Uns dois anos atrás, eu me distanciei muito do Manowar. Em parte, porque aconteceram certas coisas na minha vida que me fizeram repensar muito nos valores guerreiros que eu vivia até então, mas isso é assunto para outro texto. Mas a maior causa deste afastamento foi causada pela brilhante ideia da banda de “regravar” o seu primeiro álbum.
“Regravar”, em aspas, porque o que eles fizeram, na verdade, foi pegar um dos álbuns mais perfeitos do metal épico e destruí-lo segundo por segundo, rasgando sua carne, queimando seu coração, esfaqueando-o nos olhos e estuprando sua mulher enquanto ela chorava, gerando assim o abominável Batlle Hymns MMXI.
Minha decepção com o Manowar foi tanta que eu parei de ouvi-los quase completamente. E olha que eu continuei fiel a eles mesmo depois de um show que o Brasil inteiro odiou. Eu sequer esbocei um mísero sorrisinho ao saber que eles haviam anunciado um novo álbum, que seria lançado primeiramente no Reino Unido, em uma majestosa edição especial da revista Metal Hammer U.K..
Mas Odin mata certo com golpes tortos, amigo delfonauta. Um belo dia, o Corrales, voltando de uma visita às Ilhas Malvinas (que é um território geograficamente argentino e politicamente britânico), chegou aqui na redação com a tal edição do álbum e viu que ele era bom. Ele me disse para tocá-lo mais alto que o inferno e escalou-me para resenhá-lo. Como eu sou um bom Fuzileiro Espacial estagiário, fiz o sinal do martelo e aceitei sem questionar, embora não estivesse muito animado. Foi então que coloquei o disco para tocar e tudo mudou.
THE LORD OF STEEL
A primeira faixa do disco é a que leva o nome do álbum, The Lord of Steel, e ela começa com um riff matador. Isso mesmo, brother of metal, o álbum começa com um riff. Nada de roncos de motos, narrações pomposas com chuva e teclado ou orgasmos, apenas um puro e simples riff. E este pequeno trecho pode ser encarado como um aviso de como é todo o álbum: rápido, direto e sem enrolação.
Mas a faixa que chamou mesmo a minha atenção foi a seguinte, Manowarriors. E esta faixa é basicamente um agrupamento de tudo o que faz o Manowar tão legal: uma declaração de amor ao metal, convidando-nos para lutar contra o mundo em nome da cerveja e do aço, com refrão feitos para ser cantados pela plateia. Esta música foi praticamente um raise morale em mim, fazendo o trovão fluir novamente em meu sangue. Até agora, é extremamente difícil eu escutá-la sem erguer os punhos e me sentir como um guerreiro pronto para a batalha, berrando seu refrão com sangue na voz. E duvido que você também não sinta este chamado às armas.
O álbum segue com a ótima Born In a Grave, que é uma música mais dark, falando sobre morcegos, pecados e tumbas, coisas mais comuns do metal clássico. O instrumental é bastante pesado, mas sem aquele peso pomposo de músicas como Demon’s Whip. Pode-se dizer que o peso desta música a torna extremamente simples. Ainda assim, o refrão é testosterônico e a voz de Eric Adams é sempre um show à parte.
A próxima faixa, Righteous Glory, é a mandatória balada épica, cantada por um guerreiro que conta, em meio a belas harmonias quase acústicas, sobre sua morte em batalha, o encontro com as valquírias e sua triunfal recepção em Valhalla. Eu vou ser sincero que músicas assim sempre me deixam com a sensação de que vou romper em lágrimas a qualquer momento. Sim, caro delfonauta, eu sou tão trüe que historinhas de amor não me afetam, mas contos de soldados me transformam em aço líquido. Pra você ter ideia, eu chorei pra caramba lendo Capitão América: A Escolha.
Já a quinta faixa, Touch the Sky, é a mais fraca do álbum. Não que ela seja ruim, só não tem nada de memorável. O refrão até que é legalzinho e o solo é muito bom, mas depois que chega ao final, você acaba esquecendo dela.
A faixa seguinte, Black List é outra faixa bastante pesada e com uma letra mais dark. A voz de Eric demora um pouco para entrar, o que me fez pensar que seria mais uma daquelas intermináveis músicas instrumentais que o Manowar adora fazer, mas fiquei feliz ao constatar que estava engando. Mas se você reparar bem, a voz de Eric fica em segundo plano aqui, já que o destaque vai mesmo para os riffs fritadores de Karl Logan. Sinceramente, eu não gostei dela na primeira vez em que a ouvi, mas após algumas audições, comecei a me afeiçoar por ela.
