Remnant II é a continuação de Remnant From the Ashes, aquele soulslike feito pela Gunfire Games. Se você não se lembra, a Gunfire Games é o estúdio formado das cinzas da Vigil Games, desenvolvedora de Darksiders e Darksiders II. Inclusive, essa galera, já sob o nome Gunfire Games, desenvolveu o também soulslike Darksiders III.
Aparentemente, Remnant From the Ashes deu muito certo, pois ganhou uma continuação e colocou a série Darksiders no congelador. Talvez você se lembre do meu glorioso artigo de impressões feito na época do lançamento, aclamado nos comentários como “uma” review vergonhosa (mesmo não sendo um review). Mas a verdade é que não gostei de Remnant From the Ashes e fiquei sinceramente surpreso com ele ganhar uma continuação. Será que agora vai? Vejamos.
REMNANT II E O ARTIGO DE IMPRESSÕES QUE NÃO É UM REVIEW
Se você jogou Remnant From the Ashes deve se lembrar que o jogo é um soulslike cujo principal diferencial é o uso de armas de fogo. Se bem me lembro, a munição era bem limitada, a ponto de que era sempre preferível usar o combate corpo a corpo. Nesta continuação, a munição ainda é relativamente limitada, mas o corpo a corpo foi nerfado a ponto de não ser mais viável, pelo menos não para a maior parte dos inimigos. Então podemos classificar Remnant II como um TPS soulslike.
Ele usa muitas coisas do gênero, como as fogueiras, os mundos com vários caminhos e as portas de fumaça antes de chefes. Porém, abre mão de algumas características pentelhas, como perder XP quando morre. Acredite, tem até opção de dificuldade, veja só. Porém, a dificuldade mais fácil é difícil como Satanás e só fica pior a partir dela. Inclusive o jogo veio com um review guide dizendo para não começar nas dificuldades maiores, pois elas são muito mais desafiadoras do que o que tradicionalmente vemos no gênero.
SOULSLIKE SEM LEVEL DESIGN
A coisa mais marcante de um soulslike, para mim, é o level design. Eu simplesmente amo a exploração nos bons jogos do gênero. Em geral os mundos são bonitos, cheios de detalhes e com caminhos gostosos de explorar. Remnant II é o oposto disso. O jogo é totalmente cinza e as fases, acredite, são procedurais. Aparentemente, não são só as fases que são procedurais, mas mesmo a história. Ou seja, tudo que pode tornar um videogame uma obra genial da mente humana, a Gunfire Games resolveu deixar para os caprichos da aleatoriedade.
Isso faz com que os cenários de Remnant II tenham vários caminhos para explorar, sim. Porém, ou são dois ou mais caminhos que se encontram do outro lado, ou simplesmente levam para um beco sem saída, sem nada especial para pegar ou ver. Já vi jogos procedurais com exploração bacana, mas este é realmente bem primário. Além disso…
CADÊ PAUSA PRA RESPIRO?
Remnant II é um game feito para ser jogado online, em grupos de até três pessoas. E já havia dito no meu artigo anterior, que exploração não combina muito com coop. Não é à toa que boa parte dos jogos PVE envolve uma sequência de arenas. Pois Remnant II tenta seguir os dois caminhos. As fases são abertas o suficiente para você ter que procurar para onde ir, mas os inimigos simplesmente não param de vir.
A ação de Remnant II lembra World War Z. Sempre tem monstros te atacando. Em uma tela chamada Faithless Thicket, mostrada na imagem acima, quase todos os inimigos eram umas bolinhas que faziam dano por contato. E elas vinham nas dezenas. Treinado por beat’em ups antigos, eu gosto de vencer os inimigos, e depois explorar. Remnant II nega isso, porque momentos de respiro são raríssimos.
É até engraçado que o herói tem comentários quando o combate começa e termina, mas a pausa entre as arenas é tão pequena, quando há, que ele ou ela faz o comentário de fim e de começo quase seguidos. E com dezenas de inimigos rolando para te derrubar, era simplesmente impossível matar todo mundo. Depois de morrer várias vezes, eu resolvi passar correndo procurando pela saída, pois vi que não adiantava lutar. E não é assim que é gostoso jogar um game de ação.
O JOGO MAIS CINZA JÁ FEITO
Dark Souls é difícil e pentelho. Mas é também um espetáculo visual, com um dos designs mais bonitos e intrigantes dos games. Remnant II provavelmente teve seus cenários desenhados por pessoas, mas se você me disser que é trabalho de uma IA, olha, eu acredito. O anterior já pecava pelo excesso de esgotos. Aqui até onde joguei não apareceram esgotos, mas as florestas e templos por onde passei são monocromáticos e pouco detalhados. E isso rodando o jogo a 4K com tudo no máximo.
Pelo menos a performance é relativamente boa. Numa RTX 3070, coloquei tudo no máximo a 4K, e ativando o DLSS ultra performance conseguia tirar FPS entre 40 e 60. Só em frente aos portais do labirinto (a fase da imagem acima), a coisa caía consideravelmente, chegando abaixo de 10 FPS. É compreensível, já que os portais, como em Ratchet & Clank Rift Apart, mostram outro lugar para onde você pode ir imediatamente ao atravessá-los. Mas Rift Apart mostrou que é possível fazer isso sem grandes quedas de taxa de quadros, o que a Gunfire Games não conseguiu.
REMNANT II E A DESCIDA DO PAU
Pode parecer que estou descendo o pau injustamente no jogo. Especialmente porque, se você pegar para jogar, provavelmente terá uma primeira impressão positiva. Eu pelo menos tive. O problema é que Remnant II começa relativamente bem, mas piora consideravelmente a cada hora de jogo. Depois de ter acumulado 10 horas na minha campanha, eu simplesmente não aguentava mais jogar. E caramba, tem games maravilhosos que duram consideravelmente menos do que isso. Eles simplesmente são um uso melhor do meu tempo.
Talvez se você tiver um grupo de amigos para fazer a campanha em cooperativo (apenas online, nada de sofá), e todos tiverem uma tolerância sobrehumana a dificuldades extremas, pode haver alguma diversão aqui. Eu certamente me diverti nas primeiras telas. Se há um jogo que define a expressão “gastou as boas-vindas”, Remnant II certamente é ele. E vou dizer, dessa vez eu realmente estava no clima para jogar um soulslike. Mas um bom soulslike, o que Remnant II não é.