J.J. Abrams é mesmo um sujeito cheio de surpresas. E não é que enquanto ele dirigia o novo Star Wars, ele também produzia em segredo Rua Cloverfield, 10, soltando seu trailer poucos meses antes de seu lançamento? Claro, pela presença da palavra cloverfield no título, todo mundo imediatamente ficou imaginando se teria alguma relação com Cloverfield: Monstro.
Seria uma sequência? Um prequel? Ou uma história independente passada no mesmo universo? Enfim, qual a relação entre as duas produções, se é que há mesmo de fato alguma? Bem, tentar antecipar isso é uma das graças do filme, portanto não cabe revelar aqui.
Seja como for, sai o estilo found footage da produção de 2008 em prol de uma estética de filmagem tradicional. Sai também o climão de passeio em brinquedo dos parques da Disney da produção anterior dando lugar a um suspense passado quase em sua totalidade em um único ambiente.
Michelle (Mary Elizabeth Winstead, com um cabelo estilo Ramona Flowers) sofre um acidente e acorda no bunker subterrâneo de Howard (John Goodman, excelente), que a havia resgatado, bem como dado guarida também a Emmett (John Gallagher Jr.). Ele diz que eles não podem sair de lá, pois houve algum tipo de ataque e o ar lá fora está radioativo.
Essa dúvida do que teria acontecido, se é que de fato aconteceu mesmo algo, é o que move toda a trama. Além do mistério das reais intenções do suspeito Howard. Graças à interpretação sinistra de John Goodman, fica sempre a dúvida se ele é só um daqueles sujeitos excêntricos preparados para o apocalipse ou se ele é um doido varrido perigoso.
Deixando todo o gimmick da estratégia de marketing de lado, que é o que de fato chamou a atenção de todo mundo, temos aqui um suspense mediano, absolutamente nada de mais. Brincando com a paranoia e a claustrofobia de um espaço fechado, além da dúvida do que há lá em cima.
Funciona em vários momentos, mas não é nada particularmente marcante. Um filme nada, no máximo, muito impulsionado pela já referida campanha de marketing. Mas visto apenas como cinema puro e simples, faltou um pouco mais de energia, visto que não é uma história particularmente nova, e nem mesmo muito empolgante.
O terceiro ato, que sana algumas questões, é particularmente exagerado, embora pareça totalmente proposital, inclusive pelas atitudes dos personagens. Pena que quando essa bem-vinda virada na narrativa chega, ele se resolve bem rápido, de forma igualmente estapafúrdia, e o filme acaba.
Eu me diverti muito mais com Cloverfield: Monstro e seu climão descompromissado de “desligue o cérebro e seja feliz” do que com a pegada mais séria de thriller deste aqui. No fim das contas, Rua Cloverfield, 10 é assistível, mas não é nenhuma maravilha. É mais um caso onde o poder da propaganda é muito superior ao próprio produto final. Mas que J.J. Abrams sabe usar de surpresas para capitalizar, isso não dá para negar.