Já falei um monte de vezes aqui como, no final dos anos 90 e início dos 2000, parei de jogar videogame. Com isso, tem um monte de clássicos, como Resident Evil, que só fui saborear pela primeira vez muito depois do lançamento. Beyond Good & Evil, o assunto de hoje, fazia parte desta lista. Porém, eu já tinha tentado jogar antes.

Em algum momento do meu passado distante, Beyond Good & Evil HD foi dado “de graça” em um dos serviços de assinatura, e eu tentei jogar. Porém, não tive saco. Na época, gostava de jogos mais diretos e intensos, como UnchartedBeyond Good & Evil tinha, para mim, muita falação e pouca ação. Dropei forte, e só fui voltar agora. Mais velho, mais maduro e com mais paciência. Mas também em um cenário em que a indústria de games está totalmente hostil ao jogador, com RPGS de mundo aberto intermináveis ou jogos de serviço que ficam tentando vender coisas o tempo todo. Ou os dois ao mesmo tempo.

Hoje, Beyond Good & Evil parece simples e até pitoresco. Não tem estatísticas, loot, equipamentos para gerenciar. É só uma aventura. E eu ultimamente adoro aventuras. É possível ter saudade do que não vivemos? Porque ao jogar este game em 2024, fico com saudade de uma época em que jogos como ele eram enrolados demais para mim, e a coisa foi tão forte para o outro lado que hoje este é um jogo simples e agradável.

BEYOND GOOD & EVIL 20TH ANNIVERSARY EDITION

Beyond Good & Evil, Beyond Good and Evil, Ubisoft, Delfos

Temos aqui uma história acima de tudo. E não, a história não é muito marcante. Tem uma galera malvada e uma turma de rebeldes que quer impedir mais malvadezas. Você controla Jade, uma moça com a missão de se infiltrar nas bases inimigas e tirar fotos provando as maldades.

Como era comum na época que saiu, a história não era especialmente criativa, mas dava um contexto para a aventura. Por ser uma mídia interativa, jogar Beyond Good & Evil é muito mais legal do que seria simplesmente assistir a esta história em um desenho animado.

Assim, não tem um monte de ação desenfreada. Tem porrada, tem stealth e tem um monte de partes em que as mecânicas são usadas apenas naquele trecho. Por exemplo, tem um elevador que sobe sozinho e você precisa ficar se escondendo dos inimigos que passam ao redor. Beyond Good & Evil é cheio de boas ideias e cenas bacanas como esta. Afinal, estamos falando da Ubisoft que tinha RaymanPrince of Persia e um monte de outros jogos legais e diferentes. Era de fato uma época de ouro para a criatividade e variedade, considerando que hoje “jogo estilo Ubisoft” é um gênero muito específico e representa quase tudo que se vê hoje em dia em games de alto orçamento.

BEYOND GOOD AND ZELDA

Beyond Good & Evil, Beyond Good and Evil, Ubisoft, Delfos

O fato é que Beyond Good & Evil é quase um Zelda-Like. E Zelda talvez seja a franquia mais típica que eu ignorei minha vida toda por ser muito complicada para mim e hoje adoro. Porém, aqui temos uma variação ainda maior. Tem até uma cena – e apenas uma – que envolve combate entre espaçonaves. Provavelmente em 2003 acharia que o jogo atirava para todos os lugares, mas hoje adoro essa variação. E especialmente o fato que as doze horas que passei com ele passei de fato jogando, não comparando estatísticas em menus.

O jogo alterna fases lineares com um hub semelhante a um mundo aberto. Porém, ele nunca exagera. Se você pega games com essa proposta, como Stellar BladeGod of War Ragnarok ou Final Fantasy VII Rebirth, fica até difícil dizer que temos aqui um mundo aberto.

A verdade é que tem uma área para limpar, cujo acesso vai aumentando conforme você avança na história e desbloqueia habilidades. Mas cada uma dessas partes para limpar é uma pequena fase propriamente dita. Assim, não tem aquela pentelhação de cavalgar por cinco minutos numa direção para catar uma peninha. Você pega o equivalente a peninhas (pérolas, por exemplo), mas elas são recompensas pela exploração e por vencer desafios curados, não apenas por ir até determinado ponto de um mapa maior do que São Paulo.

A DIFICULDADE É UM SINAL DA ÉPOCA

Beyond Good & Evil, Beyond Good and Evil, Ubisoft, Delfos

Outra coisa que me chamou a atenção é a dificuldade. Ou melhor, a ausência dela. Beyond Good & Evil não traz opções, é a mesma dificuldade para todo mundo. Mas ao contrário de quase todos os jogos sem opções que saíram nos últimos 10 anos, ele é MUITO FÁCIL! Eu simplesmente não consigo imaginar um jogo lançado em 2024 tunado desta forma, em que você passa por ele inteiro praticamente sem morrer – sem ser obrigado a jogar no modo “criancinha indefesa” para isso.

Isso me leva a falar das melhorias acrescentadas nesta Anniversary Edition de Beyond Good & Evil. Talvez a melhor delas seja o autosave frequente. Sempre que você muda de tela ou avança num desafio, o jogo salva. Há um único slot de save manual, mas se você não quiser, nem precisa usar, porque os autosaves são bem confiáveis. Uma coisa essencial para jogar videogame depois de adulto é poder parar a qualquer momento sem perder progresso, e neste aspecto esta Anniversary Edition é sensacional.

A ANNIVERSARY EDITION DE BEYOND GOOD & EVIL

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Este para mim é o principal benefício da modernidade neste relançamento, mas ele também traz outras mordomias. Nos consoles mais fortes, ele promete 4K/60 fps. Curiosamente, tem opção de performance e resolução. Vou deixar quem tem equipamentos para medir isso dar a palavra final, mas parece rodar a 60 fps mesmo no modo resolução. E, ao contrário do que podemos esperar de um jogo antigo, o modo performance não ativa os modo 120 Hz no PS5. Apostaria que a diferença entre os modos é o que cede primeiro quando a ação fica mais caótica. Sim, jogando no modo resolução, eu percebi algumas quedas da taxa de quadros.

Ele também tem alguns colecionáveis extras, que contam uma pequena história sobre a infância de Jade e que a Ubisoft promete que liga este game com Beyond Good & Evil 2. Isso demonstra que a Ubisoft ainda não desistiu dele, mesmo sendo o jogo com maior tempo de produção da história.

Sinceramente, não sei nem se quero que uma continuação saia hoje em dia. Embora a história termine num ponto que claramente desejava novos jogos, a Ubisoft e o mercado de games não são mais os mesmos hoje. Alguém realmente quer ver um Beyond Good & Evil 2 que seja um RPG de mundo aberto pedindo dinheiro o tempo todo? Hoje em dia nem Zelda é mais um Zelda-Like, mas um RPG de mundo aberto. Existe possibilidade de Beyond Good and Evil 2 sair e ser diferente disso? Poxa, espero que sim, mas não aposto minhas tartarugas nesta corrida. O tempo dirá. Talvez o jogo demore tanto para sair que o mundo dos games sofra outra mudança de paradigma. O tempo dirá.