Senhores do Crime

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Depois de conhecer boa parte da filmografia de David Cronenberg, é difícil não associar o nome do diretor com alguma cena que cause desconforto e até mesmo náuseas. Só para lembrar, um de seus filmes mais conhecidos é A Mosca. Acho realmente interessante quando um diretor mantém – na maioria de suas obras, mas sempre com algumas exceções, é claro – um determinado estilo que expresse o seu gosto pessoal. Não é novidade, portanto, que Cronenberg gosta de sangue e cenas que causem aflição no espectador. É o que se repete com esse Senhores do Crime, o segundo filme que o cara fez com Viggo “Aragorn” Mortensen, depois de Marcas da Violência, mais conhecido como “aquele que fez o Corrales dormir no cinema mais desconfortável de São Paulo (o do Shopping Santa Cruz)”.

O enredo tem semelhanças com o filme anterior: Naomi Watts é a médica Anna que, após salvar um bebê em um parto que acabou matando a mãe, uma garota russa de 14 anos supostamente viciada em drogas, tenta procurar os parentes da recém-nascida para que a mesma não seja abandonada num orfanato britânico qualquer. O que ela encontra, no entanto, é muito pior do que pensava: o diário deixado pela defunta leva Anna até a máfia russa, que tem membros atuantes na Inglaterra.

E qual é a semelhança com o filme anterior, se Marcas da Violência é uma adaptação de quadrinhos que nada tem a ver com a máfia russa? A resposta está mesmo em Aragorn, ou melhor, Viggo Mortensen, que faz o misterioso Nickolai. Seu personagem aqui é tão corajoso e violento como o anterior, Tom Stall, com a única diferença de falar um inglês britânico bem mal falado, com sotaque russo.

Aliás, no que diz respeito à parceria que se repete ente Mortensen e Cronenberg, há quem diga que Senhores do Crime é Marcas da Violência, assim como Desejo e Reparação, que traz novamente a parceria de Keira Knightley com o diretor Joe Wright, é também uma versão diferenciada de Orgulho e Preconceito, mas acho que dizer isso é forçar muito a barra, pois, por mais que se pareçam pelo gênero – os dois primeiros tratam da violência e os dois últimos são filmes de época – cada um deles tem uma história diferente e sequer se situam na mesma cidade.

Além de Viggo e da presença de uma das minhas atrizes preferidas, que figurou no melhor filme de 2007 na minha opinião, o filme ainda tem a presença marcante de Vincent “Como alguém tão feio como eu pode ter pegado a Monica Bellucci?” Cassel, que faz o russo inconseqüente e beberrão Kirill, um personagem perfeito para o ator abusar de seus trejeitos feiosos.

Para finalizar, o herdeiro de Isildur, ou seja, o Mortensen está muito bem e até mesmo aparece completamente nu em uma cena violentíssima que envolve facas e uma sauna a vapor, mais conhecida como “banho turco”. Essa fica para as delfonautas se divertirem com suas batatas fritas, e milk-shakes de Ovomaltine ou o acompanhamento que preferirem enquanto observam algo que não foi mostrado no Senhor dos Anéis. Para os homens, entretanto, está longe de ser divertido, ainda mais que dá a maior aflição pensar na idéia de lutar peladão contra outros caras com facas na mão… já pensou onde é que essas lâminas podem parar? De forma geral, apesar de o tema ser deveras batido, até que gostei de Senhores do Crime. Mais do que tinha gostado de Marcas da Violência, pelo menos.

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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
senhores-do-crimePaís: Inglaterra/Canadá<br> Ano: 2007<br> Gênero: Suspense/Drama<br> Roteiro: Steven Knight<br> Diretor: David Cronenberg<br> Distribuidor: Playarte<br>