O ciclo se repete após alguns anos e mais uma vez o mundo metálico sofre um revés com o anúncio da saída de um integrante importante de uma banda. Foi com tristeza, mas não com surpresa, que recebi no último dia 12 de junho a notícia oficial do desligamento do baterista Iggor (com dois “gs” mesmo) Cavalera do Sepultura através do site oficial dos caras após meses de boatos e especulações.
A novela estava se arrastando desde o ano passado com o afastamento “temporário” de Iggor para se dedicar à família e ao nascimento do novo filho, Antônio, mas finalmente chega ao seu fim triste, porém previsível, tendo em vista os últimos acontecimentos.
Quem conhece e acompanha a banda sabe que a química já não estava legal há algum tempo com diversas declarações contraditórias e mágoas guardadas sempre cercando o assunto sobre a volta ou não de Max à banda e os rumos musicais a serem seguidos pelo grupo.
De um lado, tínhamos o antigo guitarrista e vocalista dizendo que gostaria de voltar ao grupo para alguns shows, como um tributo aos fãs e comemoração dos mais de 20 anos de estrada. Do outro, o irredutível Andreas Kisser dizendo que isso era impossível e não queria mais nenhum tipo de contato com o ex-integrante, como sempre deixou bem claro em todas as entrevistas, inclusive na nossa. Iggor provavelmente era o que mais se incomodava com toda essa situação, até porque, além de fundadores, Max e Iggor Cavalera são irmãos e toda essa história com certeza abalou o relacionamento dos dois.
Na nossa entrevista, Andreas disse que os irmãos Cavalera passaram anos sem qualquer tipo de contato (Max foi morar nos EUA e Iggor ficou por aqui), a não ser pelas notícias da mãe, Vânia Cavalera, que nunca escondeu a torcida para a volta de Max.
No último ano, no entanto, essa situação mudou. Alguns telefonemas e conversas os reaproximaram, ainda que a um nível bem primário, e podem ter influenciado Iggor a tentar uma volta de Max ao Sepultura ou pelo menos cogitar esta hipótese com os outros caras da banda.
Há 10 anos, os fãs se perguntam se querem essa volta de Max ou não. Verdade seja dita, mesmo com bons álbuns lançados (inclusive o Dante XXI, que é excelente), a banda nunca mais teve a mesma projeção dos tempos áureos de Beneath The Remains, Arise e Chaos A.D, quando eram headliners de festivais e lotavam apresentações por onde passavam, não apenas no Brasil.
O Sepultura foi o primeiro nome do Rock a quebrar a barreira nacional do sucesso e estourar lá fora, isso ainda nos anos 80 e a marca perdeu muita força quando Max saiu ou “foi saído” pelas brigas internas. A ex-gravadora Roadrunner praticamente boicotou a banda e não promoveu os álbuns Against e Nation como deveria, isso sem contar a queda drástica no número de shows. Se antes, bandas grandes e consolidadas lutavam para abrir um show do Sepultura, hoje os brasileiros ralam para abrir para o In Flames em uma perna da turnê dos suecos e sequer lotam casas de shows, mesmo quando irão gravar um DVD.
O problema não está com o novo vocalista Derrick Green em si. Todos concordam que a escolha foi acertada e o cara dá conta do recado quando canta os velhos clássicos. O problema está mesmo na criatividade e na falta que Max faz à banda com seu lado compositor. Você pode até não gostar dos direcionamentos do Roots e das misturebas que ele anda fazendo no Soulfly (apesar que o último, Dark Ages, é muito, muito bom mesmo), mas não dá para simplesmente ignorar todos os trabalhos anteriores que foram praticamente idealizados pelo primogênito dos Cavalera.
Agora, 10 anos depois, a história se repete: esse papo furado que vinha rolando de Iggor se desligar temporariamente do Sepultura para ficar ao lado da família foi um belo prefácio como também ocorreu com a morte do enteado de Max, Dana Wells, pouco antes de sua saída da banda (foi exatamente a mesma coisa). Não quero entrar no campo “particular” da coisa, deixo isso para os tablóides de plantão, mas a decisão de Derrick, Andreas e Paulo em continuar se apresentando sem o baterista foi suspeita e ali ficou claro que tínhamos uma divisão de prioridades, já que um grupo unido provavelmente cancelaria (ou adiaria) as apresentações para quando o mais novo papai estivesse novamente disponível.
