Pergunte ao Pó, escrito por John Fante, é um dos clássicos da literatura estadunidense. Logo, nada mais natural do que o romance ganhar uma adaptação cinematográfica. Segundo o release distribuído aos jornalistas, o diretor e roteirista Robert Towne levou 30 anos para levar o projeto da adaptação para as telas. E parece que ele perdeu a paixão pelo projeto nestas três décadas de demora. A sensação que fica é a de que ele só fez o filme para completar uma missão iniciada há tempos.
Isso mesmo, amiguinho, Pergunte ao Pó, o filme, é mais um caso do gênero, já conhecido pelo delfonauta, que eu chamo de “filme nada”, o qual, trocando em miúdos, não fede nem cheira.
Na trama, acompanhamos o escritor Arturo Bandini (Colin Farrell, de O Novo Mundo), descendente de italianos que, durante a época da Grande Depressão nos EUA (virada dos anos 20 para os 30) muda-se do Colorado para Los Angeles com a pretensão de escrever o grande romance sobre a cidade dos anjos. Mas tudo o que consegue é ficar devendo várias semanas de aluguel no hotelzinho fuleiro onde se hospedou.
Aí ele conhece a imigrante mexicana Camilla Lopez (Salma Hayek), garçonete do bar nas imediações do hotel e é paixão à primeira vista. Mas Arturo passa a agir como uma criança de 4ª série e, ao invés de dizer o que sente, passa a atazanar a coitada com requintes de crueldade. Assim, o romance demora a engrenar e vira uma paixão turbulenta, que tem de sobreviver ao gênio forte dos dois, à falta de dinheiro e ao forte preconceito da época para com os estrangeiros (algo que nunca entrou na minha cabeça, já que os únicos estadunidense legítimos são os índios, todos os outros são igualmente estrangeiros).
Como pode ver, a história não é nada que você já não tenha visto antes. Tecnicamente, o filme é perfeito. Fotografia, figurinos, cenários, enfim, toda a reconstituição de época é minuciosa. Os atores também estão ok, nada de excepcional, mas um bom trabalho.
O problema é mesmo a falta de alma da produção. O filme é morno do começo ao fim, pouco inspirado. A última meia hora, onde já sabemos qual será o desfecho da história, é particularmente entediante.
Este é um “filme nada” que não satisfaz e não ajuda a passar o tempo. Pelo contrário, ele parece se arrastar durante a projeção. Então, meu conselho é procurar outra opção, pois essa não vale o preço do ingresso.