Nunca o título de um filme foi tão apropriado para sua cabine de imprensa quanto o de Inferno. Devido a um problema técnico com a cópia, a sessão programada para as 10h30 atrasou três longuíssimas horas, indo começar apenas por volta das 13h30. Ao menos lá pelo meio-dia foi distribuído pipoca e refrigerante para não matar a “jornalistada” presente de fome.
Este foi um daqueles dias em que você questiona seriamente suas escolhas profissionais. Afinal, eu jamais assistiria a este filme não fosse por obrigação jornalística. Não assisti às duas aventuras cinematográficas anteriores de Robert Langdon, nem pretendo assisti-las. Também não sou fã do Ron Howard, embora de vez em quando ele consiga fazer um ou outro filme bacana.
O mais perto que cheguei da obra literária de Dan Brown foi pegar Anjos e Demônios para ler e largar depois de umas vinte páginas, de tão ruim que achei. Diabos, cheguei até a escrever um Não li e não gostei sobre O Código da Vinci! Definitivamente o universo tem um senso de humor cruel para me dar um baita chá de cadeira justamente em mais um longa adaptado de um romance do sujeito.
Enfim, em sua nova aventura, Robert Langdon acorda sem memória em um hospital da Itália. Logo aparece uma galera hostil atrás dele e ele foge com a ajuda da médica do pronto-socorro. A dupla tem então de decifrar uma série de códigos para chegar à localização de um devastador vírus criado por um bilionário louco como medida para acabar com o problema da superpopulação e impedir que a nova peste se espalhe.
Sabe quando você não conhece o trabalho de alguém, mas tem um monte de impressões pré-concebidas e, quando finalmente entra em contato com alguma obra, elas acabam se confirmando? É exatamente o que aconteceu aqui. Era bem o que eu imaginava que seria uma história do tal do Dan Brown. Sem pé nem cabeça, mas com alguns detalhes históricos para dar um ar de classe para a coisa.
É uma aventura movimentada, embora bastante clichê, que mais parece feita para encaixar à força as locações na Itália e na Turquia. Também é cheio de reviravoltas completamente estapafúrdias, e alguns flashbacks totalmente desnecessários que, quando começam a aparecer, arrastam a dinâmica da narrativa para baixo. É daquele tipo de trama que complica demais e fica dando viradas desnecessárias e sem sentido para parecer bem desenvolvido, mas cujo resultado acaba sendo o oposto.
O negócio é tecnicamente bem produzido (embora a montagem tenha me lembrado demais o estilo de edição dos filmes do finado Tony Scott, que eu odiava), as paisagens são bonitas, o elenco se esforça e a direção entrega algo competente. Mas é bastante genérico. Muito esquecível.
Seria um filme nada não fossem os já citados e desnecessários flashbacks que arrastam o ritmo para baixo, deixando-o um tanto cansativo. E aqui, para dizer a verdade, não há como não entrar na conta as três horas de bobeira, o que acaba com a paciência de qualquer um.
Seja como for, agora finalmente comprovei. Dan Brown e os filmes derivados de sua obra definitivamente não são para mim. Contudo, se você gostou dos anteriores, diria que é bem capaz de gostar deste aqui também. Neste caso, manda brasa. Mas para mim, foi mesmo algo próximo do Inferno.