Sim, eu entendo que é importante a promoção de um novo disco. Segundo uma entrevista de Andreas, o problema de Iggor com as turnês não é de agora também, já vinha desde o final de 2004, na época do lançamento do Roorback, mas de qualquer forma não consigo imaginar alguém na bateria do Sepultura que não seja o cara.
O que aconteceu, todos sabem, os caras chamaram primeiro o baterista Roy Mayorga (que curiosamente tocou com Max no Soulfly, no primeiro e terceiro trabalhos) para quebrar um galho em algumas datas e agora anunciaram oficialmente o substituto de Iggor, o desconhecido Jean Dolabella do Udora, banda que praticava um Hard Rock com pitadas de Metal, bem diferente do que o Sepultura sempre fez.
O que fica para os fãs é a pergunta: existe Sepultura sem os irmãos Cavalera?
Simplesmente não é possível para uma banda continuar sem seus principais fundadores e idealizadores, pois a identidade é perdida. O Sepultura sobreviveu mais de 20 anos graças ao esforço e dedicação dos dois irmãos. Se você já leu a biografia oficial (Sepultura – Toda História, do jornalista André Barcinski), sabe que o que Max falou há alguns dias em desabafos sobre o começo de carreira é verdade. O baixista Paulo Jr., apesar de ser também um fundador, sequer tocou seu instrumento nas primeiras gravações oficiais de estúdio, Max assumia a função porque o cara travava na hora “H” e o guitarrista Andreas Kisser, realmente o integrante mais técnico, só passou a integrar o Sepultura no Schizophrenia, terceiro álbum oficial de estúdio, no lugar do Jairo Guedz.
É lógico que os boatos já começaram. Algumas pessoas ligadas à banda, dão como certa a ida de Iggor para o Soulfly ou o desenvolvimento de um trabalho paralelo entre os irmãos Cavalera e, em minha opinião, esse novo som terá muito mais a alma do Sepultura do que qualquer coisa que Andreas, Paulo, Derrick e Jean lancem nos próximos anos, por mais competentes que eles sejam.
Iggor já deixou bem claro em uma entrevista ao Blabbermouth, um dia depois de seu desligamento que seu sonho é voltar a tocar com seu irmão, seja no Sepultura ou em qualquer outro lugar.
Não me espanta se em alguns meses ou anos, tivermos uma reunião oficial com a formação clássica, ou seja, Max, Iggor, Paulo e Andréas. Se até o Iron Maiden e o Judas Priest voltaram com suas melhores formações, nada impede que a maior banda de Metal nacional também garanta uns trocados a mais com uma famigerada reunião. Por enquanto, a única coisa que podemos fazer é tirar a discografia dos caras da estante e ouvir novamente os clássicos que transformaram para sempre o mercado nacional de música pesada, porque o Sepultura que conhecemos e amamos não existe mais.
Em tempo, esses dias eu zapeava pela TV e parei para assistir àquele programa Combo Fala Mais Joga (nomezinho feio e sem sentido) quando justamente o apresentador Luciano Amaral – o famoso Lucas Silva e Silva do Mundo da Lua – anunciou a participação de Iggor Cavalera e seus pimpolhos. Para quem nunca assistiu, trata-se de um talk show bizarro onde os entrevistados jogam videogame com o entrevistador enquanto falam sobre suas vidas e carreiras, sem que nenhuma das duas partes preste realmente atenção no que estão falando. Ei, você já teve alguma conversa cabeça com um amigo enquanto se matavam em Street Fighter 2? Pois bem, logicamente o programa foi gravado há algum tempo porque Iggor ainda não estava oficialmente fora do Sepultura, mas o nosso querido Luciano insistia em afirmar que muitos fãs estavam nervosos com os boatos de que Iggor deixaria a banda. O baterista ali, naquele programa, ainda estava negando tudo e dizendo que só tinha dado um tempo da turnê. Luciano concordava, dizendo que essa história de Iggor deixar a banda era impossível, nada a ver e fruto de boatos infundados na Internet. Pois é, imagino a cara de tacho do rapaz agora que tudo se confirmou e o canal ainda coloca no ar essa entrevista. E justo agora, no calor da situação? É ou não um marco da incompetência jornalística?