Os piores filmes de 2011

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Amigo delfonauta, ano passado foi sofrido. Nos meus oito anos trabalhando como crítico de cinema, nunca tivemos uma safra tão absurdamente ruim quanto em 2011. Dessa forma, eu considerei impossível fazer minha tradicional lista com os melhores filmes do ano. Caso contrário, teria que colocar em uma lista reservada à excelência na sétima arte longas com notas como 3,5 ou 4 Alfredos. Aí, como o Cyrino manifestou interesse nessa tarefa ingrata, deleguei-a a ele e resolvi assumir uma inédita, algo que nunca fizemos aqui no DELFOS: um bottom 5 escolhendo as coisas mais vergonhosas que infestaram as salas de cinema em 2011.

E, meu amigo, doeu reler as resenhas dos filmes abaixo, pois isso me levava de volta a alguns dos momentos mais traumáticos da minha vida. Veja só, em oito anos de DELFOS, tivemos 21 notas zero. Dessas 21, 14 foram para filmes. Dessas 14, três foram distribuídas em 2011. E, para chegarmos ao ponto de dar zero, o negócio tem realmente que ser uma porcaria decrépita e sem qualidades.

Para não ficar muito mal-humorado, resolvi também inovar: as tradicionais “decepção delfiana” e “pior do ano” viraram o inverso, ou seja, “surpresa delfiana” e “melhor do ano”.

Dito isso, me acompanhe enquanto relembro dois filmes legais e cinco que me levaram à beira do suicídio (e do Terraço Itália). E sacrifique bodes para que em 2012 eu não sofra tanto. E digo isso mesmo sabendo que você vai é torcer pelo contrário, pois adora me ver sofrendo. =P

Surpresa Delfiana: X-MEN: PRIMEIRA CLASSE (X-Men: First Class – EUA – 2011

A franquia X-Men começou boa, se tornou excelente no segundo filme e depois disso decaiu como poucas. X-Men: Primeira Classe foi a primeira adaptação de quadrinhos que não foi vista de forma otimista pelos fanboys. Todo mundo esperava uma porcaria homérica. E acredito que a maioria concorda comigo quando digo que o que vimos, no final das contas, foi uma obra muito legal.

Tem problemas, vários na verdade, mas as qualidades felizmente ofuscam os defeitos. Gostei muito da caracterização dos personagens, da forma que eles abordaram as inseguranças da Mística e, claro, do tremendão Magneto. Em alguns momentos poderia ter sido menos corrido e retcons nunca são positivas, mas X-Men: Primeira Classe foi a primeira vez este ano que saí empolgado da sala de cinema. E uma das poucas.

Menção Honrosa – o melhor do ano: O PREÇO DO AMANHÃ (In Time – EUA – 2011)

Acredito que a escolha de O Preço do Amanhã como o melhor do ano não surpreendeu ninguém que leu minha resenha. Afinal, lá eu digo que, em um ano bom, ele já estaria na lista. Neste ano então, sua posição foi incontestável. Nunca foi tão fácil escolher quem levaria esta honra quanto aqui.

O Preço do Amanhã tem tudo que eu gosto no cinema. Uma história criada especialmente para a mídia, um mundo diferente do nosso e, especialmente, críticas sociais sem nunca deixar a diversão de lado. Tem também o Justin Timberlake, mas convenhamos, até que o sujeito não compromete. Pelo menos ele é um ator muito melhor do que o Ashton Kutcher, o Jack Black ou o Jim Carrey. E por falar nestes dois últimos, chegou a hora de reviver meus piores pesadelos. E quem diria que meus piores pesadelos seriam habitados por coelhinhos e pinguins?

