Dizem que é dos carecas que elas gostam mais. Pelo menos no mundo dos games, eu diria que isso não é verdade. Afinal, se temos moçoilas babando a torto e a direito pelo Nathan Drake ou pelo Geraldão, o nosso amigo Agente 47 não parece estar com frequência no centro das atenções da mulherada.
Porém, seus jogos são bem celebrados, e devo dizer que eu sempre tive uma certa fascinação pela série, embora o único jogo que tenha jogado do início ao fim (e até platinei ele) foi o anterior, Hitman Absolution, de 2012.
Acontece que, desde que eu ouvi falar pela primeira vez de Hitman, achei a proposta de planejar assassinatos de forma realista muito legal. No entanto, minha experiência com os primeiros jogos acabavam comigo empacado, sem saber o que fazer, simplesmente andando de um lado para o outro.
Absolution mudou um tanto isso, tornando-se um jogo de stealth mais linear e menos focado nos assassinatos. Dessa forma, apesar de ser um jogo legal, acabou decepcionando os fãs de longa data que curtiam o jeitão mais cerebral da série.
Este Hitman de 2016 é um retorno ao jeitão clássico, mas mantém uma bem-vinda acessibilidade para aqueles com menos paciência.
FAÇA PARECER UM ACIDENTE
Aqui temos todo o conteúdo do beta, que eu detalhei no nosso preview, e uma missão extra.
Tudo começa com uma missão de assassinato que serve de tutorial, no qual o jogo diz tudo que você tem que fazer, assim permitindo que você se familiarize com disfarces, entradas “alternativas”, garrafadas na fuça e todo o necessário para um bom assassinato planejado.
Logo em seguida, ele te coloca no mesmo cenário e na mesma situação, e desafia: agora faça o assassinato de forma diferente. Se na primeira vez você simplesmente trocou de disfarce algumas vezes e matou o alvo de forma bem direta, agora rola a possibilidade de fingir ser outra pessoa, envenenar sua bebida ou até mesmo coisas mais espetaculares e chamativas, como grandes explosões.
Este primeiro cenário não é muito grande, e é ideal para seu primeiro planejamento, pois dá para explorar tudo sem gastar horas ali. Eu cheguei a jogá-lo muitas vezes, em busca de ver todas as formas de assassinar meu alvo.
Depois disso vem o “teste final”, mais uma missão de assassinato, mas dessa vez você está totalmente livre para planejar como desejar. Agora o cenário é consideravelmente maior, e tem, literalmente, dúzias de formas de cumprir a missão.
A acessibilidade entra no fato que você pode ouvir umas conversas que mostram “oportunidades” e a partir daí o jogo pode mostrar os objetivos se você desejar. Caso prefira planejar sozinho, é só desativar esse tracking e seguir em frente. É uma forma legal que a IO Interactive encontrou de satisfazer os jogadores que gostam de planejar tudo sozinhos, sem alienar aqueles como eu, que não têm muita paciência de ficar perambulando sem saber o que fazer.
Todo este conteúdo já estava no beta. Só depois disso que você chega ao primeiro conteúdo inédito, a missão intitulada Showstopper, que envolve invadir um desfile de moda em Paris e assassinar os dois organizadores.
E, meu amigo, se as missões anteriores já eram boas, esta é definitivamente impressionante. O lugar é enorme, cheio de gente e repleto de disfarces. Você pode se fantasiar de segurança, estilista e até de modelos, cada um com acesso a áreas diferentes da mansão onde o evento acontece.
No meu planejamento, eu resolvi assumir a identidade do principal modelo do show, o que envolveu até um desfile pela passarela, aos sons de aplausos e gritos da mulherada, provando que talvez elas realmente gostem mais dos carecas.
Cada uma das missões tem dezenas de desafios, normalmente envolvendo formas diferentes de cumprir seus objetivos. Os desafios também podem servir de guia para você ter uma ideia do que fazer.
