Recentemente, alguém me perguntou o que era sniper. “É um rifle que permite que você mate seus alvos a quilômetros de distância”, respondi. “Cara, que legal!”, disse a outra pessoa.
No mundo dos games, há duas séries bem conhecidas estreladas por estes atiradores pintudos e medrosos. Há Sniper Elite e esta Sniper Ghost Warrior. Admito que eu confundia bastante as duas. Para contra-atacar neste fronte, se diferenciar da concorrente e ao mesmo tempo se adequar aos padrões da indústria atual, este terceiro Sniper Ghost Warrior faz uma mudança radical: se rende ao mundo aberto.
MAIS UM MUNDO ABERTO
Sabe, eu não sabia disso. Quando comecei a jogar, pensei que estava iniciando um shooter tático e curto. Quando constatei que se tratava de um mundo aberto, deu uma desanimada geral. Afinal, é MAIS UM mundo aberto, e admito que eu estava um tanto atrasado na minha jogatina.
No entanto, conforme eu dedicava mais tempo a ele, Sniper Ghost Warrior 3 ia me ganhando. Mundo aberto ou não, ele é muito legal, ainda que você possa argumentar que ele nada faz para justificar esta mudança de paradigma.
Sim, há um monte de coisinhas a serem feitas nos três pequenos mapas disponíveis. Há colecionáveis, desafios e reféns a serem liberados. Os desafios, infelizmente, são muito mal explicados, e eu não entendi o que precisava fazer nos poucos que encontrei. Há algumas cidades dominadas pelos bandidos, onde você tem que entrar e matar todo mundo, mas praticamente todas as missões de história e sidemissions seguem este esquema, então não é uma atividade especialmente diferente. Uma outra variação são bandidos procurados que você deve matar. Eles funcionam basicamente como as cidades, com a diferença de que seu objetivo é matar um sujeito específico.
As missões seguem quase sempre a mesma fórmula. Você dirige até o local, normalmente uma base inimiga, e lá deve se infiltrar, pegar algo e sair. Não é necessário matar geral para cumprir os objetivos, mas é o que eu fazia. Ao chegar no local, soltava meu drone, marcava todos os inimigos, procurava por um lugar alto e saía snipeando um a um. Depois de livrar o local de vidas, simplesmente entrava lá, pegava o que precisava e saía feliz e saltitante.
Talvez não por acaso, estas missões lembram bastante os outposts de Far Cry, e isso é bom, mas a verdade é que é quando sai desta fórmula que Ghost Warrior realmente brilha.
BRILHA, BRILHA, ESTRELINHA
Há algumas missões que saem do esquema mundo aberto. Ao chegar no objetivo, você deve seguir um caminho pré-estabelecido e relativamente linear, envolvendo coisas como escaladas e escolher a melhor rota e plano para seu objetivo. Estes momentos são poucos na campanha, mas são sem dúvida os melhores e mais marcantes.
Uma outra variação que rola algumas vezes é quando você precisa cobrir um outro soldado. Blá-blá-blá, escort missions, eu sei, eu sei. Porém, nestas dita-cujas, a questão não é tanto proteger, mas abrir caminho para seu comparsa. Você normalmente fica a algumas centenas de metros do lugar que ele está invadindo, acompanhando-o pela mira do rifle, e matando os vilões que ele marca. Muitas vezes rola até um coopzinho, onde ele fala “pega o da esquerda e eu pego o da direita”, por exemplo. É bem bacana. O delfonauta sabe que eu gosto dos meus jogos assim como minhas cenas de sexo: altamente roteirizados.
A inspiração em Far Cry é evidente. Além da invasão a bases inimigas, escaladas e afins, rola até um takedown múltiplo, mas o jogo não te apresenta oficialmente a isso e eu consegui fazê-lo uma única vez em toda a campanha. Depois disso, tentei repetir quando encontrava um grupinho de inimigos morgando, mas isso sempre terminava comigo levando pipocos.
Aliás, eu nem diria que o jogo é especialmente difícil, mas o seu personagem é realmente frágil, morrendo rapidinho quando é avistado, tornando o stealth uma obrigação estratégica. O lado ruim é aquele comum em jogos de stealth: os checkpoints normalmente acontecem quando você cumpre um objetivo. Então se você passou os últimos 15 minutos limpando uma base cuidadosamente, mas for avistado e morto, prepare-se para fazer tudo de novo.
Pelo menos os inimigos marcados continuam marcados. Tipo assim, às vezes, né? Porque tem vezes que as marcações somem. Como você deve ter percebido, Ghost Warrior 3 não é exatamente um jogo constante, e se beneficiaria de um certificado ISO 9000.
A munição durante boa parte do jogo é bem escassa, muito porque você compra ou crafteia elas bala por bala. Pois é, precisa de 50 tiros? Prepare a carteira, pois vai doer. Felizmente, conforme o jogo avança, seus recursos aumentam e isso deixa de ser uma questão. O lado ruim é que nas últimas missões, os inimigos começam a usar capacetes e exigem dois ou três headshots para se separarem da sua alma. Isso tira um pouco daquela sensação de “atirador de elite com uma arma mortal” que o jogo se esforça tanto para criar.
FALANDO NISSO…
Obviamente, estamos falando aqui de um jogo focado nos sniper rifles. Como tal, vale dizer quão elaborada é a jogabilidade dos rifles em questão. Resposta: é muito.
Ao olhar pela mira da sua arma, você vê a distância para o seu alvo e deve usar o direcional digital para ajustar a mira de acordo. Há também diversos tipos de zoom e a necessidade de levar em conta o efeito do vento na bala. Na dificuldade normal, pelo menos, o vento não chega a afetar muito, uma vez que, quando você segura a respiração, a mira mostra onde a bala vai atingir, permitindo uma mira precisa. No entanto, se você está interessado em algo mais simulação, o jogo oferece isso.
Seja como for, é uma sensação bem emocionante o tempo que a bala leva para atingir seus alvos, especialmente a longas distâncias. Seu personagem segura a respiração quando vai atirar, mas você, como jogador, provavelmente vai, sem perceber, segurar a sua no curto tempo entre o disparo e o impacto. E depois disso, por mais alguns segundos para ver se nenhum outro capanga contratado viu seu assassinato. É nestes momentos que Sniper Ghost Warrior realmente é marcante.
Há também metralhadoras, escopetas e pistolas, caso você se veja em um combate mais próximo, mas é bem claro que este não é o foco do jogo. As metralhadoras, por exemplo, têm uma estabilidade tão baixa que torna muito difícil matar um inimigo antes de ele matar você.
Ah, há também sidemissions, mas elas não se diferenciam das principais a não ser pelo fato de que contam pequenas histórias independentes. No gameplay mesmo, são praticamente a mesma coisa, envolvendo pegar documentos ou libertar prisioneiros dentro de bases inimigas.
GUERREIRO FANTASMA
Sniper Ghost Warrior 3 é um jogo legal, mas sua mudança para mundo aberto foi totalmente gratuita e desnecessária. Seus melhores momentos são aqueles mais roteirizados e lineares, justamente quando ele mais se afasta do paradigma do mundo aberto. Assim, talvez não seja uma campanha tão forte quanto seus antecessores, mas ainda há diversão a longa distância o suficiente para ser um jogo bastante recomendável.