Se você, delfonauta dedicado, meu companheiro de tantos momentos felizes, divertidos e empolgantes, já ouviu falar de Santuário, com certeza foi relacionando-o, de alguma forma, a Avatar.
A produção-executiva é do tremendão James Cameron e o próprio alardeou aos quatro ventos na mídia liberal que Santuário tinha efeitos 3D melhores do que a sua bilionária versão de Pocahontas na Terra dos Smurfs. Quando li isso, tomei fôlego, pensei com todas as forças e exclamei: “que puxa”.
E a sinopse também é legal, pois aqui acompanhamos um grupo de pessoas que faz mergulhos em cavernas. Se espeleologia, por si só, já é legal pra burro, e mergulho idem, a junção das duas coisas deve ser mais mágico do que fazer uma orgia em cima de uma cama composta de unicórnios nenês brutalmente assassinados. Claro, algo vai dar errado, e daí começa a luta pela sobrevivência e para escapar dali.
Pensou em Abismo do Medo? Pois é, é quase igual, mas é bem pior. Para começar, os personagens: nenhum deles apresenta nenhuma novidade. Temos o experiente arrogante, a iniciante medrosa, o relutante habilidoso e tantos outros que você já viu em quase todos os filmes do gênero. Mas fica pior, pois o roteiro é simplesmente um lixo.
Tem um monte de mortes aqui, mas tirando as duas últimas, nenhuma delas faz sentido. Em uma delas, por exemplo, o sujeito simplesmente começa a tossir e apresunta logo em seguida. Eles até tentam explicar falando algo como “doença da descompressão”, mas não explicam o que é isso. Talvez para mergulhadores faça sentido, tal qual o câmbio fantasma do trem de Incontrolável, mas assim como no filme de Tony Scott, isso não é senso comum e, portanto, deveria ter sido explicado.
Mas esse é só um exemplo dessas mortes crassas. Eu poderia abordar uma por uma, mas tenho certeza que o delfonauta que se aventurar a ver isto, vai soltar tantos “WTF” quanto eu. A maioria delas é problema de roteiro, mas tem uma (a do cabelo preso) que, se filmada de outra forma, poderia fazer sentido, mas da forma que está, está tão ridícula quanto as outras.
E já que falamos da direção, abordemos o visual e o 3D. E Avatar só era legal porque nos apresentava a um mundo novo, de visual excepcional e com o melhor uso de 3D existente até então. E foi legal, apesar do roteiro fraco, por ser o primeiro a usar a terceira dimensão de forma tão boa.
Futuros filmes que seguissem esse caminho teriam que aliar um 3D tremendão a uma história igualmente tremendona, não apenas ter uma profundidade visual legalzuda. Santuário não tem nem um nem outro. Mesmo que o 3D fosse melhor que o de Avatar (não é), para ser legal precisaria de um bom roteiro (o que não tem).
O problema aqui é que nosso amigo, o diretor Alister Grierson, de fato não é um James Cameron. No início, até que o 3D impressiona, mas depois, quando eles entram nas cavernas onde se passa todo o resto do filme, o diretor opta por planos fechadíssimos, onde mal podemos ver o cenário. Possivelmente ele filmou desse jeito para passar uma sensação claustrofóbica, o que é uma decisão legítima, mas o problema é que isso simplesmente aniquilou qualquer efeito 3D que poderia haver ali. Afinal, o filme é quase inteiro feito de close-ups e cenários escuros e praticamente inexistentes.
É mesmo uma pena, pois Santuário poderia ser um filme legal. Infelizmente, entre assisti-lo em 2D ou em 3D, escolha assistir Abismo do Medo mais uma vez. Esse sim é bom de verdade, e claustrofóbico como poucos.