Last Day of June é um daqueles jogos que mostra toda a força dos games como mídia narrativa e como veículo de emoções e sentimentos. É o tipo de experiência que não poderia existir com o mesmo poder em nenhuma outra mídia e, embora não seja exatamente um jogo comercial – longe disso, aliás – é batata que apaixonados pelos games vão se emocionar bastante com a tocante história de Carl e June.
Eles são um fofo casal que moram juntos em um bairro bem tranquilo. Um dia, no último dia de June do título, eles sofrem um acidente de carro que mata June e deixa Carl em uma cadeira de rodas.
Seus primeiros momentos com o jogo obviamente serão passados conhecendo o casal em sua rotina enquanto eles fazem coisas carinhosas um com o outro. Sem dúvida alguma teve uma influência bem forte daquela cena fantástica do início de Up – Altas Aventuras, e ela é muito bem aproveitada.
Neste início, dá a sensação de que o foco do jogo vai ser justamente na narrativa, algo que vem se tornando a principal característica da 505 Games, que entre outros, lançou Abzû e Virginia. No entanto, ele logo vai mostrar suas influências de adventure e se tornar algo que junta mecânicas e história de forma muito tocante e especial.
Isso é ajudado consideravelmente por seu belíssimo visual altamente artístico, que combina cores saturadas e linhas desfocadas para criar um estilo marcante e altamente romântico, que torna tudo ainda mais emocionante. A música, com suas levadas a piano e violão, ajudam a fazer com que você fique sempre com o coração na garganta.
POINT AND CLICK
Apesar de ser uma história dramática, não seria exagero dizer que Last Day of June bebe na fonte de Premonição. Isso porque você assume o controle de uma pessoa que foi responsável pelo acidente, e seu objetivo é dar um jeito de impedir a tragédia. No entanto, a morte sempre encontra um jeito, e logo outro motivo aparecerá para o mesmo acidente.
Por exemplo, o acidente original acontece quando um menino tenta pegar sua bola que foi para o meio da rua. Você pode impedir isso fazendo-o brincar com uma pipa, mas daí você usará a corda. A corda seria usada por uma mulher para prender sua bagagem em seu carro e, sem a corda, as coisas vão cair no meio da rua. Sacou a lógica?
Seu objetivo é jogar através de todas as histórias que causariam o acidente e fazer com que elas formem um quebra-cabeça que, ao serem tocadas em conjunto não matem ninguém. Em outras palavras, o que você faz em uma afeta a outra. Você pode, por exemplo, usar a corda para empinar pipa ou para prender a bagagem, mas vai ter que lidar com as consequências que uma terá na outra.
Quase tudo que você faz em uma história afeta as outras. As portas, por exemplo, abrem apenas de um lado, então é essencial abrir tudo que você consiga em uma história para aumentar o espaço explorável das outras. É intrigante, e demonstra também influência do clássico dos point and clicks, Day of the Tentacle. Ao invés de uma linha temporal mudar o que acontece no futuro, tudo está acontecendo de forma simultânea, e cabe a você montar o quebra-cabeça para atingir o final feliz.
REPETIÇÃO
Pela descrição acima, você deve ter sacado que rola um certo grau de repetição. Você precisa entrar em cada história várias vezes para montar tudo direitinho, o que é ok. O problema é que as cutscenes se repetem e não são puláveis. Você vai ver, por exemplo, o moleque pegando a bola na rua e causando o acidente algumas dezenas de vezes, e não dá para negar que isso enche um pouco o saco.
Isso porque, para montar o quebra-cabeça do jeito que você quer, é necessário deixar o acidente ocorrer em algumas histórias, então seria bem melhor se o jogo não obrigasse você a aguentá-las com tanta repetição. Ver a história uma vez é um prazer, ver a mesma coisa pela décima vez é outra história.
Os saves também são mais distantes do que deveriam. Basicamente, o jogo só salva entre as histórias, quando você assume o controle de Carl, e às vezes tem umas boas dezenas de minutos entre cada uma delas.
LAST DAY OF JUNE
São poucos personagens, mas são todos memoráveis, formando uma história e um conjunto narrativo coeso e emocionante. Você vai se apegar a cada um deles, e apenas os mais viris guerreiros do aço e do trovão vão conseguir terminar Last Day of June sem derramar algumas lágrimas. Conte pra gente nos comentários se você conseguiu.