Hoje em dia é raro vermos bons jogos licenciados, mas lá na época dos 16 bit, eles eram alguns dos melhores. Especialmente os baseados em obras da Disney. Cada novo filme da época virava um jogo super legal, como Aladdin e O Rei Leão. Isso sem falar em jogos baseados em personagens da Disney, mas não em filmes específicos. Como esquecer de Castle of Illusion, provavelmente o jogo do Mickey mais famoso e querido de todos os tempos? Quackshot, estrelado pelo Pato Donald, não fez tanto sucesso, mas marcou bastante a minha vida. Esta é minha história com ele.
QUACKSHOT
Quackshot foi lançado no final de 1991. Eu o aluguei pouco depois disso. Na época, a gente alugava os jogos antes de comprar. Eram tipo demos pré-históricos. O jogo começa dando a opção de escolher entre três fases: Patópolis (Duckburg), México e Transilvânia. Achei que ele funcionaria como o Castle of Illusion de Master System, em que você podia fazer as fases em qualquer ordem (o de Mega Drive tinha uma progressão linear). Mas Quackshot era bem mais complexo do que isso.
Como um proto-metroidvania, sua progressão era limitada por upgrades, e era necessário passar algumas vezes pela mesma fase. Nesta parte inicial, por exemplo, o caminho mais curto era México – Patópolis – México – Patópolis – Transilvânia. Jogando hoje, isso não é um problema. Mas na época eu era uma outra versão de Corrales, mais baixinha, mais inocente e mais impaciente.
Duas coisas impediam o progresso do meu Pato Donald. Eu ainda não falava inglês. E, assim como o pato que protagonizava o jogo, eu era extremamente impaciente. Toda vez que um game era interrompido por textos, cutscenes ou algo assim, eu ficava apertando os botões para voltar ao gameplay.
A PRINCESA ESTÁ EM OUTRO CASTELO
Assim, eu joguei em Patópolis e chegava a um ponto em que um explorador falava que eu precisava de algo para escalar paredes. Mas eu não lia isso e, mesmo que lesse, não entenderia, já que não era versado no idioma de Trump. Ao invés disso, eu via meu progresso bruscamente interrompido, e não tinha ideia do que fazer. E isso faz parte do design do jogo.
Eu devolvi a fita na locadora frustrado, sem conseguir progredir no jogo. Achei até que ele estava com defeito.
Naquela época existiam revistas de videogame como a Ação Games. Era um troço de papel comprado em bancas que trazia reviews e dicas para jogos. Eventualmente, uma delas publicou um guia para Quackshot. Só aí eu fui entender que estava jogando errado.
Quando tive acesso ao jogo novamente, segui o guia. Agora consegui chegar ao final sem problemas, e me diverti muito no processo. Finalmente Quackshot se revelou um jogo tão legal quanto Castle of Illusion. Eu só precisava da paciência para aprender a jogá-lo.
QUACK-2019
Fast forward para 2019. Agora eu já sou um Corrales com cabelos grisalhos e uma barba digna de um guerreiro viking. E eu falo inglês, o que talvez tenha sido o maior level up que eu dei na vida.
Eu venho buscando oportunidades de jogar novamente games que marcaram a minha infância ou que eu de alguma forma perdi quando eram novos. Esta semana eu joguei Quackshot. Obviamente, já tinha esquecido totalmente a ordem das fases.
Mas daí entra o meu superpoder de falar inglês. Isso torna Quackshot bem mais user friendly do que, por exemplo, Super Metroid. Afinal, quando você encontra o Pateta no México, e ele fala que o Professor Pardal está te procurando em Patópolis, fica claro que sua próxima parada deve ser Patópolis.
Assim, mesmo sem ter lembranças da ordem que as fases deveriam ser feitas, ou de onde conseguir cada item e upgrade, eu fiz toda a campanha de Quackshot sem nenhuma dificuldade.
Foi uma sensação estranha. Um jogo que, na minha infância, era complexo e assustador, na minha idade avançada foi extremamente simples. Nem por isso foi menos prazeroso, no entanto. Foi muito legal jogar novamente Quackshot, e ajudar o Pato Donald a encontrar um presente para a Margarida.
Você tem alguma historinha com coisas antigas? Os comentários estão aí pra você me contar. E sinta-se à vontade para fazer sugestões de outros assuntos para abordarmos nesta nova sub-sub-seção chamada RetroDELFOS.