Iron Maiden & Shaman

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O Iron Maiden está, sem dúvida, entre as bandas internacionais que mais vieram ao Brasil. A sua popularidade, que não é de se jogar fora no resto do mundo, chega a ser absurda aqui. A paixão, no entanto, parece ser recíproca. Exemplos não faltam: além das constantes visitas dos ingleses ao nosso país, temos a capa de Virtual XI, que mostra um jogo de futebol do Brasil contra a Inglaterra, seu ex-vocalista Blaze Bayley é casado com uma brasileira e, tanto o Iron Maiden quanto a banda solo de seu vocalista Bruce Dickinson gravaram cds ao vivo aqui (Rock In Rio e Scream For Me Brazil, respectivamente). Pela sexta vez no Brasil, o Maiden prometia uma superprodução de arrepiar, o que, infelizmente, não aconteceu.

O show começou por volta das 20:20 com a abertura do Shaman, o que já se demonstrou um tremendo desrespeito com os mesmos, já que o horário marcado para o início do espetáculo era 21:00. Desrespeito, aliás, comumente repetido em shows de heavy metal, onde bandas de abertura são tratadas não como os artistas que são, mas como algo que ninguém quer assistir, o que o público do Pacaembu provou, neste caso, que não era verdade, batendo palmas e cantando com a banda, como toda banda de abertura merece ser tratada, apesar de os organizadores não perceberem isso.

O setlist do Shaman começou da mesma forma que todos os outros shows deles que eu assisti (e eu assisti vários), com a intro Ancient Winds, seguida de Here I Am, Distant Thunder, Time Will Come e For Tomorrow. Infelizmente, estas duas últimas não foram tocadas em suas versões integrais, provavelmente por causa do curto espaço de tempo que foi concedido aos músicos. O show continuou com a cover de No More Tears de Ozzy Osbourne, que foi muito bem recebida, seguida da global Fairy Tale e finalizando com Carry On, deixando de fora aquela que sempre me pareceu sua música mais apropriada para apresentações ao vivo, Pride. Infelizmente, este show foi marcado por uma performance abaixo da média do vocalista Andre Matos, que parecia nervoso (quem não estaria?) e por uma péssima qualidade do som, que estava excessivamente baixo, enquanto os vocais estavam altos demais, se comparados com os outros instrumentos, embora também estivessem baixos.

Restava aos headbangers presentes torcer para que a qualidade do som no Iron Maiden melhorasse. Não melhorou. Apesar disso, o show começou muito bem, com a nova Wildest Dreams, seguida de clássicos como Wrathchild, Can I Play With Madness e The Trooper, apesar da (falta de) qualidade do som, não tem como não se divertir vendo The Trooper sendo executada pela banda que a gravou originalmente, e ainda com um adendo, o guitarrista Janick Gers.

Após o desfile de clássicos, o show segue em frente com a nova e ótima Dance Of Death, introduzida por um playback da famosa frase de Shakespeare “Existem mais coisas entre o Céu e a Terra do que supõe nossa vã filosofia.” (Em inglês, é claro). Aqui começa realmente o espetáculo prometido pelo Iron Maiden, Bruce Dickinson entra no palco com uma fantasia que parecia uma mistura entre a Morte e o Fantasma da Ópera. A fantasia, o belo castelo usado de cenário e o clima místico da música realmente deram uma cara de super produção e a noite prometia, afinal, era a mesma “superprodução apresentada na Europa”. O show continua com a chata Brave New World seguida de Paschendale, com Bruce novamente fantasiado, desta vez de soldado, e umas trincheiras colocadas no palco, porém sem o mesmo impacto da Dance Of Death. O show segue morno, pois a produção nova acaba aí. Todo o resto era apenas a banda tocando com um setlist tão mal escolhido quanto o das últimas vezes que a banda veio ao Brasil, com exceção de Iron Maiden, com o já tradicional Eddie inflável no fundo do palco e Number Of The Beast, com a presença do Eddie em tamanho natural. Este, infelizmente, muito menos interessante do que o que vimos no Rock In Rio, aquele sim um Eddie bem feito. As outras músicas foram Lord Of The Flies – por que diabos eles tocaram essa? Futureal, Man On The Edge, Clansman e Sign Of The Cross são muito mais legais. E isso pra citar só a fase Blaze – No More Lies/a sempre empolgante Hallowed Be Thy Name/ a carne de vaca Fear Of The Dark/Journeyman em uma chatíssima versão acústica e Run To The Hills.

Enfim, mais uma passagem do Iron termina e ainda não tenho a resposta para a pergunta que não quer calar desde a primeira vez que assisti a um show deles: como eles podem deixar clássicos do Heavy Metal como Wasted Years, Aces High e Flight Of Icarus de fora do setlist? Um tapinha nas costas para quem conseguir responder.

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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).