Michael Kiske é um cara polêmico. Muito polêmico, eu diria. Ele diz o que pensa e faz o que acredita que seja o certo. Por isso mesmo, criou muitos inimigos no campo musical, principalmente no nosso querido Heavy Metal. Já da minha parte, posso dizer que adoro o que ele faz e concordo com a maioria das coisas que ele diz. Kiske acredita que o cenário musical perdeu a confiança na música verdadeira, criada do fundo da alma do músico, de tudo o que ele acredita, e virou algo como simples fast-food, puro business, onde as gravadoras só dão valor à música descartável que vende, mas que não é verdadeira, por assim dizer. E eu concordo.
Já cansamos de ver bandas fabricadas do dia para a noite, lançarem um disco, venderem milhões de cópias e desaparecer com os bolsos cheios da grana. Kiske também acredita que os jovens são pessoas muito influenciáveis, que as escolas de hoje quase não ensinam nada que sirva para o verdadeiro crescimento de um indivíduo e que o materialismo está destruindo os verdadeiros valores da humanidade. Sim, eu concordo com essa também. “A maioria dos metaleiros são pessoas de cabeça fechada, que se prendem a um só estilo de música e esquecem que existem outras coisas que devem ser apreciadas”, diz Kiske. Mais uma vez, não mudo uma letra do que ele falou.
E é claro, Kiske concorda com a parcialidade jornalístisca aqui do DELFOS, pois ele mesmo diz que resenhas de CDs devem ser feitas de uma maneira totalmente pessoal (muito de preferência na primeira pessoa do singular), pois a análise da arte da música, excluindo alguns pontos que são excessão, dependem totalmente da percepção do indivíduo, e não pode ser generalizada para um grupo de pessoas, e nem mesmo para uma pessoa que seja. Ou seja, eu posso dar a minha opinião sobre um CD, mas tenho que deixar claro que você pode discordar comigo e que, portanto, para ser justo mesmo, você só vai saber como é o álbum a partir do momento em que escutá-lo por si mesmo. E é claro, você já deve ter adivinhado, mais uma vez eu concordo com ele, assim como todos aqui no DELFOS.
Mas o amigo delfonauta deve estar se perguntando o porquê de toda essa introdução sobre a pessoa Michael Kiske. O que tenho a dizer é que Kiske, seu mais novo trabalho, é um álbum que deve ser ouvido e entendido levando em consideração não só esse magnífico músico, mas tudo o que ele acredita e defende.
No meio de tanta música ruim, feita com o intento de apenas ganhar o maior número de verdinhas que conseguir, Kiske é um artista único. Desde que saiu do Helloween, ele vem travando uma batalha para se desvencilhar de suas raízes metálicas que, por mais estranho que pareça, vêm atormentando-o desde os tempos da abóbora germânica. Isso é uma prova de sua fidelidade à sua personalidade musical. Ao invés de tentar fazer mais um Keeper Of The Seven Keys, como toda a crítica musical e a maioria dos fãs querem, e novamente vender milhões de cópias, ele foi justamente na contramão, cada vez mais fugindo do estilo que o consagrou para se manter satisfeito consigo mesmo e para não deixar sua música morrer, como ele mesmo disse.
Dito isso, você pode esquecer tudo o que já ouviu a voz de Michael Kiske cantar, sentar e relaxar ouvindo esse ótimo álbum de Pop Rock. Sim, é simplesmente um Pop Rock com instrumental basicamente acústico e muito pouco de guitarra. É, está mais para Pop do que para Rock. Aqui, Kiske mostra todo o seu potencial como o vocalista e intérprete magnífico que é e canta todas as músicas da maneira mais pessoal e emotiva possível. Afinal, o álbum inteiro, com excessão do bônus track japonês (um cover da música Mary In The Morning, de Elvis Presley) foi composto por ele, e tudo também foi mixado e produzido pelo cara. Inclusive grande parte dos violões foi ele mesmo quem tocou. É praticamente impossível ser mais pessoal. Eu pude sentir todo o carinho e a paixão com que Kiske canta todas as músicas e a simplicidade e beleza das melodias de suas composições. Tudo foi feito de coração e você percebe quando a música é feita com sinceridade.
O time que foi chamado para gravar o álbum foi Sandro Giampetro na guitarra e violões, Fontaine Burnett no baixo e Karsten Nagel na bateria. O instrumental se encaixa bem nas músicas, mas está presente simplesmente para acompanhar a voz de Kiske, que dita a melodia de cada canção. As letras, como tudo no disco, também são muito pessoais. Kiske coloca o seu pensamento sobre a indústria musical, sobre religião, espiritualismo e a situação da atual sociedade em que vivemos. Sempre gostei das letras de seus trabalhos solos anteriores e aqui não é diferente. É o tipo de letra às vezes positiva e às vezes filósofica, que faz a gente pensar sobre a vida e o que fazer dela. Muito legal!
Ah, a capa do disco é linda, e reflete muito bem toda a leveza e pureza da música presente dentro do produto. Um grande trabalho de Michael Kiske, um álbum feito com paixão, com sinceridade. Se você não gosta de ouvir coisas leves, não vai gostar desse álbum. Mas como Michael Kiske disse, isso só vai depender de você, e de como você receber a música. Por isso, confira por si mesmo! Eu adorei.