Nem que a vaca tussa

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Assisti a esse filme me sentindo em um enterro. E, de certa forma, era mesmo, pois Nem Que a Vaca Tussa é a última animação tradicional da Disney – de agora em diante, a empresa do Mickey só vai fazer animações em computação gráfica. E é com tristeza que digo que não foi uma despedida digna. Principalmente se lembrarmos que a Disney foi a criadora de clássicos da animação como Peter Pan, Mogli, Branca de Neve, Bela Adormecida, A Dama e o Vagabundo, além dos mais recentes O Rei Leão, Aladdin e Hércules, entre muitos outros. Não é preciso pensar muito para lembrarmos de algum desenho que alegrou e encantou de milhões de crianças (e adultos) no mundo inteiro. E agora, aquela que popularizou e evoluiu a animação vai abandoná-la. É triste, mas é verdade.

Lamentos à parte, Nem Que a Vaca Tussa é um filme que traz algumas das características sempre presentes nos longas da empresa, como a espetacular beleza visual e a divertida trilha sonora, porém se esquece do principal: uma história cativante. Aliás, a história aqui presente poderia até ser cativante, se já não tivesse sido contada milhões de vezes antes.

O básico do básico: Pearl, a dona da fazenda Pedaço do Céu tem uma dívida e, como ela não tem grana para pagar, sua fazenda será leiloada em alguns dias. As vacas da fazenda então, decidem conseguir a bufunfa necessária. Mas como? Descobrem, então, que existe uma recompensa para aquele que capturar o ladrão de gado Alameda Slim que, por coincidência, é exatamente o mesmo valor da dívida da fazendeira. E a partir daí, elas embarcam em uma aventura para capturar o vilão antes que Rico, o caçador de recompensas mais famoso da região, o faça.

Os pontos positivos são os já citados: o visual é um espetáculo. Cores vivas, personagens bonitinhos e divertidos, animação perfeita. Tudo aquilo que a gente vai sentir falta, por melhores que fiquem as incursões da empresa em CG. A trilha sonora também é uma das mais legais dos últimos tempos, todas com um tom western muito legal, com destaque para a música cantada pelo vilão, que é divertidíssima. Também merecem destaque as cenas de luta protagonizadas pelo cavalo convencido Buck, que tiram sarro de muitos filmes de ação dos últimos anos.

Pontos negativos: a história simples não é nenhum problema (vide Procurando Nemo e Monstros S.A. que são maravilhosos), mas a forma apressada com que ela é contada. O filme, infelizmente não desenvolve o suficiente seus personagens para que possamos nos afeiçoar a eles. Apesar de algumas boas piadas, simplesmente não existe nenhum personagem aqui com o brilho de um Gênio (Aladdin) ou de um Pumba (O Rei Leão). E como quem já lê o DELFOS há algum tempo sabe, filme com história mal contada não é um filme, mesmo que venha da minha querida Disney (o que prova a nossa imparcialidade, pois a Disney sempre foi muito especial para mim).

Nem Que a Vaca Tussa está fadado ao fracasso de bilheteria. E isso não tem nada a ver com o fato de ele ser ou não em computação gráfica. Tem a ver com a falta de uma história cativante como as de antigamente. Infelizmente, parece que só a Disney (a maior interessada) não enxerga isso. Que façam seus filmes por computação gráfica sem a Pixar (que já divulgou que, quando o contrato vencer, vai prosseguir sozinha – e com certeza se dando muito bem) e, quando perderem ainda mais dinheiro (já que um filme em CG custa muito mais caro que uma animação tradicional), quem sabe não percebem que o problema não está na técnica utilizada, mas na criatividade. E então, talvez tenhamos de volta as animações do estúdio que nos trouxe A Bela e a Fera. De preferência com a mesma qualidade.