Indomável Sonhadora passa uma imagem bastante diferente do que ele é de verdade. Toda a divulgação em torno da beleza visual do filme, e os títulos, tanto o original quanto o nacional, dão a entender que seria um filme onírico, algo na linha de O Fabuloso Destino de Amélie Poulain. Mas não espere isso, delfonauta.
Aqui conhecemos uma garotinha muito fofa, com um nome bastante peculiar: Hushpuppy. Ela mora com o pai em uma comunidade alagada, apelidada pelos moradores de “banheira”. É um lugar bastante carente, onde cada capricho da natureza pode se tornar um perigo real para os habitantes. Quando o pai descobre que está doente, começa a ensinar a garota a sobreviver.
O filme é contado do ponto de vista da pimpolha, que não entende bem a situação ou o que está acontecendo. Inclusive os enquadramentos refletem como uma criança vê o mundo. Os adultos são constantemente mostrados da cintura para baixo e, com exceção do pai ou dos mais próximos, dificilmente vemos o rosto das outras pessoas.
A trilha sonora merece um destaque à parte. Trata-se da trilha instrumental mais bonita e emocionante desde Gattaca, e é daqueles casos que dá vontade de reservar uma passagem para a Argentina só para arranjar uma cópia dela.
Tirando a música, no entanto, nenhum dos outros aspectos individuais de Indomável Sonhadora é realmente especial. No entanto, a somatória deles é mais forte, graças à excelente direção de Benh Zeitlin.
Indomável Sonhadora não tem o visual onírico que eu esperava. Na verdade, com exceção das “bestas” simbólicas que a garota vê em alguns momentos específicos, todo o resto é bastante realista. Ainda assim, se torna bastante belo e especial, pela forma como é mostrado.
Cada plano, cada close, e cada música acontecem no momento certinho, intensificando a reação emocional causada por uma história que, por si só, não tem nada de especial. E isso é o que coloca Indomável Sonhadora como uma obra acima da média.
Não fosse esses detalhes técnicos, coisas que a maioria das pessoas sequer percebe, teríamos aqui um filme nada, ou talvez até um pouco abaixo disso. Muito me surpreendeu, aliás, ver que o longa foi indicado a melhor filme, diretor, atriz e roteiro, e não recebeu nenhuma das indicações técnicas. Por tudo que foi dito aqui, no entanto, eu diria que Indomável Sonhadora merece ao menos o careca de diretor é dele. Não que meu gosto costume bater com a academia, é claro.
