É engraçado como determinados filmes têm tudo para serem bons, mas não conseguem esse feito. Mentiras Sinceras é um deles. Tendo como base o livro A Way Through The Wood de Nigel Balchin, o diretor e roteirista Julian Fellowes conta a história de um casal que aparentemente vive bem até acontecer um acidente que leva o relacionamento conjugal à ruína.
Tom Wilkinson, de Entre Quatro Paredes, interpreta muito bem o advogado James, um homem metódico e dedicado ao trabalho que vê sua carreira ameaçada quando fica sabendo do adultério de sua mulher Anne (Emily Watson, boa atriz como de costume), principalmente porque ela acaba se envolvendo em um acidente que pode levá-la à prisão. O pivô da crise do casal é Bill Bule – papel de um Rupert Everett completamente diferente de suas comédias habituais como O Casamento do Meu Melhor Amigo e Amor a Toda Prova – o vizinho rico e bonito, que destrói o relacionamento de James e Anne sem qualquer culpa. Com três atores deste nível, era de se esperar um bom filme, certo? Errado. Da metade para o final, o que havia de interessante na história se perde e o que resta é tão normal e aguado como uma novela das oito. Sério mesmo!
Além dos bons atores, não há mais nada? Com certeza Mentiras Sinceras tem outros pontos positivos além do bom elenco como, por exemplo, seus diálogos ácidos e irônicos, que me lembraram o Closer – Perto demais. Acontece que enquanto este último se mantém intrigante até o final bem deprê, o primeiro de repente fica morno e termina com um final modesto, daqueles que você vai se perguntar: tá, mas e aí? É só isso? A verdade é que é só isso mesmo. E de quem é a culpa? Bom, apesar do blá blá blá de que cada longa-metragem tem seus problemas, no final, quando o elenco é bom e o filme fracassa, a culpa geralmente pesa sobre duas pessoas, o diretor e o roteirista, ou seja, no caso deste filme: Julian Fellowes, que há poucos anos ganhou o Oscar de Melhor Roteiro Original pelo chatíssimo Assassinato em Gosford Park. Sim, neste caso o cara cometeu a façanha de fazer um início ótimo, repleto de mistério e, de repente, jogar o próprio filme na latrina.
É difícil prender a atenção do espectador logo no começo mas, quando se consegue isso, relaxar e tornar a própria obra um tédio é ainda mais difícil. O pior de tudo é que Fellowes não é o único diretor que fez isso. Pelo contrário, este tipo de coisa acontece muito no meio cinematográfico. Então não vale o ingresso? Só se você gostar muito de filmes de gênero indefinido, que misturam elementos e não se aprofundam em nenhum deles e, ainda por cima, com finais medíocres. Se não, eu não aconselho. E não há mais o que falar. O que me resta a fazer é lamentar por um filme que tinha muito potencial, mas ficou só nisso. De fato é uma pena.