Sabemos todos que por aqui quase sempre se fala de heróis. Gostamos deles. Ao contrário do que reza a crença popular, não são rasteiros em seus trajes quase sempre espalhafatosos. Alguns deles são até bastante soturnos, depressivos, vingativos, sem que com isso deixem de tentar construir um mundo melhor. Há os que acreditam piamente em sua existência. Há também aqueles que juram que heróis existem apenas nos quadrinhos e mais recentemente nas telas de cinema. Acreditar neles pode ser embaraçoso. Experimente dizer numa roda de não iniciados no assunto que alguns dos heróis dos quadrinhos podem ter a profundidade e alcance de um Dom Quixote.
Curiosamente, vivemos com a presença constante da antítese dos heróis permanentemente em nossos lares, em nossas cidades. Falo aqui dos vilões. São maus. No sentido mais puro da palavra. São canalhas. Impossível não acreditar em sua existência. Somos cotidianamente agraciados com imagens de crápulas guardando dinheiro público das mais diversas maneiras: na meia, na cueca, nas malas. Não há quem duvide deles. Nas rodas de amigos são tema freqüente. Todos falamos daquelas imagens escabrosas da semana. Claro, até que as próximas as substituam e nossa indignação encontre outros alvos igualmente transitórios. Não há como negar que os vilões são mais estilosos. Fazem mais barulho. São mais teatrais. Mentem mais. Talvez por isso acabemos falando mais deles.
Alguém aí saberia dizer porque heróis são tão frágeis? De calcanhares a pedrinhas verdes, todos eles, cedo ou tarde, acabam nos mostrando que toda aquela força, num dado momento, não seria suficiente para tirá-los de circunstâncias difíceis. Talvez por isso não acreditemos neles. Mas ainda assim, eles insistem em ir ao campo de batalha. Não se acovardam diante do mais forte dos inimigos. E quase sempre lá, no campo de batalha, encontram a morte. Muitas vezes o oponente é ridiculamente mais forte.
Alguns acreditam. Outros não. Há aqueles que acreditam que os heróis estão somente a serviço da manutenção da ordem. Mas é inegável: temos nossos heróis. E os perdemos vez ou outra. Perdemos Zilda Arns. No campo de batalha. Uma vez mais tentava desferir um duro golpe contra oponentes sagazes, ardilosos: as sempre companheiras fome, desnutrição e mortalidade infantil. Não foi um calcanhar, uma pedrinha verde, nem sequer foram ondas psíquicas. Bem mais do que isso foi necessário para derrotar nossa heroína. Entendidos disseram que 7,3 na Escala Richter equivalem a trinta bombas atômicas explodindo juntas. Convenhamos, contra tão duro golpe, nem o mais forte dos heróis poderia sobreviver.
Só mais uma coisa. Este é um site de cultura pop. Gostamos de falar de heróis. Acreditamos neles.