Jogos Mortais IV

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Leia aqui a resenha de Jogos Mortais 2.

Na noite anterior a essa cabine, eu tive um pesadelo relacionado a este filme. Quando acordei, assustado e desorientado, a primeira coisa que fiz foi me certificar que estava no meu quarto e não em um porão sujo com uma máquina estranha ao redor da minha cabeça. Felizmente, tudo estava onde deveria estar, inclusive a minha cabeça, e é engraçado como mesmo os piores pesadelos se tornam engraçados algumas horas depois de você acordar.

Com pesadelos ou não, é incrível como esta série evoluiu de um Seven genérico (foi assim a divulgação do primeiro filme, o que era um absurdo, já que Jogos Mortais nem sequer é do mesmo gênero que Seven) para um dos grandes títulos do terror. Conversando sobre a série com um colega, ele comentou que, quanto mais continuações fizerem, maior é a possibilidade de estragar tudo. Isso é verdade e realmente é difícil pensar em alguma cinessérie que atingiu a oitava parte mantendo sua qualidade. Por outro lado, é também uma coisa curiosa da indústria da sétima arte. Afinal de contas, se um filme está dando certo para gerar tantas continuações, a preocupação com a qualidade deveria aumentar, não diminuir. Afinal, a responsabilidade em se fazer o roteiro de Jogos Mortais V é muito maior do que a do primeiro. Fazendo um paralelo com o DELFOS, eu diria que somos um site muito melhor hoje do quando eu comecei, quando era pouco mais de um hobby ambicioso. E espero que fique ainda melhor daqui a alguns anos.

Mas não quero me desviar, então vamos à sinopse. John Kramer, o Jigsaw, está morto e tudo começa na sua autópsia (que é extremamente gráfica). Dali em diante, acompanhamos um policial que vai seguindo as dicas deixadas pelo assassino e encontrando vários “jogos mortais” no caminho, que fazem com que ele veja as vítimas pelos olhos de Kramer. Ele acredita estar fazendo isso para salvar seus amigos, que estão presos e cuja morte é iminente, mas tudo indica que ele está mesmo é sendo recrutado. Mas se Jigsaw e Amanda estão mortos, quem está por trás de tudo? Enquanto isso, alguns flashbacks mostrando o passado e as motivações de John vão sendo mostrados.

A princípio, o espectador se sente jogando uma versão do mal daqueles adventures antigões da Lucasarts (bons tempos, como Monkey Island era legal!), mas logo a narrativa não-linear começa a adquirir contornos que lembram Lost, sobretudo quando vemos que John já havia encontrado vários dos personagens dos três filmes anteriores (portanto, eu recomendo que você tenha os três bem frescos na memória para sacar todas as referências) e, possivelmente, muitos dos que aparecem nesses flashbacks pela primeira vez vão ser personagens importantes no futuro da franquia. Isso possibilita que muitos mistérios sejam revelados e que muitos outros sejam introduzidos, garantindo, assim, muitos filmes para o futuro e uma cadeira cativa no coração de nerds do mundo inteiro. Afinal, juntando todas essas características, Jogos Mortais se torna, oficialmente, uma marca na cultura nerd, assim como o supracitado Lost.

Muitos dizem por aí que filmes de terror não precisam de um bom roteiro. Isso é balela de quem não sabe o que é realmente um bom filme de terror e faz com que realmente muitos dos roteiros do gênero deixem muito a dever. Isso não acontece aqui. Se os três anteriores já eram ótimos filmes de terror, este quarto filme coloca a franquia além disso. Jogos Mortais IV não é apenas o melhor filme da série, mas é uma verdadeira obra-prima da sétima arte.

Sem exageros, Jogos Mortais IV é tão bom que coloca a série ao lado da quadrilogia dos mortos de George Romero. Se nos filmes de zumbis, convencionaram-se usar o terror e a violência explícita para apresentar idéias sobre a relação entre as classes mais e menos favorecidas da sociedade, aqui isso serve simplesmente para contar uma boa (e intrigante) história. E não é essa a principal função do cinema no fim das contas?

Também não posso deixar de falar da trilha sonora. Praticamente composta de um único tema, é muito bem utilizada e já se tornou uma das mais marcantes do cinema. Outra coisa que merece destaque é a edição, com vários cortes que juntam praticamente na mesma cena duas coisas completamente diferentes. Pena que a maioria dos filmes nem tenta fazer algo diferente neste quesito.

Repare que, até agora, eu mal falei da violência do filme. Isso é porque ela simplesmente se tornou secundária, o protagonista aqui é o roteiro e a violência deixa de ser gratuita para servir a ele. Existem cenas aflitivas? De monte! Tem hora que os mais sensíveis não vão conseguir olhar para a tela enquanto os mais sádicos vão dar largos sorrisos e falar “hell, yeah, bitch!” enquanto levantam os dedos mindinho e indicador da mão direita? Oh, sim! Mutilação e tripas? Presentes em toda a sua glória, de forma que até mesmo cirurgiões experientes vão sentir algum enjôo. Enfim, tudo que fez com que a série ganhasse sua fama está aqui, só que dessa vez traz um roteiro de fazer inveja a muito grande filme. E veja só, por trás de toda a violência temos até uma mensagem positiva (valorize sua vida).

Por um lado, a violência explícita vai garantir que os fãs não se decepcionem. Por outro, vai impedir que o grande público e mesmo os intelectuais, percebam a qualidade da sua história, assim como acontece há décadas com o George Romero. Problema deles. A gente já sabe valorizar filmes de terror há muito tempo.

Admito, eu realmente acho que foi um erro terem matado John Kramer no terceiro filme, principalmente se considerarmos que mataram a aprendiz Amanda (hum… eu faria miséria se tivesse a Shawnee Smith com aquele cabelinho do segundo filme e uma fatia de mussarela derretida) quase ao mesmo tempo.

Ainda assim, este quarto filme acrescenta uma aura de mistério muito bem-vinda à história e a não-linearidade da narrativa permite que os personagens continuem aparecendo por muito tempo. É seguro dizer que este é o longa onde a franquia amadureceu. Jogos Mortais IV é, de longe, o melhor filme do ano até o momento (desconsiderando O Balconista 2, que entrou na minha lista de melhores do ano passado). Cacilda, dá até para dizer que é um dos poucos filmes realmente bons que esse ano nos trouxe. Tomara que a franquia continue gerando novas partes com a mesma facilidade e que fique cada vez melhor.

Independente da sua opinião sobre a violência, se você concorda comigo que um bom roteiro é o mais importante para um bom filme, e concorda também que bons roteiros originais andam em falta em Hollywood, faça um favor para si mesmo. Vá assistir a Jogos Mortais IV hoje! É simplesmente imperdível.

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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
jogos-mortais-ivPaís: EUA<br> Ano: 2007<br> Gênero: Teror<br> Duração: 108 minutos<br> Roteiro: Patrick Melton e Marcus Dunstan<br> Artista: 18 anos<br> Produtor: Mark Burg e Oren Koules<br> Diretor: Darren Lynn Bousman<br> Distribuidor: Buena Vista<br>