Avatar Frontiers of Pandora é o último jogo de grande orçamento lançado em 2023. Seu lançamento, em 7 de dezembro, rolou sem grande alarde e fora do período nobre, o que é curioso para algo neste nível. Porém, se a Ubisoft vem dando excelentes passos rumo ao passado, com jogos como The Crew Motorfest e Assassin’s Creed Mirage, Avatar Frontiers of Pandora é o game mais Ubisoft já Ubisoftado. Pois é, o que temos aqui é praticamente um James Cameron’s Breakpoint.
ANÁLISE AVATAR FRONTIERS OF PANDORA REVIEW SEO FTW FUCK GOOGLE
Avatar Frontiers of Pandora é um jogo lindo. Talvez o mais lindo que já joguei. Porém, devo fazer um adendo que joguei com uma TV nova, que deixa as imagens muito mais coloridas do que minha LG Oled totalmente lavada e cheia de burn-in. Então minha opinião pode estar contaminada, mas as cores do jogo estão entre as mais lindas que já vi na minha sala.
Na parte da imagem acima, por exemplo, seu objetivo é montar no bichinho e seguir as pipas. O caminho é claramente criado para arrancar exclamações. Sem combate, com cores vivas e um monte de áreas instagramáveis. Foi de longe a melhor parte do jogo para mim, e boa o suficiente para quase compensar todo o resto.
UBISOFT’S JAMES CAMERON’S AVATAR
Avatar Frontiers of Pandora é um jogo totalmente focado no seu visual. Pandora é um lugar lindo, o que já era claro nos filmes. E poder explorar tudo, interagir com a flora e a fauna e tudo mais é impressionante. À noite, as plantas brilham em tonalidades rosas, e reagem aos seus movimentos. Visualmente Frontiers of Pandora é perfeito e eu provavelmente teria jogado até o fim só por causa disso. Se ele tivesse me deixado. Elaboro mais isso em breve.
Acontece que o jogo em si é de sobrevivência. Você precisa ficar a toda hora cozinhando, pegando plantas, inventando receitas, etc. Mesmo sendo light (você não morre de fome, por exemplo), não é um gameplay que me agrada. E também não é ignorável. Na verdade, mesmo na dificuldade mais baixa, você precisa interagir com boa parte de suas mecânicas.
FAR CRY, CRYSIS OU HORIZON?
Muita gente vem comparando Avatar Frontiers of Pandora com Far Cry e ele tem sim algumas relações. Outros dizem que suas missões mais abertas lembram Crysis. Para mim, o combate mais “pré-histórico”, a parte de sobrevivência e o fato de ser uma enorme pia de tempo o colocam em algum ponto entre Horizon Forbidden West e Tears of the Kingdom.
A verdade é que Avatar Frontiers of Pandora pega um pouco de todos estes, mas não faz nada melhor – a não ser, potencialmente, os gráficos. Como tem se tornado padrão em jogos da Ubisoft, você pode escolher missões guiadas ou exploratórias. Supostamente, escolher as guiadas coloca waypoints nos caminhos. Infelizmente, o que acontece é que os waypoints aparecem apenas no objetivo final.
Muitas vezes, para chegar lá, você precisa passar por cavernas ou seguir caminhos de escalação muito específicos que o jogo não te mostra. Ou seja, mesmo quem não quer perder tempo, como eu, não pode jogar como um mundo aberto tradicional. Por que colocar a opção no menu então?
COISAS QUE AVATAR FRONTIERS OF PANDORA NÃO TE CONTA
Este é um problema grave que tive com o jogo. Ele carece fortemente de tutoriais. Muitas vezes você é simplesmente jogado em uma área sem saber o que fazer ou com que interagir. As bases, por exemplo, que são algo arrancado diretamente de Far Cry. Eu entrei em uma base e matei todo mundo. Quando não tinha mais ninguém, apareceu o texto “reforços a caminho”. Suponho que, como em Far Cry, tem alguma forma de “cancelar” o pedido de ajuda dos inimigos, mas o jogo não diz como, e eu não descobri. Tenho que destruir algo? Matar um NPC específico? Não sei, e como a contagem só apareceu quando não tinha mais inimigos, eu fiquei parado esperando os meliantes chegarem. Não foi legal. E isso aconteceu em todas as bases que invadi.
Em várias outras, o waypoint que deveria me guiar, simplesmente fala “dentro da área do quest“, e eu fico sem saber como avançar. Limitado a usar minha “visão detetive” procurando alguma coisa que brilha e torcendo para ser a que me permite continuar a história. É o tipo de coisa que eu simplesmente não tenho paciência, especialmente em um jogo de mundo aberto tão grande quanto este. Mas o principal motivo que me fez desistir foi outro.
POR QUE DESISTI DE AVATAR FRONTIERS OF PANDORA
Apesar de não curtir o gameplay, o mundo é tão bonito que eu continuava jogando. E joguei por mais de 20 horas. Porém, como é tradicional em RPGs, as missões vão constantemente subindo de nível, aumentando a vida e dano dos inimigos e diminuindo os seus. Ao contrário do tradicional em RPGs, você não sobe de nível via XP, mas com equipamentos. Tipo Destiny e quase todo outro jogo de serviço, sabe?
