Heróis Imaginários

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As relações familiares na era pós-moderna. Pomposo, não? Parece até nome de tese de doutorado. Mas na verdade é o tema abordado em Heróis Imaginários. Desde o elogiado – e premiado – Beleza Americana, vira e mexe surge um filme que se propõe a retratar as agruras da classe média suburbana estadunidense. Ou em alguns casos, até a brasileira.

Mas enquanto a obra de Sam Mendes era centrada no patriarca da família e em sua crise de meia idade, a de Dan Harris (atenção, fãs de quadrinhos e dos filmes baseados neles, o rapaz é co-roteirista de X-Men 2 e do vindouro Superman Returns) abrange toda a família. No caso, os Travis.

O filme começa com uma situação barra-pesada, o suicídio do primogênito Matt (Kip Pardue). A partir daí, cada membro irá enfrentar a dor de uma maneira diferente. O pai Ben (Jeff Daniels, um eterno coadjuvante, mas muito competente) vira um fantasma, desligando-se da realidade. A mãe Sandy (Sigourney Weaver, minha exterminadora de aliens favorita) investe numa briguinha besta com a vizinha e passa a se portar como uma adolescente, inclusive fumando a maconha de seu filho caçula, Tim (Emile Hirsch. Sim, apesar do nome, é homem). Este, por sua vez, está naquela fase de discutir o sentido de tudo. Você sabe, aqueles questionamentos filosóficos de boteco. Completa a família a irmã mais velha de Tim, Penny (Michelle Williams, a Jen do extinto Dawson’s Creek) que estuda fora e só vai para casa nos feriados, mantendo-se alheia à situação da família.

Essa temática, uma família que tem que aprender a lidar com a dor da perda de um membro, é bastante parecida com a de Provocação, porém Heróis Imaginários é mais pesado, mais denso. Ele não se propõe a explicar nada. Apenas apresenta as mais variadas formas de reagir a essa perda (todas bastante críveis) e mostra como o nosso dia-a-dia é imbecil, sem sentido e, ao que parece, não há nada que mude essa situação.

Este não é um filme de entretenimento daqueles que você assiste no domingo, depois daquela feijoada, para começar a segunda-feira de bom humor. Mas é absolutamente necessário para mostrar o quanto é inútil praticamente tudo o que fazemos. Cara, escrever essas coisas está me deixando deprimido. De certa forma, o filme me deixou deprimido. Mas ao mesmo tempo me confortou, pois não sou o único que pensa nessas questões.

Há ainda referências ao Pearl Jam, quando um trecho da letra de Alive é lido como se fosse um poema escrito por uma garota suicida, ao Nirvana e aos Smashing Pumpkins (para sacar essa, fique de ouvidos atentos na cena da festa).

Heróis Imaginários pode não ser um filme muito fácil de se assistir, mas em tempos de relacionamentos interpessoais esfacelados, torna-se uma boa radiografia da sociedade. Não apenas para os estadunidenses, mas para qualquer um que viva em uma cidade.

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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
herois-imaginariosPaís: EUA/Alemanha/Bélgica<br> Ano: 2004<br> Gênero: Drama<br>