Se tem uma coisa que os eSports nos mostraram nesses últimos anos é como um conceito novo pode ser, ao mesmo tempo, grande e pequeno. Para quem acompanha o cenário, seja em nível nacional ou mundial, fica claro que os campeonatos conseguem ser grandiosos como os de esportes consagrados, ainda que às vezes não na mesma escala. Até porque, para quem nunca ouviu falar de nada a respeito, é um tanto “wtf” ver que a final de um joguinho vai acontecer em um estádio de futebol – como ocorreu com a final do CBLOL 2015. E a pergunta que não quer calar é justamente a que eu fiz na chamada de capa: épossível falar em crescimento quando algo já está gigante?
ORA, POR QUE NÃO?
Semana passada tivemos duas grandes notícias envolvendo eSports, uma lá na Europa e outra bem aqui, nesse Brasil varonil. A primeira é que o Schalke 04, clube de futebol alemão, agora tem uma equipe profissional de League of Legends, e a segunda é que a Red Canids, clube de eSports nacional, agora conta também com uma equipe de Smite.
Pausa. O delfonauta ali do fundão se confundiu. Sem problemas, para você que só viu um bololô de nomes bizarros, eu traduzo: um time europeu tradicionalíssimo de futebol deu a sua primeira grande investida na área dos esportes eletrônicos, e uma das grandes equipes brasileiras nascidas do eSport anunciou uma line-up do game mais promissor do seu gênero.
Um time de futebol investir em eSports não é algo necessariamente novo, e aqui no Brasil o Santos F.C. já fez isso ao fechar uma parceria com a Dexterity, em 2015. Mas o ponto principal nessa notícia é ver que, nesse ponto de transição, cada vez mais cresce a consciência de que esportes eletrônicos podem gerar tantos louros quanto os esportes tradicionais – um reconhecimento que, apesar do que parece, não se limita a vê-los apenas como fonte de dinheiro, mas sim serve para equipará-los.
Não é preciso ser nenhum gênio para ver que o investimento feito por equipes de futebol em outras equipes de eSports não tem um viés de lucro imediato, mas muito mais pensando no futuro. É reconhecer que, em breve, o cenário competitivo de games como CS:GO terá tanto apelo popular quanto campeonatos como a Libertadores da América ou a Champions League, e que começar agora pode ser a chance de já estar na frente quando esse “em breve” chegar. É ver que ambos são muitos mais próximos do que podem parecer, e que com o tempo essa distância ficará ainda menor.
Mas isso é fácil de aceitar. O que deve estar incomodando mesmo o delfonauta ali do fundo é onde diabos se encaixa o novo line-up da Red Canids nessa história toda. Afinal, por que ter um time de Smite seria algo bom? Bem, porque Smite é o jogo com maior potencial de crescimento e popularização de MOBAs e, por tabela, dos eSports como um todo.
SMITE, O INESPERADO CATALISADOR
Eu já conhecia o Smite de outras histórias, como quando o Detonator fez campanha para dublar um personagem do jogo. No entanto, eu comecei a colocar fé de verdade no game após ver um episódio do meu canal favorito no Youtube, o legalzudo The Game Theorists. Não vou te forçar a ver o episódio em questão, mas vou colocá-lo aqui embaixo por questões de equilíbrio visual – só ter texto dá uma cansada, não?
O ponto principal defendido no vídeo é que o Smite derruba as principais barreiras que os MOBAs possuem e se torna o jogo mais acessível do gênero para a grande massa. Ao se basear em deuses de diversas mitologias, como Afrodite e Thor, e utilizar uma perspectiva em terceira pessoa que privilegia uma experiência de maior ação – mais comum em jogos do que a visão isométrica tradicional de MOBAs -, Smite faz com que o gênero acabe sendo mais palatável a quem não está acostumado.
Além disso, a principal conquista do game é justamente ter sido o primeiro MOBA a conseguir versões para consoles, saindo do universo um tanto restrito de PC gamers e desenvolvendo o potencial de alcance que nenhum outro MOBA possui. Isso não só torna o game materialmente mais acessível como também permite que se desenvolva uma maior ligação entre você, que assiste partidas, e o pro-player – o que separa vocês dois é apenas o download gratuito do jogo para o seu console, e não mais o empecilho de ter que comprar um bom PC, etc, etc.
Faz sentido, não faz? Eu já vi pessoas falando de Smite unicamente por ter popado na PSN de graça, e isso já é mais do que muitos games do cenário de eSports já alcançaram. É por isso que, mesmo com a Tencent, empresa-dona da Riot e por conseguinte do League of Legends, anunciando a produção de um console que rodará o famoso LoLzinho, eu ainda coloco minhas fichas no Smite como um possível grande catalisador para a cena.
Pois finalmente chegamos à Red Canids, e depois de ter falado isso tudo, eu não preciso dizer que ter uma line-up de Smite pode ser um dos maiores investimentos da equipe. Com isso, elas não só fortalecem os eSports como um todo, ao apoiarem mais um dentre tantos, como também já dão o primeiro passo para se estabelecer com força em um dos games que tem maior potencial de crescimento a médio/longo prazo.
E, NO FIM DAS CONTAS, O QUE É CRESCER?
O mais legal de ver um mercado incipiente como o dos eSports é justamente perceber como é difícil avaliar crescimento se mudarmos o referencial. De um modo geral, nada é tão grande quanto grandes campeonatos como a NFL ou a NBA, mas ao mesmo tempo ele pode ser grandioso ao ponto da premiação total do International, o mundial de DotA 2, já alcançar a marca de 17 milhões de obamas e ultrapassar a Libertadores da América. No fim, tudo é uma questão de perspectiva.
O ponto mais importante é que, independente da escala, a tendência é de crescimento. Desde a nova line-up de LoL do Schalke 04 até o anúncio da equipe de Smite da Red Canids, fica claro que o investimento dentro dos eSports tem sido o caminho, seja entrando na área pela primeira vez ou expandindo suas teias, e que esse mercado talvez já esteja mais estabilizado do que pode parecer. Para você que ainda tem dúvidas se o fenômeno é grande ou não, só posso dizer uma coisa: ele ainda vai ficar muito maior.