2015 acaba de começar e, com isso, também nossa tradicional série de matérias delfianas de início de ano sobre os melhores do seja lá o que for do ano que ficou para trás. Dando o pontapé inicial, como costumeiro, a mais longeva delas, a tradicional análise dos melhores filmes do ano passado.
Devo dizer que em todos os meus anos de DELFOS essa foi, sem sombra de dúvida, a lista mais fácil e, sobretudo, rápida de compilar. Sem brincadeira, assim que ficou decidido que novamente eu ficaria responsável por esse texto, os cinco melhores (bem como a decepção e o pior) me vieram à cabeça quase que instantaneamente. Em cinco minutos já estava com a lista de títulos fechada, sem sequer precisar consultar agendas de lançamentos de cinema para refrescar a memória (coisa que eu acabei fazendo mesmo assim só por desencargo de consciência, afinal, não alterou mesmo em absolutamente nada minha seleção).
Daí, só faltava mesmo era botar tudo no papel. E até que ficou uma lista bem balanceada. Tem blockbusters de super-heróis; uma produção contida, com estilão de longa independente; filme de diretor cult e outro de um cineasta pra lá de consagrado. Mas antes de vermos quais são eles, comecemos pela parte não tão agradável, com aquele que mais me decepcionou seguido do que quase me fez cometer suicídio de tão ruim. Mas antes vamos lembrar a regrinha: vale ser escolhido qualquer filme que tenha estreado no Brasil em 2014, independente do seu ano de produção. Sigam-me os bons!
D&D – Decepção Delfiana: GODZILLA (idem – EUA/Japão – 2014)
A exemplo da minha escolha de D&D do ano passado, esse é mais uma decepção que não necessariamente é sinônimo de filme ruim. Pelo contrário. Valeu a pena assistir Godzilla, ainda mais na tela grande. Contudo, a opção do diretor Gareth Edwards por mostrar o bicho sempre de forma rápida, econômica, uma parte do corpo aqui, outra acolá, foi a grande responsável por ele figurar nessa seção. Caramba, todo mundo esperava um filme que aniquilasse a produção de 1998, ainda mais depois do que Círculo de Fogo mostrou ser possível fazer com efeitos de ponta em histórias de monstros gigantes. Ao invés disso, o rei de todos os monstros é coadjuvante em seu próprio filme, aparecendo em doses homeopáticas e criando ininterruptas sensações de coito interrompido. Rendeu uma película ok, mas longe do “nerdgasmo” que poderia ter sido.
Menção Horrorosa – o pior do ano: MULHERES AO ATAQUE (The Other Woman – EUA – 2014)
Alguém em Hollywood odeia profundamente os críticos de cinema (que inevitavelmente teriam de ver esse lixo para resenhá-lo), as mulheres (o pretenso público-alvo dessa tranqueira) e os pobres coitados que as acompanhariam ao cinema. Seja quem for que deu o sinal verde para a produção desse monte de estrume, esse cara deveria ser preso urgente para pagar por seus crimes contra a humanidade, traduzidos numa comédia sem a menor graça, com personagens irritantes, todos os clichês possíveis e imagináveis e uma narrativa toda desconjuntada. Não à toa, foi o único filme a levar zero Alfredos em 2014. Isso diz tudo.
E agora, os cinco melhores filmes de 2014:
5 – CAPITÃO AMÉRICA 2: O SOLDADO INVERNAL (Captain America: The Winter Soldier – EUA – 2014)
Quem diria que o coxinha do Capitão América seria o protagonista de um dos melhores filmes da Marvel até agora? Toma essa, Homem de Ferro 3! O Soldado Invernal é um longa de ação e espionagem estiloso, frenético e reminiscente dos thrillers dos anos 70. Ainda por cima, é um dos mais integrados ao universo cinematográfico Marvel e avança bastante com a história ao levar a S.H.I.E.L.D. por um caminho bem interessante e inesperado. Depois desse excelente segundo filme solo do bandeiroso, Capitão América 3 parece cada vez mais promissor.
