O Pequeno Fugitivo foi o filme ganhador do Leão de Prata no Festival de Veneza de 1953 e estreou comercialmente no ano seguinte. O diretor François Truffaut também o apontou como influência para o movimento da nouvelle vague francesa. Mas, no Brasil, permanecia inédito no circuito exibidor. Até agora. 60 anos depois, o longa chega às nossas telinhas em mais um clássico caso de “antes tarde do que nunca”.
Trata-se de uma mistura de drama e aventura juvenil, bem inocente, produto de sua época. Joey é um moleque tapado ingênuo que cai numa pegadinha do Mallandro perpetrada por seu irmão mais velho, Lennie, e seus amigos. Acreditando ter matado Lennie, ele decide fugir.
Mas como ele é uma criança, o melhor lugar em que ele consegue pensar para ficar na miúda é o parque de diversões de Coney Island, em Nova Iorque. E lá curte a vida adoidado nos brinquedos e na praia, sem muito remorso aparente por ter apresuntado de mentirinha seu irmão mais velho.
Assistindo ao filme dá para entender porque Truffaut o considerava um dos inspiradores da nouvelle vague. De fato, ele possui algumas semelhanças com Os Incompreendidos (1959), longa-metragem de estreia do cineasta francês. Não só por ambos serem protagonizados por crianças, mas também por elas basicamente ficarem abandonadas à própria sorte e pela estética crua de câmera e da fotografia em preto-e-branco.
Quem não está acostumado com filmes da década de 50 pode estranhar algumas coisas, como o estilo de atuação mais artificial (todas as crianças, em particular, são péssimas), a falta de reviravoltas ou o ritmo muito mais lento, sempre num tom só do começo ao fim.
Como também não apresenta muitos diálogos, a trilha sonora feita à base de gaita, que termina por preencher boa parte da projeção, acaba torrando a paciência. Mas no geral o filme é interessante por apresentar uma criança livre no mundo agindo de forma independente e se virando muito bem para conquistar seus objetivos, mesmo que estes sejam só andar de pônei e comer bobagens.
É essencialmente um produto que teria mais apelo ao público infantil, mas não creio que as crianças de hoje vão conseguir se relacionar com um guri da década de 50, então O Pequeno Fugitivo acaba por ser mais recomendado a cinéfilos e apreciadores de filmes antigos em geral. Se você se encaixa nessa categoria, merece uma assistida.