Vamos fazer uma coisa diferente nessa resenha. O DELFOS cobriu o show onde o DVD foi gravado e temos um texto completíssimo e uma extensa galeria de fotos sobre o dito-cujo. Portanto, leia sobre ele aqui e depois volte para ler a descrição do DVD e de tudo que tem nele, certo? Vai lá, eu espero aqui. Tututu… Tralala… Zip-a-dee-doo-dah, zip-a-dee-ay… Ah, voltou? Ok, então vamos em frente.
CONTEÚDO
Todas as músicas do DVD 1 estão presentes na versão tocada em São Paulo. Algumas outras (Keeper of the Seven Keys, A Tale That Wasn’t Right, Mr. Torture, I Want Out e Dr. Stein) também aparecem em gravações feitas em Sofia ou em Tóquio. Várias vezes durante essas músicas, aparece uma abóbora personalizada no canto da tela e, se você apertar enter, muda para a outra versão (o que pode ser feito mesmo durante a canção). A mais legal é a abóbora japonesa, que tem até olhinhos puxados. Os solos individuais de guitarra e bateria têm cenas misturadas dos três shows.
Particularmente, fiquei bem impressionado com a qualidade vocal de Andi, que mandou bem até mesmo nas músicas originalmente cantadas por Michael Kiske. Em I Want Out e Mrs. God, ele sai do tom feio, mas nas demais, está muito bom. Por outro lado, ainda acho que o guitarrista Sascha Gerstner não foi uma escolha apropriada para o lugar outrora ocupado por Roland Grapow e Kai Hansen. Já não gostava dele no Freedom Call, onde era um membro original, imagina então no Helloween.
Em relação ao que foi tocado em São Paulo, tiraram a música Occasion Avenue. Ela comparece no DVD 2, gravada em Tóquio, mas não dá para entender porque a cortaram do show propriamente dito. Tudo bem, ela é longa e chata, mas se o DVD vai documentar um show onde foi tocada, deveria estar presente.
No DVD 2, temos, além da supracitada, uma gravação da fenomenal Halloween, no festival Masters of Rock, que está bem legal, principalmente a parte que o coralzinho fala “we are calling you”. É uma pena que não tenham tocado a dita-cuja aqui. Ainda na parte musical, contém os clipes de Mrs. God e Light the Universe.
Temos também 49 minutos de filminhos amadores feitos pela banda na estrada. Particularmente, acho esse tipo de material (onipresente em DVDs de Metal) um saco, pois são um bando de piadas homoeróticas, pessoas bebendo, arrotando e coisas do tipo. Se quisesse ver isso, assistiria a um filme dos irmãos Wayans que, pelo menos, têm uma imagem melhor.
Tem também 44 minutos de entrevistas com todos os membros da banda, que variam entre momentos esclarecedores, engraçados e entediantes (a parte onde falam para o baterista falar sobre os outros caras se destaca nessa última categoria).
IMAGEM
A imagem é bem fraca para uma banda do porte do Helloween, que sem dúvida tem grana para pagar uma equipe de filmagem profissional e fazer um DVD com qualidade de… bem… DVD. Ao invés disso, temos um visual granulado e acinzentado, como se a iluminação não tivesse sido suficiente e tivessem esclarecido tudo na pós-produção. Aí na galeria de fotos, coloquei uma das fotos que tirei no show com esse efeito adicionado no Photoshop para você ter uma idéia de como ficou.
A pior imagem, por incrível que pareça, é a de São Paulo. Sofia e Tóquio também estão longe da perfeição, mas o nosso país é o que mais sofreu com a falta de qualidade técnica. O mais estranho é mesmo assim terem optado por colocar a maior parte do conteúdo gravada em nosso país. Se pensaram que um público barulhento compensaria a filmagem não profissional, estão muito enganados. Curiosamente, a imagem feita no festival Masters of Rock, da qual só temos uma música, está perfeita. Vai entender…
A edição deixa bastante a dever. É comum a imagem mostrar Weiki quando Sascha está solando e vice-versa. Aliás, isso acontece em 90% de todos os DVDs de Metal que eu já assisti. Será que nenhum editor da face da Terra sabe reconhecer quando um guitarrista está solando ou fazendo bases? Esse problema está presente no show inteiro, mas é mais grave na Halloween, mostrando que nada nesse disco está acima das críticas, infelizmente.
