Escrever resenhas para esse tipo de filme – terror com final surpresa – é uma tarefa um tanto injusta. Qualquer palavrinha mal colocada pode levar o leitor mais ligado a matar a grande charada, conseqüentemente arruinando a graça de assistir ao longa. Isso se torna ainda mais complicado, pois em um filme como esse, onde reside no final praticamente todo o “fator entretenimento”, é simplesmente esperado que as críticas delfianas contenham no mínimo uma opinião sobre o dito cujo. Aliás, falando em filmes com final surpresa, não deixe de ler também as críticas para A Vila e O Enviado, este último também com a presença de Robert DeNiro. Na verdade, O Amigo Oculto parece quase um remake de O Enviado.
O Amigo Oculto conta a história da família Callaway, composta pelo papai David (DeNiro), a filhota Emily (a elogiadíssima garota prodígio Dakota Fanning, de Chamas da Vingança e do vindouro Guerra dos Mundos) e a mamãe Alison (Amy Irving). Completam o elenco principal Elizabeth Shue de Despedida em Las Vegas e Famke Janssen, a Jean Grey de X-Men. Realmente, o elenco é bem forte, mas ele seria capaz de sustentar um enredo fraco e arrastado? Vamos à sinopse.
Quando Alison Callaway morre repentinamente, David decide levar a traumatizada Emily para o campo, em uma vã tentativa de fazê-la esquecer de sua falecida mamãe. Ao chegar lá, Emily logo arranja um amigo imaginário chamado Charlie. David, um psicólogo, a princípio não se preocupa muito, já que isso pode ser apenas uma válvula de escape para que Emily se recupere do trauma. Logo, porém, coisas estranhas começam a acontecer, o que pode fazer David mudar de idéia em relação a Charlie.
O Amigo Oculto é claramente dividido em três atos. No primeiro, assistimos à morte de Alison e à mudança da família. No segundo, Emily conhece Charlie e o suspense começa. No terceiro, vem a tradicional revelação que leva à não menos tradicional perseguição. O grande problema é que, embora conte com bons sustos e com cenas bem assustadoras (aliás, alguém já percebeu o quanto Dakota Fanning parece um daqueles extraterrestres com olhos grandes e rosto trapezoidal?), o longa simplesmente não conta com essas características na quantidade necessária. Boa parte do tempo temos cenas que, embora sirvam para desenvolver melhor os personagens, são um tanto entediantes. A narrativa é simplesmente lenta demais.
Quando chega o momento da revelação, admito que, pela primeira vez desde que comecei o DELFOS, fui surpreendido pelo final de um filme, o que é ótimo. Claro, a opção feita pelo roteirista Ari Scholossberg é bem batida e já foi utilizada dezenas, se não centenas, de vezes nas mais diversas ocasiões. Mas mesmo assim me surpreendeu. Embora a revelação tenha me satisfeito, depois dela o filme desanda de vez, pois vira simplesmente uma brincadeira de gato e rato. Para piorar, existem buracos no roteiro imensos, como o fato de as limitações do espaço/tempo simplesmente impedirem que determinadas cenas acontecessem como elas são mostradas na história.
O gênero suspense/terror trilhado pelo longa tema deste texto, é um dos mais ingratos do cinema, devido à grande dificuldade de surpreender uma platéia inteligente. Um final que não convence pode simplesmente estragar um filme que estava bom até então. Por outro lado, um bom final, como em Os Outros (eu realmente ando falando muito desse filme) ou Psicose, pode torná-lo inesquecível. Infelizmente, O Amigo Oculto se encaixa no primeiro grupo.