Coisas que só acontecem no Brasil: apenas dois meses depois da estreia de [REC] em nossos cinemas, já podemos conferir seu remake estadunidense, feito com um ano de diferença do original espanhol. Bem, ao menos há uma vantagem, o melhor filme de terror do ano passado ainda está fresco na minha memória e posso falar com mais propriedade sobre essa refilmagem da terra do tio Sam, agora chamada Quarentena.
Antes, no entanto, seria legal se você lesse ou relesse a resenha do Corrales sobre o [REC], porque basicamente tudo o que ele falou lá se aplica também a esse filme. Como eu concordo com quase tudo que ele escreveu, não quero copiar meu chapa homônimo. Tá com preguiça de clicar no link acima? Tudo bem vai, vou dar pelo menos a tradicional sinopse.
Uma jornalista de TV (Jennifer Carpenter, de O Exorcismo de Emily Rose, e também irmã do Dexter) e seu cameraman (Steve Harris, e não, não é o baixista do Iron Maiden) estão gravando uma matéria em um quartel do corpo de bombeiros, quando eles recebem uma chamada de uma velhinha presa em seu apartamento. A intrépida dupla acompanha os bombeiros na missão de resgate e logo, o prédio inteiro está em quarentena devido a uma misteriosa infecção que transforma as pessoas em, bem, a essa altura você já deve saber: zumbis, baby! E a partir daí, dá-lhe survival horror através das gravações do cinegrafista.
Quarentena é praticamente uma cópia carbono de [REC], feita claramente apenas porque estadunidense não consegue ver filme legendado. As cenas são as mesmas e na mesma ordem, e as pouquíssimas diferenças são sutis demais e estão lá apenas para ninguém dizer que o filme é apenas um xerox com elenco anglo-saxão.
Sendo assim, quem já assistiu a [REC] sabe exatamente o que vai encontrar, mas devo dizer que me diverti novamente, e até caí nos mesmos sustos, mesmo já sabendo o que ia acontecer.
Agora, voltemos àquelas tais pequenas diferenças. O filme acerta em mudar um pouco os diálogos do começo, no corpo de bombeiros. Agora estão em um tom bem cômico, mais leve, deixando a mudança para o terror mais brusca. Isso faz até com que essa seqüência pareça mais curta que o original (quando na realidade essa refilmagem é um tiquinho mais longa que a matriz).
Como o orçamento é maior, há também mais efeitos especiais que adicionam mais gore à trama, bem como alguns ataques de zumbis diferentes e/ou inéditos. Algo que dá uma graça a mais, mas não muda absolutamente nada na condução da narrativa.
Essas foram as mudanças boas. Agora, as más: para começar, aqui o Pablo (opa, foi mal, agora ele se chama Scott, o que é bizarro considerando que a protagonista manteve seu nome original de Ângela Vidal) mostra a cara, o que eu não achei nada bacana. Também pode ser apenas impressão minha, mas esta película me pareceu bem mais (e bem mais mesmo) tremida que a espanhola, a ponto de não deixar ver direito o que está acontecendo em certas seqüências.
E para terminar, o filme, ao querer acrescentar algumas coisinhas a mais, se rende a alguns clichês, como o cachorro que sai de trás da porta, por exemplo. Além do mais, exagera feio em uma cena específica. Basta dizer que a câmera do Scott parece ser feita de adamantium e quando for ver o filme, você vai sacar na hora do que estou falando.
No mais, por causa dessas pequenas coisinhas, o filme não levou o disputado Selo Delfiano Supremo, mas ainda assim consegue ser quase tão tremendão quanto o original, o que hoje em dia é algo raro de se acontecer com essas refilmagens. Eu, fora algumas poucas exceções, sempre prefiro indicar o original ao remake, mas para quem perdeu [REC] no cinema, e mesmo para quem o assistiu e quer repetir a dose em outro idioma, Quarentena é uma experiência praticamente idêntica.