Para completar o amadorismo, este DVD tem a pior transição de camadas que eu já vi. Ela está bem no meio de uma música (na verdade, do solo de guitarra, mas mesmo assim), fazendo com que o som pare por um ou dois segundos, arruinando todo o clima. Caramba, DVDs de dupla camada já são uma tecnologia antiga e sempre foram escolhidas cenas escuras e onde nada acontecia para uma transição quase imperceptível, o que deixa ainda mais bizarro a colocarem em um momento com som.
SOM
O som está disponível em Dolby Digital 5.1 e Dolby Digital 2.0 para o DVD 1 (com exceção de A Tale That Wasn’t Right que, sabe-se lá o motivo, tem duas trilhas iguais em 2.0 e nenhuma em 5.1) e Dolby Digital 2.0 para o DVD 2, com exceção de Occasion Avenue, que tem também Dolby 5.1 (selecionável apenas durante a exibição).
A mixagem do show é bem básica (banda na frente e platéia atrás) e soa bem. Nada fenomenal, para dizer a verdade. E acho um absurdo que uma banda desse tamanho, lançando um DVD musical em 2007 não inclua uma trilha em DTS, mas se eles não investiram nem em uma imagem decente, imagina no som então.
MENUS
Os menus são feios e pouco práticos (são iguais nos dois DVDs). Demora mais de um minuto para você poder fazer sua seleção (dá para pular com o controle) e, cada vez que você seleciona algo, tem que esperar vários segundos até a mudança acontecer (ou a seleção começar a tocar). Para piorar, quando você escolhe uma música específica, você vai ouvir apenas ela, e não “a partir dali”, como tem que ser. Se você quiser ver o show como se fosse um filme, tem que escolher Play All. Mas convenhamos, quando você pega um DVD de show para assistir, dificilmente toca tudo, sempre escolhe algumas músicas específicas. Por causa disso, essa opção bizarra (que já tinha sido usada também no DVD High Live) diminui muito a praticidade deste disquinho.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Live on 3 Continents é um DVD extremamente básico. Não chega a ser amador e porco como o do Grave Digger (também gravado em nossas terras, aliás), que parece um filme pirata baixado da Internet, mas está muito aquém do que uma banda com o poder econômico do Helloween deveria colocar no mercado.
O DVD Rock In Rio do Iron Maiden é de uma excelência técnica impressionante, tanto na imagem quanto no som, o que mostra que é possível gravar algo decente aqui. Contudo, o DVD do Maiden pecou no conteúdo, já que foi um show sem grande parte dos clássicos. O do Helloween é completamente o oposto e, apesar dos problemas, leva uma nota boa por causa das boas músicas e do que, no geral, foi um bom show. Para ser sincero, me diverti bem mais assistindo ao DVD do que ao concerto em si. Provavelmente isso aconteceu porque, ao assistir ao disquinho no conforto do meu lar, não tive que lidar com pessoas no ombro de outras, fãs folgados e coisas do tipo, diminuindo o estresse da situação. Mas em um mundo ideal (ou em um país com um povo decente), eu também não precisaria lidar com esse tipo de coisa. Pois é, o Brasil é o único país onde assistir a uma gravação é mais divertido do que assistir à coisa ao vivo.
Se você é fã de Helloween e gosta de algo bem feito, provavelmente vai sofrer algumas decepções. Mesmo assim, eu recomendo a compra (que você pode fazer clicando aqui) pois, assim que se acostumar com a imagem e som abaixo do esperado, provavelmente vai se divertir bastante. E, se você não se importa com essas picuinhas, melhor ainda, pode comprar sem medo. E fico na torcida para que o DVD do Edguy gravado aqui tenha uma qualidade digna da capacidade da banda. E do merecimento dos fãs. Porque ser fã não é se contentar com qualquer porcaria que seus ídolos colocam no mercado. É, sim, exigir que eles dêem o seu melhor. Afinal, isso é arte, não religião.