Mas também ao contrário desses jogos, você não é constantemente bombardeado com armas e roupas de raridade variada. Você precisa comprá-las a um altíssimo preço, ou então criá-las artesanalmente usando materiais raríssimos. Só que não tem como vender ou destruir seu equipamento velho, então qualquer recurso investido em algo tem prazo de validade e você precisa pegar mais quando chegar a hora de trocar.
O RESULTADO É DESENCORAJADOR
Assim, você pode fazer dezenas de sidequests e missões de história sem subir de nível. Para ter novo equipamento, é necessário ficar pegando plantinhas, matando bichinhos inocentes e abrindo baús torcendo para vir alguma das dezenas de moedas que os vendedores aceitam (cada vendedor aceita uma moeda diferente, o que deixa tudo ainda mais confuso). Logo, sua tela de equipamentos vai ficar assim.
Se você conseguir manter tudo equipado sem pontos de exclamação, estaria no nível recomendado para a missão atual. Mas eu não consegui isso. Cheguei a um ponto em que a missão era nível 12 e eu estava no 10, cheio de armas que não faziam mais dano quase nenhum nos NPCs. Tentei fazer sidequests, pegar plantinhas, criar roupas e armas novas, tudo sem sucesso. Não consegui trocar equipamentos suficientes para fazer o nível subir. E a missão de história em que estava se tornou não-vencível, mesmo mudando para a menor dificuldade disponível.
MUNDO ABERTO É TER OPÇÕES, NÃO TIRÁ-LAS
Já seria chato que o jogo obrigasse você a fazer sidequests para avançar a história. Um jogo de mundo aberto, por definição, deve deixar você seguir a história e não fazer nada opcional, ou fazer quando quiser. Mas neste caso não basta fazer missões, você precisa constantemente interagir com as mecânicas de sobrevivência para ter alguma chance de vencer os inimigos com vidas cada vez mais infladas.
Através de muito esforço, eu consegui subir meu nível para o 10 quando estava em uma missão nível 9. Achei que estava seguro por algum tempo, mas literalmente a próxima missão foi para nível 12. O jogo simplesmente me bloqueou de continuar sua história. E eu até tentei fazer, correndo para os objetivos e fugindo dos inimigos, mas eles me matavam quase instantaneamente, e eu não tinha opções de defesa além de fugir, pois minhas armas não faziam dano.
O que me deixa especialmente triste é que eu gostei do mundo. E tudo que não envolve combate ou crafting é legal. Caramba, quando você está no nível certo, até o combate pode ser legal. Mas ficar correndo atrás de um nível que não para de aumentar não é agradável. Stealth não funcionava pois era muito fraco e qualquer inimigo padrão engolia vários pentes da minha metralhadora enquanto eu morria com três tiros.
A PRAGA DOS JOGOS DE SERVIÇO
Um RPG mais habilidoso resolve este gatekeeping de níveis com opções de dificuldade ou alternativas de gameplay. Mas Avatar Frontiers of Pandora te coloca cada vez mais em um funil. Aliás, não é justo dizer que o que falta aqui é habilidade. O problema é que Avatar Frontiers of Pandora não está interessado em te vender o jogo, mas em vender itens para o jogo. Sabe os itens de crafting que permitem que você faça novos equipamentos, ou os equipamentos em si? Eles são vendidos com dinheiro real. E não tem como falar bem de um produto que custa 500 reais e que pede dinheiro extra para poder ser usufruído de forma básica. Tipo, literalmente avançar na sua campanha.
Sim, quase tudo que a loja vende no momento é cosmético. QUASE. Há, sim, algumas armas e equipamentos. Mas acredito que isso vai mudar bastante nas próximas semanas, quando todos os reviews forem publicados. Afinal, se esta não é a intenção, porque tunar a dificuldade desta forma, a ponto de ser impossível avançar sem pagar?
QUE ESTE FUTURO SEJA O PASSADO LOGO
É um caminho do qual achei que a Ubisoft estava se afastando. The Crew Motorfest e Assassin’s Creed Mirage têm monetização a rodo, o que é péssimo. Mas a campanha de ambos é excelente e perfeitamente jogável pelo preço de entrada. A de Avatar Frontiers of Pandora não é. Objetivos gostosos, como seguir as pipas ou seu primeiro voo são uma delícia, mas estão lá para te convencer a pagar na esperança de ter outros desses no futuro. Daí não dá, meu amigo.
Avatar Frontiers of Pandora é uma coisa ofensivamente capitalista, o que contradiz a própria mensagem do filme. Uma coisa é falar de sinceridade na mensagem – afinal, os filmes são os que mais faturaram na história, o James Cameron é um campeão do capitalismo. Mas um jogo que existe só para vender itens de crafting não dá para recomendar. Sinto falta da época em que a pior coisa que existia nos games eram os DLCs. Hoje, algo como a Liga Delfiana Anti-DLC parece até pitoresca. Mas, ei, talvez o excesso de capitalismo em Frontiers of Pandora seja o motivo pelo qual o jogo foi lançado sem grande alarde. Talvez a Ubisoft veja que o caminho para o futuro, mesmo numa sociedade capitalista, é vender jogos, não itens de customização.