Eu considero o primeiro Invocação do Mal um dos melhores filmes de terror de tempos recentes. Uma típica história de assombração, sem grandes novidades, porém de modo muito bem feito, utilizando-se mais de efeitos práticos e menos da tosca computação gráfica que tende a dominar o gênero.
Como todo filme que faz uma boa quantia de dinheiro, ele também ganhou sua inevitável continuação. A boa notícia é que o diretor James Wan, talvez o grande responsável pelo sucesso do original, também retornou para comandar Invocação do Mal 2.
Desta vez, o casal de investigadores paranormais Ed (Patrick Wilson) e Lorraine (Vera Farmiga) Warren vai até Londres avaliar se a casa de uma família local está realmente assombrada ou se tudo não passa de uma farsa. Sendo este um filme de terror, você já sabe a resposta. E os britânicos se referem ao caso como a “Amityville inglesa”.
Para você que não sabe, o caso de Amityville, envolvendo a família Lutz, a qual teria sofrido horrores sobrenaturais em sua residência nova, é uma das histórias “verídicas” de casa mal-assombrada mais famosas do mundo. Já foi bastante adaptada para o cinema, inclusive numa versão estrelada pelo Ryan Reynolds. E anos depois tudo foi comprovado como uma farsa.
Mas, voltemos ao que interessa. Talvez por não ter mais o fator surpresa do original, um filme do qual ninguém esperava nada e entregou bastante, o fato é que embora ela seja bem legal, é decididamente inferior ao seu antecessor.
James Wan faz um excelente trabalho de câmeras. Suas escolhas de ângulos e opções por em vários momentos acompanhar de perto os personagens em tomadas mais longas são sempre muito bem feitas e visualmente o filme é bonitão e sinistro.
O trabalho de som talvez seja, no entanto, o maior responsável pela atmosfera de terror. A exemplo do primeiro, muita coisa da ambientação depende de ruídos e barulhos sortidos e o apresentado nesse departamento novamente é excelente.
Contudo, como praticamente toda continuação, ele comete alguns excessos. Para começar, o longa é um tanto inchado. Demora muito para os Warren de fato entrarem na trama principal. O filme mantém sim um bom ritmo e em nenhum momento seus 133 minutos de duração se arrastam.
O que também não quer dizer que ele não poderia ser melhor enxugado para ficar ainda mais dinâmico e sem gorduras desnecessárias. Esta é uma tendência que tenho notado recentemente, esses filmes mais ao estilo blockbusters estão ficando cada vez mais longos, muitas vezes sem a menor necessidade. Parece que Hollywood está precisando de editores mais impiedosos.
Se isso não é o bastante para arrastar a coisa para baixo, o que acabou me decepcionando mesmo foi justamente o uso de CGI. Ok, o primeiro também usava, mas de forma sempre discreta, os efeitos de computação nunca eram o centro da ação. Aqui, em diversos momentos isso é exatamente o que acontece.
As partes em computação gráfica pesada destoam tanto dos momentos mais “analógicos” (efeitos práticos e/ou sonoros) que ficam bem estranhas. Quase parece que são trechos de outro filme colados acidentalmente neste, de tanto que difere do tom do resto da coisa.
O pior é que todas essas partes claramente poderiam ter sido feitas usando técnicas mais realistas, o que ainda por cima acaba passando uma sensação de preguiça ao não tentar fazer essas mesmas coisas de um jeito que talvez seja mais difícil, mas que, porém, poderiam render resultados melhores.
Apesar disso, o resultado geral ainda é muito acima da média do castigado gênero terror. Tem vários sustos que funcionam, o climão macabro perdura o tempo todo, é bem atuado e, como já disse antes, é uma beleza prestar atenção nos enquadramentos de James Wan.
Assim, Invocação do Mal 2 resulta numa sequência inferior, porém bastante digna. Se você gostou do primeiro, certamente vai gostar deste também. Assim como os fãs de terror no geral e da vertente mais sobrenatural do gênero também encontrarão aqui um bom programa para uma sessão noturna.