Sestine – As Engrenagens

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Primeiramente gostaria de deixar claro que não tenho experiência em escrever sobre músicas ou álbuns, mas como, mesmo em minhas resenhas cinematográficas, acabo contando histórias e falando sobre minhas impressões a respeito de determinada obra, sem muitos termos técnicos ou coisa parecida e, além disso, tenho a meu favor o fato de o DELFOS ser um site que privilegia o jornalismo parcial, vamos adiante.

Foi no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro de 2005, quando eu lá estive, de volta à minha terra natal para divulgar o meu curta-metragem Anya, que reencontrei alguns colegas de épocas remotas do colégio. Um deles, eu sabia, era o guitarrista da banda Sestine, que então já possuía um site próprio (www.sestine.com.br) e uma comunidade no orkut. Retornando a São Paulo e com a ajuda da Internet, conheci melhor e fiquei muito interessado no trabalho deste quarteto, que canta belas letras através de um melancólico tom de voz.

Eis que, há algum tempo, recebi pelo correio, como presente de divulgação, os dois últimos EPs da banda, recém-terminados e de concepção artística bem original, tanto nas capas, como nos corpos dos CDs. Comecei a escutar As Engrenagens e, já nos versos que compõem O Teu Pobre Coração, fui tomado de assalto por um estranho fascínio, que, confesso, até hoje só sinto ao escutar as canções da minha banda de Rock predileta, o Coldplay. Apesar de eu próprio encarar como elogio este paralelo que vejo entre o Sestine e o quarteto britânico, não vou me ater a comparações baratas porque não é este o objetivo desta resenha e, além disso, é bem possível que muitas pessoas que não apreciam a voz meio fanhosa do inglês Chris Martin, consigam escutar com prazer o vocal de Márcio Porto.

Esta comparação foi mais em relação ao meu sentimento pessoal mesmo. Ao ouvir As Engrenagens senti exatamente o mesmo misto de alegria e melancolia que me toma a alma quando escuto qualquer música, de qualquer álbum do Coldplay. Talvez porque as letras presentes no EP do quarteto brasiliense também alcancem o coração de forma singular, talvez porque a união de bateria, guitarra, baixo e vocal, em determinados momentos, seja semelhante. Enfim, o fato é que, parecido ou não (afinal, é apenas a opinião deste crítico) o EP só possui músicas grandiosas e tem o seu auge com W2, em especial no trecho em que todos os integrantes cantam juntos.

As Engrenagens, a meu ver, é quase como uma pequena coleção de perfumes notáveis, abertos juntos e dos quais não se pode escapar. Remete a diversas experiências, tristes, românticas e nostálgicas, desta nossa vida de erros e acertos.

Você pode até pensar, caro delfonauta, que tudo o que eu escrevi até aqui foi apenas porque se trata da banda de Rock de uns conhecidos meus de Brasília. Ao contrário, se eu não tivesse gostado de verdade do som destes meus “ex-colegas” (na verdade foram meus colegas de escola somente o baixista e o guitarrista), provavelmente essa resenha nem teria sido escrita. E como este é um veículo no qual eu posso expressar minha opinião, afirmo sem pestanejar que sinto apenas orgulho desses caras, porque compartilho com eles também, ainda que de maneira diferente, a dificuldade de se fazer um trabalho artístico de qualidade e divulgá-lo, em um país repleto de discrepâncias como o nosso. O fato é que é necessário ter coragem para isso, assim como foi preciso também ao Corrales, para manter este site ativo. No final das contas, penso na estranha metáfora de que somos todos brasilienses e “pela W2 deserta nós deixamos toda a nossa covardia”.

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