Para Roma Com Amor

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Woody Allen e a Europa, uma parceria que já rendeu alguns ótimos filmes, como Vicky Cristina Barcelona e Meia Noite em Paris.

Para Roma Com Amor continua essa parceria, e também traz um certo retorno às origens, com um Woody Allen mais bobo e mais nonsense, reminiscente de seus primeiros filmes.

O filme intercala várias histórias independentes, que são apenas algumas das que acontecem diariamente em Roma. Como é tradição nos filmes de Allen, elas envolvem sexo, comprometimento e traição, mas são leves, agradáveis e bonitinhas, embora um tanto ácidas.

RISADAS

Este é provavelmente o filme mais engraçado que Woody Allen fez nos últimos anos, e admito que eu nunca tinha rido tanto em uma obra dele. Isso se deve, claro, ao nonsense e ao absurdo tão presentes aqui. Infelizmente, estes são também os responsáveis por diminuir a obra como um todo.

A apresentação dos personagens é relativamente padrão, e tudo indica que vamos assistir a mais um típico filme de Allen. Porém, do nada, o nonsense começa a aparecer. Mas não aparece desde o início, quando o “mundo” está sendo estabelecido, como acontece em um Monty Python, por exemplo. Ele demora tanto para aparecer que, quando acontece, gera estranheza.

Por exemplo, o arquiteto interpretado por Alec Baldwin é apresentado como uma pessoa real. Porém, ele logo se torna apenas uma “consciência” do Jesse Eisenberg, mais ou menos como o pai do Dexter Morgan. Essa mudança repentina já é estranha, mas o filme não se decide se os outros personagens, além de Jesse, conseguem vê-lo ou não. Na maior parte das cenas, ele parece ser invisível, mas em alguns momentos, as outras pessoas interagem com ele, e isso é simplesmente errado, roteiristicamente falando. Você não pode adequar o seu personagem ao que for mais conveniente no momento.

O mesmo pode ser dito da história de Roberto Benigni e sua fama repentina. Ok, a ideia é justamente satirizar os “famosos porque são famosos”, tipo a Paris Hilton, mas alguma coisa teria que ter acontecido para os jornalistas estarem esperando na entrada da casa dele. O que mudou de um dia para o outro? Não é tão difícil inventar um motivo, desde a técnica Paris Hilton (uma fita pornô “vazada”) até qualquer outro motivo banal.

Estes são os dois pontos que mais incomodam, mas o filme tem vários momentos em que algo parece fora de lugar. A cena do assaltante, por exemplo, é difícil não pensar um “caramba, que tosco” quando acontece, pois é totalmente Deus Ex Machina.

Curiosamente, as histórias supracitadas, especialmente a do Alec Baldwin, também respondem pelos melhores momentos. É curioso, mas eu nunca tinha reparado como Baldwin é engraçado até assistir à série 30 Rock, e aqui ele também rouba a cena, muitas vezes fazendo rir simplesmente pela sua atuação.

As atuações, aliás, como é praxe na obra de Allen, estão excelentes. Ellen Page, como sempre, manda muito bem como uma garota que finge ser culta e inteligente. Embora Alec e Ellen se destaquem, este é um filme em que todos os atores estão excelentes. O próprio diretor volta a aparecer na frente das câmeras, também com um personagem muito engraçado.

E é uma pena que estes momentos absurdos empurrem o filme para baixo, porque quando ele é bom, é simplesmente genial. Os diálogos, por exemplo, parecem ser cuidadosamente construídos, com cada frase tendo um motivo para estar lá. Simplesmente não dá para não admirar a habilidade que Allen tem na palavra escrita – mesmo que ela seja falada. A direção também é precisa, com closes muito bem colocados nos momentos em que a atuação do ator é vital para o melhor aproveitamento da história.

Eu gostei bastante de Para Roma Com Amor, mas seu culto ao absurdo parece muito repentino e sem sentido para serem ignorados ou simplesmente absorvidos como parte deste mundo. Mas também não acho que eles estão lá por preguiça ou falta de capricho. Talvez apenas por uma falta de objetivo, de onde o filme queria chegar. Isso, aliás, costuma ser bem comum quando um filme tenta contar muitas histórias.

De qualquer forma, Para Roma Com Amor é facilmente recomendável, especialmente para fãs de Allen, que verão aqui uma saborosa amálgama de seu estilo mais antigo com sua fase europeia atual.

CURIOSIDADE:

– Falamos tanto de humor nonsense aqui, mas você sabe o que é isso? Se não sabe, ou quer apenas saber mais, não deixe de ler nossa matéria especial sobre o assunto.

– Se você quer mais filmes em que o absurdo não parece se encaixar bem, não deixe de ler nossa resenha de Kaboom.

REVER GERAL
Nota
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
para-roma-com-amorPaís: EUA/Itália/Espanha<br> Ano: 2012<br> Gênero: Comédia<br> Duração: 102 minutos<br> Roteiro: Woody Allen<br> Elenco: Woody Allen, Penélope Cruz, Jesse Eisenberg, Alec Baldwin, Roberto Benigni, Ellen Page e Alison Pill.<br> Diretor: Woody Allen<br> Distribuidor: Paris<br>