Cá estou eu mais uma vez para jogar uma incerteza em uma nova alegria nacional. Corrales, o chato de plantão, afinal. Já falei muitas vezes o quanto não gosto do Oscar e dificilmente concordo com os filmes indicados lá. Porém, entendo o orgulho ao termos Ainda Estou Aqui indicado não apenas a Melhor Filme Estrangeiro, mas também a Melhor Filme. Não vou elaborar minha opinião sobre o filme aqui. Para isso, é só você ler minha crítica Ainda Estou Aqui. O papo aqui é sobre o prêmio da Academia de Cinema dos EUA, o Oscar. Mais especificamente, sobre a categoria Melhor Filme Estrangeiro.
A SOBERBA DA ACADEMIA
O problema começa com a soberba dos títulos das categorias. Temos o melhor filme do ano, e então temos o melhor filme estrangeiro. Como se qualquer porcaria feita nos EUA fosse superior ao melhor filme feito pelo resto do mundo. É de uma soberba equivalente a você ter uma categoria para desenhos de criança abaixo de cinco anos e outra para adultos, mas no caso das obras feitas por criança isso faz algum sentido. A categoria Melhor Filme não faz.
Seria diferente se a categoria se chamasse “melhor filme em língua inglesa” e daí tivéssemos outra “melhor filme em língua estrangeira“. Isso seria uma forma natural de fomentar a própria indústria, sem necessariamente se considerar superior ao resto do mundo. Mas os títulos escolhidos são uma migalha para indústrias que eles consideram tão inferiores à própria que precisam de uma categoria exclusiva só para ter uma medalhinha de consolação.
E os países se dobram todos para as regras. É só ver que cada país tem direito a indicar um único filme, escolhido por um comitê de cada país. Ora, seria muito mais honesto e representativo se todos os filmes pudessem concorrer à indicação, não apenas um. Ganhar Melhor Filme Estrangeiro é como ganhar uma premiação de “formiga mais inteligente”. Só representa uma honra para a formiga se ela não for inteligente o suficiente para perceber quão condescendente é o prêmio.
AINDA ESTOU AQUI: MELHOR FILME ESTRANGEIRO OU MELHOR FILME?
Isso foi inspirado pela indicação de Ainda Estou Aqui, mas não se refere especificamente a ela. Afinal, Ainda Estou Aqui foi também indicado a melhor filme, assim como Emilia Pérez. Mas um exemplo de como a categoria é estranha é que há cinco indicados a Melhor Filme Estrangeiro, mas apenas dois deles também estão na concorrência para Melhor Filme. Já pensou que estranho será se um dos outros três levar o prêmio? Afinal, a Academia já fez o juízo de valor: talvez Emilia Pérez e Ainda Estou Aqui não sejam os melhores filmes do ano, mas com certeza foram os melhores feitos pelo resto do mundo. Segundo a turma que tem tara por carecas dourados, pelo menos.
É um problema comum em premiações. No The Game Awards, se um jogo é indicado a Melhor Jogo de Ação e também a Jogo do Ano, e não levar a primeira, é estranho. Coloca dúvidas em todo o processo de premiação e indicação. E este é um dos motivos pelos quais não gosto dessas premiações de indústria, mesmo fazendo as minhas aqui no DELFOS.
EXISTE PREMIAÇÃO IMPARCIAL?
Mas no caso das minhas, são as minhas. Eu escolhi Astro Bot como o melhor jogo do ano e disse que é um dos games preferidos da minha vida. Mas é claro que esta é minha opinião, e apenas minha. Você pode concordar ou não (e por favor discorde!), mas não estou dizendo que é objetivamente o melhor jogo produzido em 2024.
Este é meu problema com o Oscar, The Game Awards e quaisquer outras premiações. Eles fingem ser objetivos e oficiais, quando são subjetivos e pessoais, mesmo que representem um coletivo. Qualquer opinião é sempre subjetiva, parcial. E tudo bem. Só não deve ser apresentada de outra forma. Assim, uma obra que ganha o Oscar de melhor filme, estrangeiro ou não, representa apenas isso: que ganhou o Oscar e foi a mais votada naquele grupo, não que é objetivamente a melhor coisa feito no ano. O que deixa ainda mais nojenta a diferenciação entre “nacional e estrangeiro” num prêmio que almeja (e finge alcançar) a internacionalidade e a objetividade.
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