E se o mundo não fosse acabar amanhã? E se a humanidade não estivesse sob nenhuma ameaça iminente? E se um mal terrível não estivesse por surgir? Bem, é certo dizer que seria o fim do mundo dos jogos eletrônicos como o conhecemos hoje, e que uma grande fatia das desenvolvedoras teria de ralar para criar um game interessante. No entanto, esse não é o caso da Atlus – pois seu game interessante, acobertado dos clichês do fim do mundo, já surgiu, ganhou o amor incondicional de fãs em todo o globo e está para sair uma continuação. Estou falando de Disgaea e da sua continuação, Disgaea 2: Cursed Memories!
A Sony já poderia vista como a Nave-Mãe dos RPGs da atualidade, já que desde o lançamento de seu console vem inundando o mercado com fantásticos – e exclusivos – títulos do gênero, como os da série Final Fantasy, Kingdom Hearts ou Shadow Hearts. Contudo, ainda faltava um ingrediente importante dentro do caldeirão da plataforma, e para o jogador mais tradicional, esse ingrediente era justamente o bom e velho RPG tático.
Foi em 2003 que veio a resposta da Atlus para essa carência por um bom RPG tático. Disgaea: Hour of Darkness foi a pérola que faltava na grande coleção dessa geração. E mesmo agora, nos últimos fôlegos de uma geração que está abrindo passagem para a outra, a Sony nos faz lembrar uma vez mais do porquê é considerada a Mãe dos RPGs e mostra que os seus dias ainda estão longe de estarem contados.
O queridinho dos táticos
Para quem não sabe, Disgaea (pronuncia-se Dis-Gay-Â), lançado há quase três anos pela Nippon Ichi e distribuído pela Atlus, era um misto de anime com o mesmo estilo consagrado no Final Fantasy Tatics e ficou conhecido pelos mais devotos fãs de RPG tradicional do mundo todo pela complexidade de sua mecânica (que permitia aos jogadores evoluir seus personagens indefinidamente, aplicar ataques conjuntos durante os combates de turno, criar upgrades para TODOS os itens e equipamentos existentes e até mesmo criar seus próprios companheiros de viagens através de magia negra), por seu estilo bizarro, pela história original e divertida, por seu grande senso de humor e por fim, mas não menos importante, pelos personagens cativantes de design tão marcantes (quem poderia esquecer os pingüins malignos, por exemplo?).
O primeiro Disgaea se diferenciava dos outros RPGs primeiramente por sua trama original, que fugia do estereótipo já batido do mocinho que precisa salvar o mundo de um vilão pavoroso, e nos apresentava um demônio como personagem principal, habitando um mundo demoníaco onde a maior parte de seus habitantes era composta de (você tem três chances de adivinhar!)… ahn… bem… demônios! E, ao que tudo indica, a fórmula deu certo, pois o segundo título da série está chegando no mês que vem e o clima de humor bizarro está de volta para um novo round. Assim como os prinnies (os pingüins)!
A trama despretensiosa
Quem teve a oportunidade de experienciar o primeiro Disgaea, sabe que a solução da Atlus para as perguntas no início dessa análise foram as mais simples possíveis: o mundo não irá acabar amanhã porque, de certa forma, já acabou. A ameaça já tomou forma e as forças do mal já prevaleceram sobre as do bem. Em Disgaea não havia um herói, mas um demônio egocêntrico, lutando por seu direito hereditário ao trono. Em Disgaea 2, por outro lado, você irá jogar na pele de Adell – o último humano vivo na face da Terra (mais especificamente, na face de Valdime). A raça humana não foi eliminada, mas transformada em demônios por Zenon, senhor de Valdime.
A história de Disgaea 2 começa quando Adell e sua mãe demoníaca tentam convocar Zenon até o vilarejo através de um ritual mágico, numa tentativa frustrada de trazer o restante dos demônios de lá a suas antigas formas – como humanos. O ritual falha miseravelmente (do contrário, seria um jogo surpreendentemente curto, não acha?) e, ao invés de Zenon, eles acabam com a filha do próprio diabo, a princesa Rozalin que, ao contrário do jovem humano, está bastante satisfeita com o mundo caótico em que vive. Entretanto, Adell é um protagonista determinado e, para a alegria dos jogadores, não se daria por vencido tão facilmente. Com a princesa Rozalin involuntariamente ligada a ele pelo ritual, nosso jovem protagonista parte em busca do tirano que amaldiçoou a humanidade. Essa é a premissa para o início da jornada repleta de humor negro pela qual estivemos todos esperando.
Poucas novidades
No que diz respeito a novidades, a história do jogo é um dos pontos mais originais desta seqüência, pois a mecânica em si não sofreu alterações. O sistema de combate de Disgaea 2, tal qual seu antecessor, será inteiramente baseado em turnos (após cada membro de sua equipe agir, passam a vez para o computador, e vice versa). É possível ter até mesmo dez personagens dentro de uma única batalha e cada um deles pode se valer de armas de curta ou longa distância, habilidades especiais ou magias e até mesmo companheiros de sua própria equipe para esmagar o inimigo. Isso porque os ataques podem ser estrategicamente combinados em uma série de ataques conjuntos, dependendo apenas da disposição de cada personagem durante o confronto (um personagem atacante pode iniciar uma série de combos conjuntos com até quatro membros de sua equipe se houver algum deles ao seu lado).
As batalhas funcionam como um tabuleiro de xadrez, onde o jogador desloca cada personagem para uma posição que o deixe em vantagem em relação à equipe inimiga. A dificuldade em Disgaea 2 permanece acima do padrão, de modo que cada vitória parecerá uma conquista e tanto (e a quantidade de xingamentos irá se expandir consideravelmente).
Ainda haverá uma enorme variedade de classes distintas para serem descobertas e usadas a seu favor na criação de companheiros, bem como a maximização dos atributos de suas armas além dos personagens em si. A parte visual do jogo também não sofreu alterações significativas, então não espere gráficos melhorados, mas o mesmo visual datado, abusando de desenhos japoneses.
Se há alguma novidade além da história, seria o julgamento de suas ações pela Corte Suprema. Sim, colega delfonauta, em Disgaea 2, suas ações têm conseqüências e seus crimes são julgados em um tribunal, com direito a advogados, promotores e juizes. E para a brincadeira ser bem feita, há até mesmo a possibilidade de vencer um julgamento com a influencia de um saldo bancário. Quer mais real que isso?
Mais do mesmo
Em suma, Disgaea 2: Cursed Memories, será um pouco mais daquilo que você gostou tanto. Mais horas e horas (e horas e horas e…) de duros combates de turno, mais humor negro, mais criação de personagens, mais classes e tudo sob uma perspectiva completamente nova. Encare essa seqüência como um novo capítulo em um titulo difícil de dizer adeus, mas tenha em mente que, assim como o seu antecessor, Disgaea 2: Cursed Memories não é um RPG para todo mundo. É penosamente difícil, e direcionado para os jogadores mais puristas e tradicionais, que adoram um jogo longo (e ele realmente é longo) onde possam aumentar a experiência de seus personagens favoritos sem restrições. Se você é um deles, sinta-se em casa. Se não for, talvez seja melhor alugar primeiro e tirar suas próprias conclusões.
Disgaea 2: Cursed Memories está previsto para meados de Agosto. Veja mais informações sobre ele abaixo e fique atento para a análise completa em seu lançamento.
Plataformas: Playstation 2
Desenvolvedora: Nippon Ichi Soft.
Editora: Atlus Soft.
Lançamento: 17 de agosto de 2006
Gênero: RPG tático