Em meados da década de 90, os fabricantes de fliperama e videogame deixaram a criatividade de lado e passaram a explorar sem pudor, saturando mesmo, um estilo conhecido como beat´em up, aquele famoso jogo de luta lateral onde você passava por uma determinada fase lotada de inimigos até enfrentar o chefão no final e repete o procedimento até atingir o último mestre. As mais variadas franquias das mais variadas origens, mesmo que não tivessem muito a ver, exploraram o estilo: desde desenhos de sucesso como as Tartarugas Ninja e Os Simpsons, até personagens de quadrinhos como o Justiceiro e os X-Men, além da série original de RPG, AD&D. Alguns deles traziam pequenas novidades, mas a grande maioria apenas focava os desafios e a jogabilidade já existentes com muita repetição e monotonia.
Por sorte, este não é o caso do arcade Knights of The Round, de 1991, um bom jogo da japonesa Capcom (também responsável pelas séries Megaman, Street Fighter e Resident Evil) que soube mesclar com inteligência uma jogabilidade viciante com a temática medieval das lendas do Rei Arthur e sua Távola Redonda.
A história é bobinha e nada fiel às lendas originais, mas cumpre seu papel: assim que Arthur tira a excalibur da pedra, o mago Merlin avisa que ele precisa imediatamente partir atrás do Santo Graal, o recipiente em que Jesus tomou vinho durante a santa ceia, pois se este artefato mágico cair em mãos erradas, como as do malvado Garibaldi (o último chefão), a Inglaterra correrá grande perigo.
Para cumprir sua missão e defender o reino, você poderá escolher um dos três melhores cavaleiros da Távola Redonda (daí o nome do jogo), ou os três (caso jogue com até dois amigos) todos bem clichês no gênero: Perceval, o personagem forte e lento, Lancelot, o ágil e fraco e Arthur, o mais equilibrado.
O jogo está dividido em 7 fases repletas de inimigos e sempre com um chefe no final. Todas as localidades de um belo reino medieval estão presentes em Knights of The Round, desde as vilas e florestas até os maiores castelos. Aliás, os gráficos são muito bons, apesar dos personagens estarem menores na tela com relação a jogos como Final Fight ou Teenage Mutant Ninja Turles, mas o jogo é bem colorido e apresenta uma gama bem variada de inimigos, sub-chefes e chefões, tudo graças à tecnologia da famosa placa CPS1, responsável também pelos cenários muito bonitos, variados e detalhados. Fica difícil entender porque as empresas trocaram esse tipo de gráfico tão rico pelo poligonal ainda em estágio primitivo de evolução. Talvez seja até um saudosismo de minha parte, mas prefiro esse tipo de visual ao apresentado no novo jogo das Tartarugas Ninja por exemplo.
Para não cair no lugar comum frente à dezena de jogos do mesmo gênero lançados, a Capcom incluiu na jogabilidade um pequeno charme vindo diretamente do mundo dos RPGs: a possibilidade de ganhar experiência e passar de nível conforme você mata os inimigos ou coleta determinados itens.
Essa característica muda não somente o tamanho da barra de energia do jogador e o dano que ele pode causar aos inimigos, como também o visual de seu personagem, que começa com uma roupa de camponês e uma arma bem vagabunda e vai trocando gradativamente todo seu equipamento conforme avança de nível até conseguir uma armadura completa, digna de um cavaleiro, com direito a capa e à lendária espada excalibur se você jogar com Arthur. Por ser um jogo mais voltado à ação, esse implante “RPGístico” é limitado e você só pode atingir, no máximo, o nível, mas não se preocupe, porque é bem provável que você chegue ao final antes de chegar ao ápice já que o jogo não é difícil (desde que você tenha fichas infinitas, é claro)
A jogabilidade é muito simples com apenas o direcional e 2 botões. Nada daqueles combos mirabolantes com 8 comandos, tudo se limita a um botão pular e o outro golpear, simples assim. Caso você esteja cercado por inimigos, existe um movimento especial chamado de Desperation Attack (ou ataque do desespero) realizado ao apertar os dois botões simultaneamente. Em alguns momentos, você pode também utilizar um cavalo e o botão de pulo passa a direcionar o lado para o qual o animal está virado.
As músicas e sons são o ponto fraco, pois não chamam muito a atenção com os famosos berros dos inimigos, sons de espadadas, flechadas e uma trilha sonora mais moderna, um pouco deslocada da época em que o jogo se passa.
Além dos fliperamas, Knights of The Round também deu as caras no Super Nes em uma versão praticamente idêntica. Preciso também esclarecer que este não é o único jogo do Rei Arthur disponível para videogames. O mesmo Super Nintendo ganhou um jogo de estratégia chamado King Arthur’s World, mais ou menos no estilo Lemmings (lembra dele?) e um péssimo RPG chamado King Arthur & the Knights of Justice. O computador também foi agraciado com um adventure chamado Arthur: The Quest for Excalibur de 1989.
Destes jogos, pode ter certeza que o melhor é mesmo Knights of The Round da Capcom, mesmo que não seja tão fiel às lendas que conhecemos e gostamos. Diversão garantida à moda antiga.