Luciferian Light Orchestra

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Passados cinco anos desde o último lançamento de inéditas do Therion (Sitra Ahra, de 2010), o genial Christofer Johnsson nos presenteia com o seu novo projeto, Luciferian Light Orchestra (2015), cujas músicas já haviam sido escritas ao longo dos anos, porém, nunca foram lançadas por serem “retrô” demais para o Therion.

Em seu primeiro álbum, autointitulado, a banda faz claramente menção ao occult rock e aos anos 70, com uma uma sonoridade vintage e melancólica. Completamente imerso em satanismo e em artes ocultas “da pá virada”, o registro traz elementos bem definidos do estilo com suas próprias características. O álbum contou também com a participação de 22 músicos, dentre os quais membros e ex-membros do Therion. Porém, quem espera ouvir algo parecido com a banda mais famosa, estará ouvindo o disco errado.

O álbum começa com a diretíssima Dr. Faust on Capri, que não deixa tempo para você se preparar para a hipnótica voz da vocalista, Mina Karadzic, criando uma atmosfera bem empolgante para o que virá. A música é sobre a peça de teatro A Trágica História do Doutor Fausto, que relata a vida de um homem que vende sua alma ao diabo, Mefistófeles, que em troca lhe concederá poder, conhecimento e tudo mais que ja estamos acostumados sobre o assunto. O refrão mantém um interessante ritmo que poderia continuar por horas sem soar repetitivo juntamente com referências diretas ao tema citado, e com um ar grave e sombrio das guitarras. Também temos o acompanhamento de um coro masculino no estilo do Therion. Ao final, pode-se ouvir uma estranha música antiga tocando.

Na sequência, a matadora Church of Carmel, que se não for a melhor música do álbum, é a segunda melhor. Destaque novamente para a vocalista, que por muitas vezes canta de forma tão suave e sublime que beira o erótico. Assim como praticamente o albúm inteiro, esta música está repleta de referências e simbologia.

No que tange à música, temos uma melodia completamente alucinógena, marcada por cânticos e solos simples, porém matadores e eficientes. Especificamente, o solo desta música lembra muito os do Ghost B.C. São quase quatro minutos de pura viagem. Em relação ao conteúdo, podemos encontrar uma ode a um rito de sensualidade que tem como objetivo, o encontro sexual com Satã. A música é sobre Joseph-Antoine Boullan, um padre católico que comandava uma igreja de Carmel e posteriormente foi acusado de satanismo e preso por três anos. As acusações vão de sacrifício de crianças a rituais de sexo com magia. Isso está explícito na letra.

Continuando, temos Taste the Blood From the Altar Wine, que cativa pelo refrão, que mais parece um mantra ou invocação do que um refrão. Música intensa, com partes onde a guitarra base e a voz se encontram e deixam a coisa toda bem macabra. Repetições de nomes como Satã, bode de Mendes, Belzebu e Baphomet, a essa altura, já são normais! Há uma citação de um lugar chamado Blåkulla, que é o local da Suécia onde bruxas se encontram para o Sabbath.

Black Mass in Paris me lembrou muito a primeira, que segue sem firulas ou introduções demoradas, e na qual a vocalista muda seu tom de voz, de suave para imperativo. É bem interessante. Temos também alguns sussurros dizendo “ride the devil” repetidamente o que, combinado com sua voz mais séria, deixa a música muito mais direta. Show!

(Eater of Souls traz elementos um pouco mais variados para o álbum. Algo como um tipo de misticismo é incorporado à sonoridade da música, porém, sem nenhum brilho. É a primeira faixa na qual temos um dueto entre a voz feminina e a masculina.

Venus in Flames é a que entra na disputa com Church of Carmel para ser a melhor do álbum. Percebe-se que a vocalista não economiza na interpretação do tema ao sensualizar sua voz, que novamente beira o erótico. Com passagens de instrumental bem elaborado, dá a sensação de ser aquela música épica que estamos acostumados no Therion, com sons bem variados dentro da mesma faixa.

Continuando a viagem, em Sex with Demons, Mina sussurra: sucking me / licking me, ao passo que a voz masculina diz ter feito sexo com demônios. Musicalmente falando, o som é fraco, tem apenas um simples solo de guitarra e um de órgão para enfeitar. Creio que a intenção nessa faixa foi apenas mostrar que é possível fornicar com capirotos.

Em Moloch, temos uma atmosfera puramente litúrgica, que invoca o tal demônio, enaltecendo suas características e feitos, tudo apenas com vocal masculino. É basicamente um rito sem quaisquer elementos que chamem a atenção. Momento fraco do álbum.

Fechando o álbum, temos a inesperada Dante and Diabaulus que é marcada pelo dueto, só que desta vez com um vocal masculino um pouco mais forte, o que acompanhado dos riffs, deu um punch na música e trouxe um groove com uma pegada mais rock and roll. Para finalizar, Mina geme durante a música e repete a palavra demônio em outros idiomas, sem dúvida uma boa idéia.

Considerando que o álbum tem pouco mais de 30 minutos, e cumpre sua proposta de apresentar um “occult rock” setentista, com uma vocalista tremenda e 22 músicos trabalhando em um enredo musical sombrio, o álbum é muito bom e garante várias viagens enquanto se ouve. Que venham mais!

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