Manja aquele subgênero dos filmes de terror/suspense que envolve alguém aparentemente comum e amistoso, mas que no final das contas se revela um baita dum psicótico que passa a atormentar a família de comercial de margarina com a qual havia feito amizade, aparentemente a troco de nada? Pois é, a princípio, O Presente parece seguir este caminho.
Simon (Jason Bateman) e Robyn (Rebecca Hall) são o casal aparentemente perfeito e bem-sucedido que um dia tromba por acaso com Gordon (Joel Edgerton), antigo colega de escola de Simon. O sujeito força uma amizade com o casal, mas passa um clima meio esquisito demais para o gosto deles, o que faz com que Simon “termine a relação”. Claro que o truta parece não entender o recado.
De fato, o longa passa muito tempo construindo a estrutura que eu descrevi no primeiro parágrafo, do psicopata que se aproxima de uma família só para aterrorizá-la em seguida para sua própria diversão perversa. Creio que a primeira hora da película é toda gasta com o intuito de sugerir esse caminho, o que até então a tornava apenas mais um produto medíocre no imenso mar de produtos similares que abundam por aí. E para piorar, toda essa longa passagem é bem paradona e praticamente não acontece nada. O prognóstico, como aquele filme que o Seinfeld foi assistir, era negativo.
No entanto, não é que a história dá uma virada? Quando é revelado um segredo do passado dos dois na escola, a coisa muda de figura e você passa a odiar Simon e torcer por Gordon, o que seria uma inversão muito bem-vinda se houvesse sido bem conduzida. Não foi.
Quando essa reviravolta acontece, finalmente parece que o filme vai pegar no tranco e até ser algo mais criativo que a média do gênero. Bem, ele até tenta, mas nunca chega lá. A história de fato melhora com essa inversão, mas, ao tentar justamente evitar os clichês do gênero, acabou rendendo um trabalho mal-ajambrado, que demora demais a iniciar sua trama principal e, quando finalmente o faz, novamente não cumpre o que promete.
Essa é a estreia na direção do ator Joel Edgerton, que também assina o roteiro, e fica claro que ele tinha boas ideias e intenções, mas não conseguiu dar uma boa forma a elas, resultando num filme fraco, mas que possuía bom potencial caso o roteiro fosse melhor trabalhado para resolver essas falhas estruturais.
O pior de tudo é o final, que a princípio pode até parecer algo forte e inteligente, mas acaba se revelando uma das ideias mais bestas e esburacadas possíveis, nível plano infalível do Cebolinha, manja? Não só é tosco, como nem tem cara de desfecho. Quando a tela escureceu e começou a passar os créditos, não deu para segurar um sonoro “WTF? Acabou? Só isso?!”. E quando o final de um filme lhe provoca essa reação, definitivamente não era bem essa a intenção pretendida.
O Presente até tenta ser um thriller surpreendente e mais voltado para o lado psicológico, mas desperdiça boas ideias em sua realização extremamente falha que, no fim das contas, rende apenas um filme bem ruim. É uma pena, potencial até tinha, mas não rolou. Assim sendo, melhor procurar um programa mais satisfatório.