5 – HOP – REBELDE SEM PÁSCOA (Hop – EUA – 2011)

Em uma época em que filmes de criança também são divertidos para adultos, Hop vai totalmente contra a corrente. Temos aqui um filme para nenês que os pais não vão conseguir suportar. Poucas vezes fiquei tão entediado no cinema. Hop não cria nada, repete fórmulas e tem uma seleção de elenco absurda. James Marsden para fazer um quase adolescente? Quem teve essa ideia? Mas já que falamos em filmes que não criam nada, Hop parece uma obra-prima perto de…

4 – RANGO (Rango – EUA – 2011)

Eu queria gostar de Rango. Queria mesmo. O design dos personagens é fantástico, eu adoro westerns e a trilha sonora é uma das melhores do gênero. Infelizmente, as qualidades param por aí.

Essa é daquelas resenhas que geraram alguns comentários furiosos que eu sinceramente não consigo entender. Assim como eu, as pessoas queriam gostar do filme, por juntar novamente a turma do legalzudo Piratas do Caribe (Johnny Depp e o diretor Gore Verbinski). E eu entendo isso. O que não entendo é como elas podem continuar defendendo o filme após assisti-lo.

Rango é uma refeição requentada depois que a validade estragou. É a comidinha que foi gostosa um dia, mas que deveria ter sido jogado fora anos atrás. É uma repetição de conceitos, cenas, piadas e arquétipos de personagens. Você está pagando para ver um filme que já viu antes inúmeras vezes – e a maioria delas melhor realizadas. É um remake que tenta fingir não ser um remake. Assim, consigo entender que uma criança ou alguém que viu poucos filmes na vida gostem de Rango. Mas esse não é o público do DELFOS e, sinceramente, gosto de pensar que os delfonautas têm repertório suficiente para perceber quando estão comprando gato por lebre. Ou, no caso, comprando um lagarto chamado Rango e levando O Espanta Tubarões (apenas para citar um exemplo relativamente recente).

3 – AS VIAGENS DE GULLIVER (Gulliver’s Travels – EUA – 2010)

Que Pazuzu nos proteja! Chegamos às notas 0 do ano. Comecei essa resenha da seguinte forma: “Já temos aqui um grande candidato a pior do ano. E eu realmente espero que seja o pior, pois não sei se estou preparado para ver outra porcaria desse naipe nos próximos trezentos e tantos dias. Odin, tenha piedade de mim.”

Como você pode ver, As Viagens de Gulliver está na terceira posição, o que significa que, apesar de minhas súplicas, Odin ainda me obrigou a ver duas porcarias ainda mais nojentas do que esta. Mas logo chegaremos nelas.

As Viagens de Gulliver é praticamente o mesmo caso de Rango. Um filme feito não para comunicar uma ideia ou para criar algo, mas simplesmente para faturar alguns milhões de trocados em cima de um público não exigente. Ao contrário de Rango, no entanto, você já sabe o que está comprando. A simples presença de Jack Black no elenco entrega isso, então pelo menos ele é honesto como caça-níquel.

Eu sabia no que estava me metendo ao entrar na sala de cinema, e o fiz apenas por dedicação ao público do DELFOS, que adora me ver sofrendo. E sabe em que outro filme eu sabia exatamente onde estava me metendo?

2 – OS PINGUINS DO PAPAI (Mr. Popper’s Penguins – EUA – 2011)

É, amigo delfonauta. Jim Carrey X Jack Black é uma parada dura. Ambos fazem o mesmo tipo de filme, têm a mesma habilidade na atuação (ou seja, nenhuma) e, por algum motivo, ganham milhões de dólares.

Os Pinguins do Papai foi o filme que me levou a ir até o Terraço Itália realizar o suicídio com o qual sempre sonhei. E sua resenha é uma das preferidas dos delfonautas sádicos. Mas sabe o que dói mais? É saber que eu não precisaria ter suportado essa porcaria nojenta se tivesse cometido suicídio após ver a porcaria nojenta que ocupa nosso primeiro lugar.

1 – O DISCURSO DO REI (The King’s Speech – Reino Unido – 2010)

Assim que saí da sala de cinema, após a cabine de O Discurso do Rei, sabia que ele ocuparia o posto de pior do ano. Todo mundo que lê o DELFOS sabe que esses filmes feitos apenas para ganhar Oscar costumam me agradar tanto quanto aqueles que são feitos apenas para vender ingressos (como as quatro posições anteriores). Cinema é arte. Como tal, deve ser feito com o intuito de criar. Claro, todo artista quer ganhar dinheiro e prêmios, mas esse não deve ser o objetivo primordial da obra, deve ser consequência.