4 – BOYHOOD: DA INFÂNCIA À JUVENTUDE (Boyhood – EUA – 2014)
Richard Linklater é famoso por uma das trilogias mais românticas do cinema, a história de Jesse e Celine, os amantes que passam grande parte do tempo em altos papos filosóficos existencialistas. Mas ele também tem muitos outros filmes bacanas e ideias ousadas. Uma delas é este Boyhood, que demorou doze anos para ser concluído porque o diretor queria mostrar seu protagonista literalmente envelhecendo diante das câmeras. Ao mostrar a infância e adolescência do garoto Mason, Linklater nos mostra de forma delicada e sincera tudo que vem como parte do processo de amadurecimento, sem deixar de lado as principais características do cineasta, como os diálogos cabeça e o foco no elemento humano. Uma experiência muito bem sucedida.
3 – GUARDIÕES DA GALÁXIA (Guardians of the Galaxy – EUA/Reino Unido – 2014)
Torno a repetir o que disse em sua resenha: enquanto a DC não consegue levar ao cinema sequer os integrantes da Liga da Justiça, a Marvel passa o rolo compressor por cima da concorrência ao transformar em sucesso de crítica e público um longa formado por um grupo obscuro, que tem uma árvore ambulante e um guaxinim falante em suas fileiras. É matinê espacial com a maior cara de Star Wars, com efeitos especiais da nova trilogia e a qualidade da clássica. Assim, a Marvel expande seu universo nos cinemas ao apresentar seus personagens cósmicos, continua dando só um gostinho de Thanos, reservando-o para algo que promete ser grandioso, e cria mais uma franquia milionária, provando que na tela grande a Casa das Ideias nada de braçada.
2 – THE ROVER – A CAÇADA (The Rover – Austrália/EUA – 2014)
Para o delfonauta ver como gosto é uma coisa pessoal e intransferível. Eu adorei esse filme pelos exatos motivos que o Corrales criticou em sua resenha. Sim, é lento, introspectivo, cheio de silêncios e olhares para o nada. Mas há um motivo implícito para tudo isso que muito me agrada. Questionar qual o sentido de alguém continuar em frente naquele deserto infindável e miserável após o tal colapso (que parece ser de ordem financeira e não algo exatamente pós-apocalíptico) senão pela pura teimosia e instinto inato de sobrevivência humano. Pela ambientação e o fato de que há um fiapo de sociedade à beira de ir para o saco, lembra muito o primeiro Mad Max, mas de fato The Rover passa longe de ser um filme de ação como o longa que revelou Mel Gibson ao mundo. Sua pegada é mais contemplativa e dramática, resultando numa das experiências mais fortes que tive o prazer de assistir em 2014.
1 – O LOBO DE WALL STREET (The Wolf of Wall Street – EUA – 2013)
Martin Scorsese pouco se aventurou pela comédia (somente O Rei da Comédia e Depois de Horas me vêm à mente) em sua filmografia. É uma pena que não tenha tentado mais coisas no estilo, pois O Lobo de Wall Street foi o filme mais engraçado de 2014. A história do corretor da bolsa trambiqueiro, com sua vida cheia de excessos que só o dinheiro pode comprar, interpretado por um excelente e surtado Leonardo DiCaprio, para mim é quase uma continuação de Curtindo a Vida Adoidado. É Ferris Bueller após sair da faculdade, virando yuppie e arranjando emprego na Bolsa e dando seus jeitinhos nada lícitos para curtir, ao invés de um, vários dias ensolarados, trocando as visitas a museus e a cantoria em desfiles por drogas e orgias. Mas o gosto por andar em Ferraris permanece o mesmo. Scorsese no melhor da sua forma, fazendo um filme corajoso, sem moralismos quanto ao seu protagonista e suas ações. Indispensável e, por isso mesmo, o longa que ganhou a medalha de ouro em 2014.
É isso aí, delfonauta, esses foram meus cinco favoritos do ano passado. Como sempre, o espaço de comentários abaixo está aberto para que você divida conosco sua própria lista pessoal de melhores filmes de 2014. E fique ligado nas próximas semanas para as outras matérias dos melhores do ano que acabou.