MANOWAR E CINEMA
E finalmente chegamos a uma das faixas mais aguardadas do álbum, Expendable, uma faixa conceitual sobre a maior declaração de macheza já vista em uma sala de cinema. Pelo pouco que sei do filme, já que ele não estreou na pequena cidade em que moro, a letra está bem fiel. Esta, infelizmente, não é uma canção para se ouvir durante os tiroteios e explosões, mas sim enquanto eles se preparam para a missão, carregando suas armas, checando a munição e honrando a memória do, como diz na música, “our brother who died”.
Se a música acima não foi feita para tiroteios, não se pode dizer o mesmo sobre a faixa seguinte, El Gringo, a melhor canção do disco. Se você é um verdadeiro brother juramentado pelo vento preto, fogo e aço, já deve saber que esta música foi feita especialmente para compor a trilha do filme El Gringo. Esta música é tão cheia da energia típica de um testosterona total que é fácil imaginá-la tocando em uma cena de tiroteios e explosões. Ela é rápida, violenta, poderosa, e cheia de catch-phrases típicas destes filmes, como “I’m just a gringo”. Para ver o trailer do filme, basta pedir para este link te carregar acima da terra e do mar, através da ponte do arco-íris.
Annihilation é a penúltima música do álbum e ela não tem quase nada de especial. Quando ela se aproxima do final, você acha que esta se tornará uma faixa tão esquecível quanto Touch the Sky, mas é aí que entra um destruidor solo de guitarra, explodindo as suas caixas de som e, após ele, uma demonstração do poder que Eric Adams guarda dentro de seu peito de Chester, o mesmo que abriga seu coração de aço.
E nossa jornada épica termina com Hail, Kill and Die, mas se você acha que esta será uma faixa destruidora como Hail and Kill, pode tirar seu cavalo negro como a escuridão de olhos flamejantes da chuva de flechas pretas, defensor que Deus enviou. Assim como outras faixas do álbum, esta também é uma faixa pesada. Porém, pela primeira vez no disco, ela me lembra uma outra música da banda: Die For Metal.
Assim como sua antecessora, esta música pode não funcionar muito bem em estúdio, mas tem um potencial enorme para ser cantada ao vivo. E mesmo em estúdio, ela fica bem legal nas últimas estrofes. Esta também é a música mais produzida do álbum, com teclados fazendo coros dignos de um rei no refrão. A letra, como não podia deixar de ser, faz referência aos álbuns e a algumas músicas do próprio Manowar. Tem gente que não gosta disso, mas eu particularmente acho que é este egocentrismo que faz o Manowar ser uma banda tão divertida. E assim, com um trovão no céu, encerra-se o mais novo ato de glória, trüeza e macheza dos absolutos reis do metal.
O LADO NEGRO DE VALHALLA
Problemas? Sinceramente, é difícil de dizer. A produção deste álbum é bastante simples, porém bem executada, o que deixa a banda em uma posição defensiva, evitando erros, mas também impedindo que as músicas alcancem a glória. Uma coisa que eu não gostei de início foi o som da gravação, que parecia estar mais baixo que o comum para uma banda que mata ao invés de tocar, mas após alguns minutos, nem percebi isso. Outros dois problemas são a capa e o título do álbum, ambos genéricos e sem sal, diferente dos musculosos guerreiros com espadas ao alto e nomes inspiradores que já se tornaram a marca registrada da banda.
Mas não me entenda mal, brother. The Lord of Steel é um ótimo álbum. Inclusive, ele é muito melhor que o famigerado Into Glory Ride ou que a metade ruim do Sign of the Hammer. Porém, nenhuma de suas músicas alcançam o nível de faixas como Call to Arms ou Hail and Kill. Ainda assim, está longe de ser um álbum nada e, se você é um cara cujo sonho de vida é cavalgar ao luar com 10 mil machos lado-a-lado, você com certeza não se arrependerá de ouvir este álbum.
Para encerrar, vale lembrar que a versão analisada é a Hammer Edition que foi distribuída com a já citada edição especial da revista Metal Hammer U.K.. A versão definitiva do álbum está saindo das forjas de Svartálfaheimr para lutar contra o mundo. De acordo com DeMaio e sua trupe, o álbum definitivo terá uma pós-produção mais caprichada, uma capa tremendona e uma faixa bônus. Vamos ver se vai ser realmente diferente.
CURIOSIDADES:
– Eu enchi o texto de referências às músicas do Manowar. Será que você é trüe o suficiente para encontrar todas? O delfonauta que listar mais referências aí embaixo, nos comentários, ganhará um exclusivo high five telepático abençoado por Odin.
– Eu devo ser a única pessoa do Brasil que não achou o show que eles fizeram aqui em 2010 tão ruim assim. Para ser sincero, eu até gostei. Se quiser saber mais, você pode ler a resenha do show, que também foi meu primeiro texto para o DELFOS.
– O Manowar não se pronunciou sobre isso, mas toda vez que eu ouço Born In a Grave, não consigo deixar de imaginar que esta música foi inspirada pelo super-astro da WWE The Undertaker. A biografia do personagem lembra bastante a letra da música.