BUGS
O jogo salva automaticamente de tempos em tempos e você mesmo pode fazer saves manuais a hora que quiser. Os saves guardam o jogo exatamente como estava, com exceção dos desafios. Caso você tenha que parar de jogar, ou queira recarregar um save anterior, vai perder todos os desafios que completou. Ou seja, para os desafios contarem, você tem que cumprir a missão em uma tacada só, o que é bastante inconveniente considerando como jogos de stealth tradicionalmente são focados em tentativa e erro. Na verdade, isso é algo tão estranho que mais parece um bug.
E infelizmente bugs são um problema bem comum em Hitman, e muitas vezes eles vão te obrigar a reiniciar a missão desde o início. Após me vestir de modelo na missão supracitada, por exemplo, meu objetivo era andar pela passarela. Eu fazia isso, mas ele não dava o objetivo como cumprido. Eu ia, voltava e nada. Tive que reiniciar a missão, e daí assim que entrei na passarela ativou uma cutscene, que não ativava antes.
Em outra fase, após colocar veneno em um copo, um personagem deve aparecer e tomar o veneno, que o leva até o banheiro onde você pode atacá-lo e vestir a roupa dele (no mundo de Hitman, todo mundo usa o mesmo tamanho de roupa). Porém, mais de uma vez o cara continuava parado do lado de fora do iate, impedindo que eu continuasse com a missão. Tive que reiniciar.
Hitman também é um jogo sempre online, embora não haja absolutamente nenhum motivo para isso. Caso você jogue offline, nada do que destravou vai funcionar e também não vai poder destravar nada. E, claro, como é de costume, é comum a conexão cair, o que leva o jogador para a tela título, obrigando a restaurar o save (e perder todos os desafios cumpridos).
E DEPOIS?
Depois que você terminar as três missões presentes aqui, provavelmente vai querer jogá-las novamente para ver outros caminhos que poderia tomar. Além disso, existe a possibilidade de criar suas próprias missões, onde você pode matar qualquer personagem dos três cenários, e divulgar online para outros jogadores encararem o desafio. Isso já estava presente em Absolution e continua bem parecido aqui.
Outro modo de jogo é chamado de escalation. Aqui você tem uma sequência de missões. A princípio você deve entrar em um dos dois grandes cenários do jogo e matar alguém com uma arma e um disfarce específicos. Daí no próximo nível você deve repetir o objetivo, e ainda roubar um cofre. Na terceira vez, tem que fazer os dois objetivos anteriores e ainda matar um outro caboclo com outra arma e outro disfarce, e assim sucessivamente. É interessante, mas um tanto repetitivo fazer tantas vezes as mesmas coisas.
E é basicamente isso que temos aqui.
ACERTO-HOMEM
Hitman será lançado em episódios ao longo de 2016, com uma versão completa em disco saindo em 2017. O que jogamos aqui é apenas o primeiro episódio. Cá entre nós, eu não sou fã de distribuir jogos em partes e, se isso faz algum sentido em jogos focados na história, como Life is Strange, aqui a impressão que fica é que o jogo não ficou pronto a tempo e resolveram lançar assim para não ter que adiar, o que é corroborado por quão próximo da data de lançamento essa informação ter sido divulgada.
Hitman não se beneficia por essa opção. Pelo contrário, o que temos aqui é bem próximo de um demo, em quantidade de conteúdo. Inclusive, 75% do jogo final já estava no beta.
Quando um jogo episódico me interessa, eu costumo esperar sair tudo e daí eu compro de uma vez (o que além de tudo costuma sair bem mais barato). Nunca essa tática pareceu tão inteligente quanto com este Hitman. Claro que fãs de longa data da série terão bastante dificuldade para esperar um ano para poder brincar.
O fato, no entanto, é que o que temos aqui está muito, muito bom. É um Hitman com seu conceito perfeitamente elaborado, divertido e intrigante, que merece ser jogado não apenas por fãs da série, mas mesmo por aqueles que tinham um pouco de receio da sua falta de acessibilidade antes. Só é uma pena que não tenha mais dessa experiência para jogar até o momento.
LEIA TAMBÉM:
– Hitman – Assassino 47: o primeiro filme do carecão.
– Hitman: o preview delfiano: um preview do jogo cuja resenha você acabou de ler.
– Hitman GO – Definitive Edition: originalmente um jogo de celular, que jogamos aqui em sua versão para consoles.
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