Hoje em dia, cada vez que alguém indica alguma banda de heavy metal ou hard rock que nunca tenha ouvido falar, seja ela nacional ou de fora, sinto preguiça só de imaginar ouvi-la. O mercado desses gêneros está supersaturado há muito tempo, com uma quantidade enorme de bandas que soam iguais.
O metal e o hard rock, outrora gêneros que traziam algo diferente com bastante frequência, atualmente precisam se ater a muitas regras para saírem do papel, do contrário nenhuma gravadora vai se arriscar a desagradar os públicos desses nichos, já muito encolhidos e fechados, que curtem um som que simplesmente não faz mais sucesso como antes.
Então, quanto mais ouço o disco Mindlomania, da banda brasileira Silver Mammoth, mais penso que a falta de empolgação não é com a banda, mas sim com o que o mercado do rock em geral se tornou.
O que acontece com Mindlomania é que não se trata de mais um disco que só tem alguns poucos truques para mostrar, porém, é quase certo que, se você gosta de rock, heavy metal e hard rock há algum tempo, provavelmente já viu todos esses mesmos truques em lugares diferentes antes. Mindlomania junta todos eles muito bem, mas se você vai realmente sentir a música do álbum, delfonauta, irá depender do quanto está cansado da estagnação dos gêneros. Para mim, é um bom disco, com músicas que voltarei a ouvir sem ser por obrigação, algo cada vez mais raro de acontecer.
O som do Silver Mammoth em Mindlomania é de hard rock e com influência de rock progressivo, acredito, pois a faixa-título parece ter saído do Clockwork Angels, aquele último álbum incrível do Rush. Em vários momentos, ouço sons que não ficariam estranhos no Pink Floyd. Alguns riffs grudam na cabeça e há elementos de heavy metal aqui ou ali. A banda sai do trivial de guitarra, baixo, bateria e acrescenta piano e alguns efeitos de produção interessantes em algumas faixas.
Todos pontos positivos, a meu ver, mas lembrando de como comecei esta resenha, delfonauta, Mindlomania não vai além do que já foi feito antes. Há características que estão lá por decisão comercial, ou por simples convenção (foi feito assim porque é costume ser desse jeito). Pessoalmente, o que mais incomoda é a escolha de cantar em inglês, o que resulta em letras pouco interessantes, com diversos versos manjados no hard rock e heavy metal (quantas vezes você já ouviu: save me, help me, save us from hell, em um disco?). A pronúncia, por melhor que seja, ainda causa estranheza, pois fica claro que é um brasileiro quem canta.
A falta do português mantém a distância entre o ouvinte brasileiro e a banda, porque a experiência de ouvir o Mindlomania acaba não sendo diferente de ouvir outra banda internacional. Por isso, quero dizer que as sensações que as composições trazem não são inovadoras. Por outro lado, também não são nem um pouco ruins para nós que gostamos de um som regado à guitarra. Os destaques, ou canções que recomendaria para qualquer pessoa interessada, são: a faixa-título, Madman Doc (adorei os riffs dessa), Sadness, Wild Wolf e Shock Therapy (essa, última do disco, é possivelmente a mais original).
No rock, no metal, no hard rock, alguém precisa sair da zona do conforto, fazer algo nunca feito antes e abalar a nossa percepção do que é um disco desses gêneros. Quando encontro uma banda boa como o Silver Mammoth, junto da apreciação do som, vem a frustração por ainda não ter encontrado a ousadia e originalidade em uma banda nova que possa quebrar um monte de regras, fazer mais misturas musicais, enfim, tentar algo realmente novo.
Mesmo assim, dos lançamentos que acabei ouvindo nos últimos três anos, seja de bandas novas, antigas, nacionais, ou internacionais, Mindlomania é um dos que mais me agrada. Se esse hard rock é o tipo de som que ainda “conversa” bastante com você, é certeza que há muito para tirar de Mindlomania.