Gravity Rush Remastered

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Há décadas videogames tentam criar formas de gameplay interessantes para fazer o jogador voar. Em Super Mario 3, quando vestido de tanooki, você precisava correr e então apertar repetidas vezes o botão de pulo. Em Super Mario World, o jogador já planava usando o direcional, conceito que foi ampliado em Super Mario 64.

Essa se tornou a forma mais comum de se voar em videogames. De Batman a Just Cause, existem dezenas de grandes jogos, especialmente de mundo aberto, que permitem ao jogador planar com o uso do directional, simulando o voo de uma asa delta.

O ponto é que a forma mais simples de se fazer voo, que foi usado na série Lego, de apertar o botão de pulo duas vezes e depois simplesmente segurar para frente, pode até ser eficiente, mas não é especialmente interessante. No final das contas, o jogador acaba se locomovendo simplesmente segurando a alavanca para frente, como se estivesse andando no chão.

Gravity Rush, considerado por muita gente um dos melhores jogos do PS Vita, chega hoje em sua versão remasterizada para PS4, e traz consigo boas e novas ideias para representar o voo em um game.

CAINDO PARA CIMA

Acontece que Kat, a moçoila que protagoniza o game de hoje, tem controle sobre a gravidade. Aperte o R1, e ela vai flutuar. Aponte a câmera em qualquer direção e aperte o R1 novamente, e a gravidade vai puxar naquela direção, fazendo com que ela caia para cima ou para os lados e possa andar em paredes e tetos. É uma forma de gameplay criativa e interessante, e nela está o grande trunfo de Gravity Rush, que joguei ao longo dos últimos dias em sua versão para PS4.

Com isso temos também uma forma de combate bem diferente. Você pode simplesmente chutar seus desafetos, mas o modo mais eficiente de detoná-los é voando. Apertando o quadrado enquanto Kat está flutuando, ela vai avançar com um poderoso chute.

Assim, quando inimigos aparecem, você logo vai começar a flutuar e ficar mexendo a câmera em todas as direções e apertando quadrado quando tiver um bichinho na sua mira. Os inimigos têm pontos fracos luminosos (alguns têm mais de um), então a mira precisa ser precisa. É bem divertido e criativo. Eu também consigo imaginar que pessoas com enjoo de movimentos possam passar mal considerando quão intensamente e com quanta frequência você precisa girar a câmera.

SALVANDO O MUNDO

A história se passa na cidade flutuante de Hekseville (pois é, tente não pensar em Bioshock Infinite) e é um tanto bagunçada. Acontece tanta coisa diferente ao longo da jogatina que parece mais uma sequência de episódios desconexos do que uma história com começo, meio e fim.

Uma das primeiras coisas que você vai fazer, por exemplo, é tentar evitar o roubo de uma joia mágica que protege a cidade, mas logo você estará viajando para outras dimensões e resgatando crianças em uma cidadezinha perdida remanescente de O Senhor das Moscas.

A história é contada imitando uma estética de HQs e quase sem vozes. O roteiro em si é totalmente japonês, incluindo aí a protagonista ao mesmo tempo inocente e sexualizada tão cara aos nipônicos. Fãs de animês e mangás sem dúvida vão curtir a narrativa.

As missões em si não são exatamente criativas. Elas são claramente construídas em cima dos poderes únicos da Kat. Envolvem transportar pessoas e objetos, muito combate e quase todas as missões terminam com um chefe, normalmente grande e cheio de pontos fracos espalhados pelo corpo.

Tem uma boa quantidade de missões com limite de tempo, e outras bem chatinhas na qual seus poderes ficam limitados ou somem totalmente. Nesse ponto, o gamedesign lembra bastante jogos como Just Cause 3 e Sunset Overdrive, ou seja, é um jogo com mecânicas e forma de locomoção muito divertidos, mas com missões que não são tão inspiradas como, por exemplo, Far Cry ou Sleeping Dogs.

Uma das primeiras missões, justamente aquela da pedra preciosa, exige que o jogador chegue em determinada parte do mapa sem ser avistado. Para isso, ele não pode simplesmente sair voando, precisa andar pelas paredes de forma furtiva. É uma das missões mais legais do jogo, e uma das poucas vezes em que o jogador de fato é obrigado a usar a habilidade de andar pelas paredes, pois na maior parte do tempo basta voar até seu objetivo. Pena que não haja outras fases assim.

Uma missão especialmente chata é a segunda do pack de DLC Special Forces, no qual você deve pegar caixas d’água espalhadas pela cidade para apagar fogos, e o jogo não coloca um waypoint nas caixas d’água, exigindo que você as ache por conta própria. Este infelizmente é um artifício que Gravity Rush usa com frequência, exigindo que o jogador encontre seus objetivos sozinho, e estes muitas vezes não são claros ou chamativos.

DLCS E DESAFIOS

Já que falamos de DLCs, Gravity Rush Remastered traz os três DLCs que saíram para a versão de Vita, e cada um deles traz duas sidemissions. Cada DLC traz uma historinha nova independente do jogo principal, mas as missões em geral são mais fracas do que as principais.

Essas seis sidemissions são as únicas missões presentes no jogo que não são parte da história. Assim, se você quer passear pelo mundo aberto de Gravity Rush mas não quiser avançar a história, terá apenas a opção de fazer alguns desafios que envolvem objetivos com limite de tempo, que vão de corridas a matar a maior quantidade de inimigos. Sua performance é classificada em ouro, prata ou bronze, e dependendo de como você se sair, ganhará joias de recompensa que podem ser usadas para adquirir upgrades.

Em outras palavras, o que temos aqui é um mundo aberto, mas um mundo aberto mais focado, com menos gordura, objetivos e atividades do que o que encontramos tradicionalmente no gênero. Ele é ainda mais simples e acessível do que Mafia II, por exemplo. Ideal se você está a fim de um playground virtual, mas não está com saco de investir dezenas de horas em atividades secundárias.

ADRENALINA DA GRAVIDADE

Imagino que talvez seja justamente por isso que ele fez tanto sucesso no Vita. Mundos abertos não são comuns em videogames portáteis, e Gravity Rush faz um bom trabalho ao trazer a fórmula do gênero de forma mais simplificada e mais apropriada para uma jogatina móvel.

No PS4, no entanto, onde você tem que se esforçar muito, muito mesmo, para achar um único jogo, qualquer jogo, que não seja mundo aberto (o único que me vem à cabeça é Knack), talvez ele não se destaque da mesma forma. Afinal, comparando com os grandes jogos presentes no negão da Sony, Gravity Rush Remastered pode parecer simples demais, talvez até simplista.

Gravity Rush Remastered traz boas ideias de gameplay e algumas horas de diversão. Vale ser conhecido, especialmente por quem não tem um Vita e quer saber como é um dos principais jogos do portátil da Sony. No entanto, é um jogo de mundo aberto menor, mais focado e com menos atividades, que pode até agradar fãs do gênero por suas boas ideias, mas que não tem a mesma sustância de seus irmãos maiores.

CURIOSIDADES

Gravity Rush Remastered está disponível a partir de hoje na loja virtual do PS4.

– O diretor deste jogo é Keiichirō Toyama, que também dirigiu clássicos como Silent Hill e Siren.

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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. É o autor dos livros infantis "Pimpa e o Homem do Sono" e "O Shorts Que Queria Ser Chapéu", ambos disponíveis nas livrarias. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
gravity-rush-remasteredAno: 2016<br> Gênero: Mundo aberto<br> Plataforma: PS4<br> Fabricante: Japan Studio<br> Versao: PS4<br> Distribuidor: Sony<br>