Mas vá lá, algo pode ser feito com essas intenções e ainda sair algo bom. 127 Horas, por exemplo, tem todo o checklist de um oscarizável, mas não dá para negar que é um filme excelente. Se é para fazer uma história de superação, que seja uma superação real. Uma coisa é você ficar preso embaixo de uma pedra, isolado do mundo, e ter que arrancar o próprio braço para sair. Outra é você ser uma das pessoas mais ricas do mundo, ter súditos obrigados por lei a puxar seu saco e uma vida perfeita em todos os quesitos, menos um: a gagueira. Não, meu amigo, eu ainda não aceitei que fizeram um filme sobre isso. Isso não é história que se conte, e pronto.

O escopo real da gagueira é mostrado em O Homem do Futuro, em que o protagonista é gago até que a garota fala que isso acontece porque ele não respira. Pronto. Ele é curado imediatamente. Eu também fui gago quando criança e superei isso ainda criança. Se você não conseguiu superar na infância, ok. Eu respeito seu problema e entendo que isso pode ser um inconveniente, mas não venha me dizer que é ser gago é pior do que ser gordo, tímido ou careca. Não, não é.

Ok, se além de gago você for feio, gordo, pobre e careca, eu me compadeço da sua dor. Pequenos problemas acumulados podem tornar a vida um inferno. Mas se sua vida é perfeita, e você tem uma gagueira leve que não impede a comunicação, como a do filme, não adianta fazer parecer que tem um problema mais épico do que os que morrem de fome ou vivem em uma zona de guerra. O que você tem é um inconveniente, não é um problema.

Essa foi uma resenha ainda mais polêmica que a do Rango, afinal, o filme ganhou o Oscar de melhor filme e é socialmente aceitável que, se ganhou o Oscar, é bom. Eu também pensava assim, quando tinha uns cinco anos. Daí quando fiz seis, comecei a pensar por conta própria e minha opinião mudou. Ah, se as pessoas soubessem como a seleção do Oscar realmente é feita. =D

Desde criança, quando percebi as fórmulas que faziam um filme ganhar Oscar, logo deduzi que um careca dourado não era indicação de qualidade. E depois que descobri os critérios reais de seleção, menos ainda. Mas você pode encarar assim. Encarar o prêmio de melhor filme como uma indicação para vê-lo, assim como uma resenha delfiana. Só saiba diferenciar a opinião da academia (e mesmo a minha) da sua própria. Não saia defendendo um filme só porque ele ganhou Oscar, defenda-o se realmente gostar dele.

E hoje, quase um ano depois de tê-lo assistido, eu releio essa resenha e constato: eu não mudaria uma única vírgula dela. É um filme que simplesmente pega todas as formulinhas para se ganhar um Oscar e as transporta para um problema totalmente irrelevante, tentando mostrar a triste vida dos ricos e famosos.

Assistir a O Discurso do Rei é como folhear uma revista Caras e ver uma celebridade, no seu castelo particular, com seu Da Vinci original ao fundo, reclamando que não tem condições de comprar uma piscina de ouro maciço, então precisou aceitar uma apenas banhada a ouro. E, cá entre nós, eu odeio esse tipo de coisa. Se eu quisesse ver histórias sobre vidas perfeitas, com um ou outro inconveniente, eu assinaria Caras, não iria ao cinema. Cinema tem que ter conflito, problemas reais, identificação com os personagens e, especialmente, helicópteros explodindo. Vá lá, se não tiver nada disso, pode pelo menos contar uma história criativa e inédita. O Discurso do Rei não tem nenhum desses elementos e é, portanto, o pior filme de 2011. E pode me xingar nos comentários o quanto quiser, esse fato não vai mudar. =D

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