Fazia tempo que eu não ouvia um bom Hard Rock. Eu, que sou mais apreciador do bom e velho Heavy Metal do que de Hard, estava focado em ir atrás de discos dentro deste estilo, como aconteceu com o doNoturnall. Mas eis que, para quebrar esse costume, chegou aqui no Oráculo o último disco do Pop Javali, The Game Of Fate. E como ele desceu bem, delfonauta.
O Pop Javali, para o delfonauta do fundão que não conhece, é um power trio formado em 1992 por Marcelo Frizzo (baixo/vocal), Jaéder Menossi (guitarra) e Loks Rasmussen (bateria). O primeiro disco da banda, No Reason To Be Lonely, foi lançado em 2011, e agora a sequência The Game Of Fate possui ninguém menos que os irmãos Andria e Ivan Busic, do Dr. Sin, assinando a produção.
JAVALIS DE HARD ROCK
Delfonauta, dessa vez eu vou fazer uma resenha diferente. Vou começar apresentando minhas impressões do disco como um todo e depois fazendo o tradicional faixa-a-faixa, ok? Bem, eu iria começar nesse parágrafo, mas como, com essa frase, eu já tomei quase o tamanho todo de um parágrafo, vou começar no próximo. E sim, essa última frase foi só para enrolar mais um pouco. Mais um pouquinho… Agora sim, podemos seguir em frente.
Senti o disco bastante coeso, com as músicas tendo estruturas bastante parecidas. Contudo, destaco aqui que elas não são iguais entre si, pois quando chega na segunda metade há uma grande variação entre canções com uma levada mais prog, fugindo do Hard Rock puro que havia sido o destaque na primeira metade. Isso é bom porque não cansa durante a audição, mas as estruturas parecidas garantem que a banda imprima sua identidade.
Além disso, todos os músicos têm ótimas performances, porém eu senti que o trabalho do vocalista Marcelo Frizzo poderia ter sido melhor, com linhas vocais mais marcantes e uma interpretação mais diversificada. No início, por exemplo, eu quase não senti diferença entre a interpretação vocal no verso e no refrão, enquanto mais para o final, em algumas músicas, isso melhora consideravelmente. Foi nesse momento que eu senti a diferença entre uma interpretação mais bem trabalhada e outra nem tanto. Bem, vamos ao faixa-a-faixa?
JAVALIS COM INFLUÊNCIA DE PROG
Lie To Me abre o disco de maneira bem direta, com grooves e solos durante todos os seus três minutos, enquanto Healing No More, que é mais cadenciada, tem linhas de guitarra tão bem trabalhadas que merecem destaque. Abaixo você pode conferir o clipe da música, e repare no efeito “parece delay, mas são linhas diferentes sobrepostas” da guitarra na segunda estrofe – ficou muito bom, e é uma pena que só apareça em um trechinho tão pequeno.
O disco segue com Mindset, que eu diria que lembra aquele AC/DC de músicas como Hard As a Rock se não fosse pelos timbres mais pesados e pelo trecho levemente quebrado antes do refrão. Road To Nowhere é uma música que possui grooves interessantes, mas que soam levemente genéricos, deixando a impressão de que poderiam ser ainda melhores se fossem mais trabalhados. Ah, mais uma coisa: fãs de Hard Rock com influências progressivas, o meio da música reserva uma surpresa para vocês.
Free Man foi uma que particularmente não me agradou, pois apesar depossuir riff e versos pesados, o pré-refrão e refrão são mais alegres do que o esperado, indo no caminho contrário ao que se sugeria no começo. Isso, como todo fã de prog sabe, não é necessariamente um problema, porém eu senti que os três minutos da música não foram o bastante para desenvolver tais partes de maneira certa, o que deixa a faixa um tanto estranha. A seguinte é Time Allowed, que ainda que seja mais prog do que Free Man, se desenvolve de maneira muito melhor em seus mais de seis minutos.
A Friend That I’ve Lost soa parecida demais com Dr. Sin, ainda que, enquanto música, evolua de maneira bem diferente das músicas do Dr. Pecado. Wrath Of The Soul, por outro lado, é provavelmente a mais diferente dentre todas as músicas do disco, mas possui um refrão tão legal que a faz merecer destaque. Finalmente, a faixa Enjoy Your Life, ainda que um tanto repetitiva, é a melhor música do disco, com um refrão ótimo e um riff melhor ainda.
I Wanna Choose possui um ótimo refrão, porém a voz de Marcelo Frizzo soa um tanto deslocada no verso, sem que a interpretação dada pelo vocalista encaixe com a música. E o disco termina com a faixa-título, The Game of Fate, que é provavelmente a música que mostra o melhor da banda – bem equilibrada, bem progressiva, bem desenvolvida. Por ser longa – oito minutos – pode não ser tão do gosto do freguês, mas garanto que merece atenção.
JAVALIS DOS 70’S
The Game Of Fate me chamou bastante atenção, com uma sonoridade característica e que mistura suas influências com primor. É uma ótima pedida caso você esteja procurando um Hard Rock de qualidade, e mostra que o Hard Rock brasileiro está vivo. Eles têm turnê agendada na Europa, então até os delfonautas que estão no Velho Mundo poderão conferir o som da banda – o que eu recomendo fortemente. Mas, enquanto isso, por que não ouvir a banda tocando um clássico do Ozzy Osbourne? =]