Next To None – A Light in the Dark

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Rotular algo como progressivo não é uma tarefa fácil. Esta expressão, que era comumente utilizada para qualificar o vanguardismo e criatividade de bandas como Pink Floyd, Genesis, Uriah Heep e Frank Zappa, se transformou em termo pejorativo para definir o que é datado, chato, com excesso de minutos, de firulas e de teclados. Abraçar o rótulo é um ato de revolução, ainda mais para uma banda nova como o Next To None. A Light In The Dark é o primeiro álbum deles.

A banda tem chamado atenção nas redes sociais por dois motivos. O primeiro é o fato do baterista Max Portnoy ser filho de uma das lendas vivas do instrumento: Mike Portnoy (ex-Dream Theater, The Winery Dogs e Adrenaline Mob).

O pai coruja – além de assinar a produção do álbum – é muito ativo no Facebook e no Twitter e dá aquela ajuda esperta na divulgação do trabalho do filho (foi como eu cheguei ao álbum, diga-se de passagem). Portnoy-pai tem feito questão de destacar que não houve qualquer interferência de sua parte nem na composição e nem nas performances instrumentais. O álbum ainda conta com duas participações especiais: Neal Morse e Bumblefoot (Guns N’ Roses).

O segundo motivo para chamarem atenção nas redes sociais é o susto ao escutar moleques de 15,16 anos tocando músicas que podem ser comparadas a outros nomes do bloco progressivo recente, como Haken, Periphery e Animals as Leaders. Além destes nomes, há clara influência do Muse, Avenged Sevenfold e do próprio Dream Theater.

A faixa de abertura The Edge Of Sanity e You Are Not Me dão o tom da proposta dos garotos prodígios e de cara o que mais me incomodou no álbum: o vocalista (também tecladista!). O comentário natural é “soa como um moleque de 16 anos”, mas isso é fato e não chega a ser exatamente um problema. O que não me agrada são os vocais guturais no estilo do Periphery/bandas de metalcore. A voz de cookie monster até funciona em bandas como o Opeth e o Arch Enemy, mas não é este o caso.

Aliás, as bandas progressivas costumam ter uma espécie de sina com vocalistas que não são unanimidades entre os próprios fãs (James Labrie, Neal Morse e Geddy Lee são alguns exemplos), mas o garoto Thomas Cuce ainda possui tempo de sobra para se desenvolver e conquistar seu público alvo. Talvez até seja interessante dividir os vocais com outros membros para que possa se dedicar aos teclados.

Fora isto, o álbum em geral surpreende pela competência técnica dos garotos, o menino Portnoy forma uma boa cozinha com Kris Rank (baixo) e mostra que é filho de peixe. Portnoy Jr. está na trilha para se tornar uma espécie de Jason Bonham do metal progressivo. Ryan Holland (guitarra) parece ter buscado inspiração em nomes como Dimebag Darrel (Pantera), John Petrucci (Dream Theater) e Matt Bellamy (Muse).

Apesar de todo o virtuosismo juvenil, parece que está faltando algo em algumas faixas como Lost, Social Anxiety, Legacy e Blood On My Hands. Os destaques positivos ficam por conta das duas melhores músicas do álbum: a balada A Lonely Walk e a longa Control.

A comparação é inevitável e não se restringe à questão familiar, o Next To None lembra muito duas fases específicas do Dream Theater: When Dream and Day Unite – assim como na faixa Control, os reis do metal progressivo estavam começando e privilegiavam bastante os teclados – e Systematic Chaos – quando o Dream Theater abraçou elementos modernos semelhantes aos da faixa Runway.

A Light In The Dark está longe de ser uma espécie de clássico instantâneo do metal progressivo, mas merece atenção pelo potencial apresentado, apesar de algumas limitações e da inexperiência. Em tempos de seca de boas bandas novas, devemos anotar o nome do Next To None e esperar o amadurecimento em trabalhos futuros.