É impressionante a influência que um simples nome pode ter, desde que a banda Helloween anunciou que o seu novo álbum seria a terceira parte do clássico ointentista, Keeper of the Seven Keys, todas as atenções voltaram-se para a banda que estava um pouco esquecida e afastada da cena. Mesmo sem dois dos maiores músicos da história do Heavy Metal, Kai Hansen e Michael Kiske (sim, aquele mesmo que vive falando mal do Metal e dos headbangers mas vive gravando participações em discos do estilo), a banda do “cabeleão” (o indivíduo que vive mudando a cor do cabelo conforme o ambiente à sua volta), Andi Deris, e do “cigarrista”, digo, guitarrista Michael Weikath toparam a empreitada e assumiram todos os riscos.
O que por um lado poderia ser bom, por outro poderia ser um tiro pela culatra, pois quanto maior a atenção obtida, maior seria a pressão em cima dos músicos. Como diria o Tio Ben, “Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades” e, após o lançamento do single Mrs. God, as coisas pareciam que iam complicar. Alguns fãs começaram a esbravejar “Heresia!” e coisas do tipo. Como o cético que sou, esperei para tirar conclusões somente após ouvir o álbum inteiro, pois já havia me dado mal após condenar o a volta da formação clássica do Judas Priest tendo escutado somente o single Revolution.
As primeiras impressões foram boas, um CD duplo (Nota do Corrales: embora tenha a duração de um álbum simples), uma capa interessante, um belo encarte e um digipack muito bem feito para a versão nacional. Mas faltava o principal, as músicas. Confesso que a primeira vez que ouvi o primeiro CD, a minha opinião era de que se tratava de uma bomba, mesmo apesar da belíssima faixa de abertura. Mas lembram que eu havia comentado que um nome pode atrapalhar ? E foi isso que havia atrapalhado a minha resenha, pois quando eu parei de analisar o álbum tendo como parâmetro os outros Keepers e comecei a ouvir como um lançamento do Helloween, tudo mudou e, dessa maneira, o resultado é bem melhor.
A primeira música é a épica The King for 1000 Years, com seus quase quatorze minutos. É uma bela faixa de abertura, e será impossível não compará-la às igualmente longas Halloween e Keeper of The Seven Keys, cheia de mudanças de andamento. Nesse momento já é possível afirmar que o baterista Dani Löble foi uma grande escolha para assumir as baquetas.
O álbum segue com Invisible Man que, apesar de ser uma faixa de duração média (cerca de 6 minutos), também possui várias mudanças de andamento. Aqui, a produção começa a saltar aos olhos e realmente esse aspecto é um dos mais positivos, assim como a participação do baixista Markus Grosskopf, que realmente manda ver nesse álbum, é destaque em várias faixas e tem sua melhor performance na banda.
Em seguida, temos Born on Judgment Day, típico metal melódico da fase Deris. Esse música é oferecida ao povo brasileiro, mas tomara que seja somente pelo instrumental, pois a sua letra é meio sinistra. Aliás, nessa música a banda resolve brincar de Eagle Fly Free, pois todos os instrumentistas têm seu solo. Em seguida temos uma composição de Sacha Gertsner, Pleasure Drone, que considero a mais fraca do álbum. Eis então que surge uma das faixas mais irreverentes e ousadas do Helloween, Mrs God, o primeiro single deste Keeper. A primeira impressão ao ouvir essa música não é das melhores, mas depois você se acostuma com seu ritmo alegre e seu instrumental moderninho. A letra também é muito bem sacada. O primeiro CD fecha com Silent Rain, outra música veloz no estilo Midnight Sun, do excelente Better Then Raw.
O segundo CD começa com outra faixa extensa, Occasion Avenue, onde o Helloween consegue se reciclar buscando algo novo sem fugir das suas características. A introdução da música lembra a de Starlight do EP Helloween de 1985, mas desta vez temos passagens de algumas músicas dos outros Keepers. Os fãs mais atentos poderão perceber que uma das passagens mostra o Andi cantando Keeper of the Seven Keys em uma gravação feita em São Paulo na última passagem da banda por aqui, em 2003.
Acha que está faltando uma balada? Pois a segunda canção é a belíssima Light of the Universe, que conta com a participação da gostosíssima Candice Night (Blackmore´s Night), e não deve nada a (Forever and One (Neverland) e If I Could Fly. Do You Know What You Are Fighting For e Come Alive trazem à tona o Hard Rock à Pink Cream 69. Enquanto a primeira é bem empolgante, a segunda é um pouco chatinha. The Shade in the Shadow é uma faixa interessante com uma perfeita mescla entre Heavy Metal e Hard Rock.
Pena que somente a partir da penúltima faixa (Get It Up) é que começam a aparecer mais claramente as guitarras dobradas que foram características tão marcantes na discografia da banda e sua base lembra o clássico I Want Out. Para terminar My Life for One More Day, a melhor canção do CD, com sua velocidade alucinante e seu refrão marcante e belo.
A edição japonesa conta ainda com uma faixa bônus, Revolution, que não é nada de especial, mas é ela a responsável pelo CD ser duplo. Aparentemente, seria complicado fazer um CD simples para o mundo inteiro e um duplo para o Japão, por isso que o pessoal dos outros países ficaram com dois CDs com duração que, somada, não chega a 80 minutos.
Um grande lançamento, longe de ser um novo Keeper of the Seven Keys, mas um grande álbum que traz o Helloween novamente para o mesmo patamar alcançado na segunda metade da década de 90. The Legacy, para mim, rivaliza com The Time of the Oath e Better Than Raw como melhor álbum do Helloween com Andi Deris nos vocais. Ficou devendo grandes duelos de guitarra, mas o resultado final é bem satisfatório. Então aproveita e compre clicando aqui.