A fascinação dos nerds pelo Japão não se resume apenas à beleza de suas mulheres. Boa parte da diversão da nossa infância veio da terra do Sol nascente. De Tokusatsus (Jiraya, Jaspion, Changeman) a animês, de mangás a videogames, o Japão sempre teve um lugar especial no nosso coração. Até mesmo ícones estadunidenses muito admirados por nós, como Star Wars (veja relação de links no final dessa resenha) e Matrix se orgulham de sua influência oriental nos figurinos, movimentos e até mesmo na história. Sem falar que é realmente impressionante o fato de um país que foi praticamente destruído na Segunda Guerra Mundial ter se reerguido e se tornado a potência que é hoje em algumas poucas décadas. Com tudo isso, é de se entender a tara que nós temos pelas maravilhas femininas do oriente e por sua cultura. É bem simples afinal: nerd sabe o que é bom.
Mas nem tudo que envolve o Japão é legal. Já tive amigos que namoravam japonesas, mas que eram odiados pelos pais das garotas pelo simples fato de serem gaijins (estrangeiros), preconceito idiota (como todo preconceito) que atinge inclusive descendentes de japoneses que vão para lá trabalhar como operários (chamados de dekassegui). Outra coisa que é difícil para nossos olhos latinos entenderem é o fato de alguns japoneses se isolarem em colônias e nem sequer aprenderem a falar português, língua do país em que moram.
Pois é, se você, assim como eu, nunca entendeu essas atitudes um tanto estranhas dos nossos amigos de olhos puxados, Gaijin – Ama-me Como Sou (subtítulo completamente desnecessário) pode jogar uma luz em alguns assuntos. Mas fique avisado: não é um filme fácil. Possivelmente vai apenas interessar a japoneses, seus descendentes e pessoas que admiram e conhecem ao menos um pouco da cultura oriental. Para os outros, muitas atitudes tomadas pelos personagens simplesmente não vão fazer sentido.
Gaijin narra a história de quatro gerações de uma mesma família, começando em 1908, quando a jovem Titoe, na esperança de ajudar sua família com problemas financeiros, decide vir para o Brasil com a promessa de voltar em cinco anos. Com muito trabalho, Titoe consegue mandar dinheiro para ajudar a família e mesmo comprar terras. Só não consegue juntar dinheiro suficiente para a passagem de volta. Mas não desiste. Sempre otimista e com muito bom humor, Titoe continua lutando para cumprir a promessa que fez à sua família.
Conforme o tempo vai passando, descendentes da japinha simpática vão nascendo e nós vamos acompanhando sua trajetória, vendo como algumas coisas importantes da história vão afetando a família, como o Plano Collor e a Segunda Guerra Mundial. Nesse sentido, podemos considerar Gaijin um “Forrest Gump Nipo-brasileiro”. Infelizmente, o roteiro da diretora Tizuka Yamazaki não resiste à tentação de colocar acontecimentos importantes para os personagens em momentos cruciais que envolviam o mundo, como o casamento no mesmo dia que a guerra termina ou um assassinato simultâneo a um nascimento, o que dá um ar extremamente forçado ao filme, tirando-o da história séria que deveria retratar.
Gaijin me emocionou muito, pois muitos dos problemas relacionados à família do filme são bem semelhantes a problemas que uma família da qual gosto muito está passando. Eu quase chorei em várias cenas e mesmo agora, enquanto escrevo este texto e me lembro delas, eu novamente sinto vontade de chorar.
Na verdade, este seria um ótimo candidato para levar o Selo Delfiano Supremo, não fosse pela imensa quantidade de defeitos gravíssimos. O que mais me incomodou foram as legendas (apesar de o filme ser brasileiro, boa parte dele é falado em japonês) que parecem ter sido escritas por um semi-analfabeto. As vírgulas estão erradas, a concordância também, existe um excesso de pontos de exclamação (algumas frases chegam a ter uns quatro) e o mais bizarro, pontos de exclamação seguidos de reticências. Isso tudo compromete o entendimento de algumas cenas a ponto de estragá-las completamente.
A atuação também deixa muito a dever. Conversando com uma colega, ela comentou que as cenas pareciam ter passado por uma dublagem. Não sei se é o caso ou se são ADR (uma regravação das vozes dos atores feitas durante a pós-produção quando a primeira captação não fica boa) mal feitos. O fato é que existem diversos problemas de sincronia e, em alguns momentos, os personagens parecem crianças aprendendo a ler, tipo: “O-lha a por-ta”.
Esses erros foram graves mancadas da diretora, que poderia ter prestado mais atenção nisso, principalmente se considerarmos a quantidade de patrocínios que Gaijin tem. Sério, durante mais de minuto do filme, vemos apenas um monte de logotipos.
Poderia ser perfeito, mas apesar das falhas, Gaijin é um épico do melhor tipo, aquele que trata sobre pessoas comuns. Nos faz rir, chorar, sentir medo e nos divertirmos. Uma combinação de emoções que só a vida e um ou outro filme muito especial nos faz sentir.
Links relacionados:
Matrix Revolutions
O Último Samurai
O Clã das Adagas Voadoras
Star Wars – Episódio III
Star Wars – Episódio V
Tremendões: Darth Vader
Star Wars Trilogy
Clone Wars
Lego Star Wars