Não Estou Lá

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Delfonautas dedicados já sabem da minha rinha com os oscarizáveis. Em especial, estes oscarizáveis que tentam transformar uma personalidade qualquer em um herói de vida difícil. A seu favor, Não Estou Lá pelo menos tenta mudar as coisas mostrando o protagonista como várias pessoas diferentes. Assim, Bob Dylan vira um molequinho negro (Marcus Carl Franklin), um travesti (Cate Blanchett ) e até o Batman (Christian Bale) e o Coringa (Heath “Presunto” Ledger).

Assim, acompanhamos a vida do Roberto Dilão de forma não linear, através de personagens que nada têm a ver uns com os outros. E eu, como alguém que conheço pouco além dos grandes sucessos de Dylan, fiquei boiando. Então quer dizer que o carinha nasceu negro e depois, através de operações, ficou branco, como o Michael Jackson? Depois de velho, inclusive, ele percebeu que era uma mulher, mas como todo mundo já o conhecia com nome de homem, resolveu continuar se vestindo como tal?

Ok, estou me fazendo de desentendido só para provocar os fã-náticos. É óbvio que o pobre moleque negro está aqui simplesmente pelo sistema de cotas hollywoodiano e a Cate Blanchett foi escalada porque colocar mulher para fazer papel de homem é a forma mais fácil de arrebatar alguns prêmios e de chamar a atenção para o filme. O problema é que a Cátia Bronquite é tão magrela que simplesmente não dá para engolir que ela é homem. Por melhor que seja a atuação da garota, não existe nenhum homem no cinema estadunidense que pareça um palito de dentes. E o mais bizarro, a roupa que ela usa não conseguiu esconder o volume dos seus seios, o que é de se estranhar, já que eles são praticamente inexistentes e esconder seios é algo comum e fácil de se fazer.

Para completar, apesar de alguns planos estilosos e de uma inegável preocupação com a parte visual do filme, Não Estou Lá é incrivelmente pretensioso e pedante, sobretudo se lembrarmos que estamos falando de um oscarizável, quiçá o gênero mais burro desde as comédias românticas, pois apenas se utiliza de uma série de fórmulas que todos conhecem para emocionar o espectador.

Temos aqui um longa que beira o nonsense. Mas não o Humor Nonsense do qual tanto gostamos, está mais para aquele nonsense “mamãe, olha como esses trouxas acham que eu tenho muito a dizer só porque fiz um roteiro sem pé nem cabeça” do David Lynch, manja?

Afinal de contas, todos os “Bob Dylans” são personagens independentes, sem nenhuma relação uns com os outros (a não ser o fato de que representam fases da vida do Robertão) e não tem nenhum motivo racional para o personagem da Cate Blanchett, que é homem, ser feito por uma mulher. Quer dizer, nenhum motivo a não ser chamar a atenção e faturar prêmios. E convenhamos, por mais que isso dê certo, não é razão suficiente, seria melhor que o personagem em questão fosse um travesti mesmo e pronto.

Ok, acho que essa resenha está um tanto crítica demais, mas calma. Não estamos falando de nenhuma bomba que vai despertar seus sentimentos menos nobres ou algo assim. É simplesmente um filme longo, chato e pedante que, por acaso, tem uma trilha sonora bem legal. Se isso for o suficiente para você, divirta-se.

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Nota
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
nao-estou-laPaís: EUA/Alemanha<br> Ano: 2007<br> Gênero: Oscarizável<br> Duração: 135 minutos<br> Roteiro: Todd Haynes e Oren Movenman<br> Diretor: Todd Haynes<br> Distribuidor: Europa<br>