Ni!
Cara, até que enfim assisti esse filme. Desde o colegial ouço o pessoal comentar sobre ele, mas até agora ainda não tinha conseguido colocar minhas mãos no troço. E a espera valeu a pena, pois não ria tanto há anos.
Para quem não sabe, Monty Python é um grupo inglês de comediantes, mais ou menos como um Casseta & Planeta melhorado que, assim como seus descendentes brasileiros fizeram recentemente, também investiu no cinema. A influência do Monty Python é enorme e pode ser sentida em praticamente tudo de bom feito no ramo do humor, desde o próprio Casseta & Planeta até os Simpsons (aqueles alienígenas babões que aparecem de vez em quando no desenho é uma homenagem a personagens de A Vida de Brian, segunda incursão cinematográfica do grupo).
Para quem não sabe – parte 2: Monty Python em Busca do Cálice Sagrado, o primeiro longa de verdade da trupe (anteriormente eles fizeram uma coletânea de esquetes de seu programa de TV, chamado Flying Circus, mais ou menos como os desenhos da Turma da Mônica nos anos 80) é uma sátira direta a Le Morte D’Arthur de Sir Thomas Mallory, ou seja, aquela famosíssima história que envolve os Cavaleiros da Távola Redonda, Excalibur, Merlin (que virou nome de brinquedo nos anos 80), Rei Arthur (que também virou brinquedo, um robozão de controle remoto), Lancelot, a Dama do Lago e muitos outros títulos de músicas de Rock/Heavy Metal, passando de Rainbow a Grave Digger (como você leu ontem aqui na Semana Excalibur).
Claro que, apesar de ser uma sátira à história original, o filme não a segue à risca e, na verdade, a altera bastante. Mas se você quer a história de verdade, fique com o também ótimo Excalibur, pois aqui, embora a história gire em torno da busca pelo Cálice Sagrado, o cavaleiro Percival (que encontrou o cálice na versão original) nem aparece. Outra diferença gritante é que nenhuma referência é feita ao romance entre Lancelot e Guinevere, principal ponto dramático da obra original e motivo pelo qual esse cavaleiro, o mais valente da Távola Redonda, é tão famoso. Agora, se você quiser apenas rir, e rir muito, a melhor pedida é esta versão fabulosa do Monty Python.
Assistir a este filme é uma verdadeira aula da história da comédia (as piadas já começam nos créditos de abertura, leia tudo que você não vai se arrepender), pois vemos muitas piadas, ou melhor, fórmulas para piadas, que seriam depois reutilizadas nos mais diversos formatos, de desenhos a stand-up comedy, e que sempre garantem risos da platéia.
Muitas das cenas, inclusive, se tornaram clássicas e mesmo quem nunca assistiu o filme já ouviu falar delas. Como exemplo, podemos citar o sanguinário coelhinho assassino (que também serve de exemplo como uma fórmula de piada, exaustivamente repetida), o invencível Cavaleiro Negro, a Ponte da Morte e, é claro, os temíveis Cavaleiros Que Dizem “Ni!”.
E o melhor é que tudo isso é permeado por um humor com altas críticas sociais e políticas (assim como o nosso Casseta & Planeta) e tudo contado através daquele fantástico humor inglês que, embora não seja qualquer um que goste, para quem gosta sempre rende ótimas risadas, graças a seu nonsense. Eu, particularmente, cheguei a engasgar de rir com a cena dos monges cantando logo no início do filme.
Aliás, se você ainda não assistiu, fique avisado. Não beba nem coma nada enquanto está assistindo, pois as piadas aparecem quando você menos espera e você vai acabar engasgando (experiência própria). Tenha certeza que tem alguém próximo a você para executar uma manobra Heimlich caso isso aconteça (se bem que creio que apenas estadunidenses são burros o suficiente para que engasgar seja um risco real, como parece ser pelo que eles mostram nas sitcoms).
O único defeito da fita é mesmo o final, que deixa a impressão de que a história não foi concluída. Não é o gancho para continuação, tão em voga atualmente, é realmente um final ruim. Claro que isso não chega a estragar a experiência de assistí-lo.
A importância desta película é tamanha que, além de ser considerado o melhor filme inglês de acordo com a opinião pública, ainda estão preparando um musical na Broadway baseado nele, que deve estrear no dia 21 de dezembro. Como os musicais da Broadway estão sendo trazidos esporadicamente para o Brasil (aconteceu com Os Miseráveis, A Bela e a Fera, O Mágico de Oz e Chicago), talvez possamos ter alguma esperança, embora mínima, de presenciar esta obra prima nos palcos tupiniquins. Vamos torcer.
Monty Python em Busca do Cálice Sagrado está disponível em DVD no Brasil em uma versão ridícula, que não traz o disco de extras da versão original e nem sequer se deu ao trabalho de traduzir o menu. Não existe nem uma versão dublada no disco, que traz apenas o áudio original. Se for comprar, prefira o importado, dizem que os extras são bem legais, incluindo uma misteriosa “legenda para quem não gostou do filme”. Quem souber o que é isso, por favor me diga. E para a fabricante do DVD nacional, quero dizer apenas uma coisa muito importante:
Ni!