem o mesmo efeito de cair em um abismo, ou seja, encontrar papai do céu.
Muitas das partes mais emocionantes (como loopings, por exemplo) são automáticas e você não tem o controle dos heróis nesse intervalo. Porém, você nem vai perceber, porque elas passam rápido e a qualquer momento, pode ser necessário que você pule se não quiser despencar em um abismo sem fim.
A velocidade é realmente visceral e dá uma sensação de ser ainda mais rápido do que em jogos de corrida como Need for Speed, por exemplo. É até bizarro falar isso, mas se você tem “necessidade por velocidade” e por emoções fortes, desencane dos jogos de corrida e venha se divertir com Sonic Heroes, um dos jogos mais divertidos dos últimos anos.