De cara, Powers já tem duas curiosidades interessantes. Para começar, trata-se da primeira série produzida e exibida no PlayStation, que parece querer seguir o caminho do Netflix na produção de conteúdo original. E a segunda, é baseado em uma HQ de Brian Michael Bendis e Michael Avon Oeming.
A trama acontece num mundo onde existem pessoas superpoderosas. Há gente voando pelos céus, indivíduos que escolhem ser heróis e patrulhar a cidade e também aqueles que usam seus dons especiais para fins menos nobres. A história acompanha uma dupla de policiais, Christian Walker (Sharlto Copley) e Deena Pilgrim (Susan Heyward) da Powers Division (acompanhei o seriado sem legendas, por isso não sei como essas coisas foram traduzidas por aqui), um ramo da polícia especializado em lidar justamente com criminosos que possuam poderes especiais.
Apesar da premissa interessante, da imaginação de como seria o mundo se uma porcentagem da população tivesse superpoderes e de ser baseado num trabalho do sempre ótimo Brian Michael Bendis, admito que nem pretendia ver essa série. Algo nela não me passava muita confiança. Mudei de ideia e acabei acompanhando única e exclusivamente porque acho o Sharlto Copley um baita ator e adoro o trabalho dele.
Após assistir aos dez episódios da primeira temporada, a conclusão é que o sujeito merecia um seriado melhor para estrelar. Powers é bem mequetrefe, chegando a níveis quase amadorísticos. Passa a impressão de que a Sony/PlayStation não estava muito segura da empreitada e resolveu arriscar o menos possível, com um orçamento bem modesto e tentando usar uma fórmula já testada e comprovada. Bem diferente do Netflix, por exemplo, que arrisca em produções mais caprichadas e com bastante variação narrativa e de gêneros.
DIAMOND
Eu não li a HQ, por isso vou me ater apenas ao que vi na série, mas pelo que pesquisei, parece que alteraram bastante coisa da história, e não exatamente para melhor. Lá pela metade dos episódios já me veio a sensação de que a série estava muito parecida com aquela primeira leva de seriados que tinham super-heróis como tema (resultado direto do boom de filmes de HQs), mas não eram baseadas em gibis específicos.
Refiro-me a coisas como Heroes, The Cape e No Ordinary Family, lembra dessas? Todas elas eram produções que pareciam comandadas por gente que só queria explorar a febre do momento, mas não entendia uma vírgula do universo que estavam tratando. Daí para as histórias baterem cabeça até o inevitável cancelamento foi um pulo. Powers me passou essa desagradável impressão.
Pois embora haja elementos bons, que poderiam render histórias interessantes, como os heróis como pop stars, vivendo como celebridades e assinando grandes contratos publicitários para ganhar dinheiro, por exemplo, essas coisas ficam relegadas a pano de fundo, muito pouco exploradas, privilegiando uma narrativa mais padrão de bem contra o mal.
No caso, Walker, que já foi um herói mas perdeu seus poderes, tentando prender um antigo colega, o teleportador Johnny Royalle (Noah Taylor, a cara do Nick Cave). Não só é o tipo de história batida, como nem isso souberam fazer direito e os roteiros são bem fracos e corridos (e é bom dizer que o próprio Brian Michael Bendis escreveu o nono episódio). No primeiro capítulo, quando Walker conhece Deena, ele a trata com aquela frieza estilo “você vai ter que conquistar o meu respeito” dos filmes de duplas policiais. Uma volta de carro depois eles já viraram melhores amigos!
Isso quando não é simplesmente confuso. O plano de Royalle, por exemplo, não tem pé nem cabeça. Se sua intenção era boa, por que insistiu sabendo que havia um alto nível de fatalidades? E Wolfe, o mais perigoso dos poderosos, não tem qualquer direcionamento e objetivo, algo contraditório para alguém que agia como um guru dos chamados Powers antes de cair em desgraça.
Para completar, uma coisa muito pessoal que me irrita profundamente é aquele personagem que só faz burrada, que toma absolutamente todas as decisões erradas, tipo a filha do Jack Bauer em 24 Horas. Não me importa que é para ser assim, eu não suporto essas figuras. Aqui há uma dessas e ela é importante para a trama. Ela também precisa que você se importe com ela para funcionar e, como eu odeio burrice, fiquei torcendo mesmo é para ela morrer ou sumir de cena.
RETRO GIRL
O outro fator que está muito abaixo da média são os efeitos especiais, tosquíssimos, ao estilo televisão da década de 1990, principalmente quando algum personagem voa. Seja ao longe, com um CGI digno de PlayStation 1, seja de perto, com cabos que parecem desequilibrar os atores, deixando-os pendurados tortos, a coisa chega a ser constrangedora. Os uniformes então são outro espetáculo (da desgraça) à parte. Tem muito cosplay mais profissional do que alguns dos trajes apresentados aqui.
Como estamos vivendo uma segunda onda de seriados de super-heróis, estes sim baseados em quadrinhos, na comparação com o que temos no ar atualmente (quer você goste ou não deles), Powers perde feio nos paupérrimos valores de produção e pela completa falta de direcionamento.
Não sabe se adota um tom mais sério, explorando seus elementos mais realistas, ou se descamba de vez para o fantástico e exagerado, assumindo-se como obra trash. Seja como for, se o PlayStation pretende produzir mais conteúdo original, tem de melhorar muito no futuro, pois Powers, como sua primeira tentativa, passa uma péssima primeira impressão.
CURIOSIDADES:
– Esta primeira temporada saiu de forma gratuita para assinantes da PlayStation Plus.
– Já o primeiro episódio está disponível na faixa para todos na PlayStation Network.
– Contudo, o Corrales me contou que tentou e não conseguiu assistir à série através do seu negão da Sony.