Eu me lembro da primeira vez em que ouvi falar de Michael Moore. Estava eu na faculdade e um colega comentou sobre um filme que tinha visto na Mostra de Cinema. Um filme que tentava explicar porque norte-americanos são tão atraídos por armas de fogo. Eu, que nunca curti documentários, pela primeira vez senti vontade de assistir um. Aliás, mais do que vontade. Fiquei muito ansioso para assistir. Infelizmente, a Mostra já tinha terminado e só teria outra chance de ver o filme muitos meses depois. Esse filme era Tiros em Columbine. Demorou, mas quando consegui, fiquei fascinado e fui atrás do filme anterior do diretor, Roger e Eu que, embora não seja tão legal quanto o outro, também é muito bom.
Os filmes de Michael Moore se destacam por um motivo muito simples. Assim como nós, do DELFOS, Moore faz jornalismo parcial. Ele simplesmente pega algo que está errado (do seu ponto de vista) e faz um filme para tentar convencer as pessoas a mudar isso. Ou seja, o cara detona. E ainda fez história com seu novo documentário, que foi o primeiro filme do gênero a faturar mais de 100 milhões de dólares. É a prova de que é possível ficar rico fazendo jornalismo parcial.
Em Fahrenheit 11 de Setembro (o título é uma brincadeira com o livro Fahrenheit 451 de Ray Bradbury), ele talvez tenha escolhido o seu tema mais polêmico. Aqui, Michael Moore decide ir contra, simplesmente, o cara mais poderoso do mundo e o super-vilão mais perigoso que a humanidade já conheceu: o provável candidato a anticristo George W. Bush. E ir contra pessoas que detém o poder, normalmente não dá muito certo para o corajoso (ou burro). Eu mesmo discuti com um professor de filosofia na faculdade e acabei reprovando por vingança do professor. De nada adianta, contudo. Pessoas idealistas simplesmente têm uma necessidade infindável de ir contra o que está errado, não interessa quantas vezes se encrenque por causa disso. Mas sinceramente, o que seria do mundo sem nós?
Aproveitando a deixa, vou falar algo que descobri sobre Bush (e que não sei se é verdade, estejam avisados, mas vou falar assim mesmo). Em minhas pesquisas pela Internet, motivadas pela minha inesgotável sede de conhecimento, descobri por acaso que Bush faz parte de uma fraternidade chamada Skull & Bones (crânio e ossos, o símbolo dos piratas).
Curioso, pois nunca havia ouvido falar dela, fui tentar descobrir algo sobre sua ideologia e razão de existir. Como não encontrei um site oficial (o que já é estranho, se lembrarmos que todas as fraternidades conhecidas têm site), acabei tendo que procurar em não-oficiais e então descobri que é uma fraternidade norte-americana fundada na faculdade de Yale, cujo objetivo é dominar o mundo através da guerra, pois se consideram guerreiros da elite (e Bush fala no filme que considera a elite estadunidense a sua base). Essa fraternidade é formada apenas por pessoas brancas, sempre das mesmas famílias e que casam entre eles, para não misturarem seus “supergenes” com os “genes podres” das famílias inferiores (todas as outras, por exemplo, a minha e a sua).
Para conseguir seus objetivos, chegaram até a financiar Hitler (e devemos lembrar que foi depois da Segunda Guerra Mundial que os EUA se tornaram uma grande potência). Já me estendi muito no assunto afinal, essa é uma resenha do filme de Michael Moore, não dos Skull & Bones. Mas se quiser saber mais, procure você mesmo. Sinceramente, não sei se acredito nisso, mas também não duvido, afinal, que outro motivo explicaria o gosto que os estadunidenses têm por invadir outros países?
Sobre o filme, em comparação com Tiros em Columbine, este tem muito menos humor. Michael Moore aparece muito menos. Enfim, é um filme muito mais pesado e mais sério, carregado da ideologia do diretor. Algumas cenas chegam a ser revoltantes, como as que os soldados estadunidenses, com seu tradicional sadismo, falam das músicas que ouvem enquanto matam violentamente os “malditos iraquianos”, inclusive crianças e velhos. Um deles, chega até a cantar uma música, cuja letra singela, diz “Burn, motherfucker, burn”. É… Mais norte-americano impossível. Claro que Michael não precisava ter exagerado a ponto de mostrar uma criança iraquiana completamente destruída e outra com ossos à mostra, mas a gente perdoa ele pela grosseria.
Outro destaque é a trilha sonora. É incrível o quanto Moore consegue dizer apenas com a música. Por exemplo: em uma das cenas, ele fala sobre um soldado que foi expulso do exército. Um zoom é feito no nome do cara e vemos o nome George W. Bush. Neste momento, um pedacinho de Cocaine é executada. Para bom entendedor, meia palavra (ou um riff) basta. Simplesmente genial.
Em certos momentos do filme, contudo, fiquei com bastante medo. Fiquei imaginando o dia em que vou ligar a TV e ver a cara de idiota do Bush dizendo: “O Brasil é um país com um governo comunista que afasta seu povo da liberdade. O povo brasileiro pede pela nossa presença e a América (já repararam como eles acham que a América é apenas os EUA?) vai ajudá-los. Por isso estamos com tropas na capital do Brasil, Buenos Aires, prontos para iniciar a libertação do povo através de toda a violência e morte que só os EUA sabem dar ao mundo”. Claro que nós saberíamos que o interesse dele é na Amazônia, mas em quem será que o resto do mundo ia acreditar? Eu realmente espero que isso não venha a acontecer um dia, pois acho que os EUA já dominaram o suficiente do Brasil.
Uma dica que dou para os que forem assistir ao filme é ir ao cinema exatamente como você entra no DELFOS (ou deveria, pelo menos): com opiniões formadas, pois elas serão postas à prova e você será duramente manipulado. Tenha muita certeza de suas opiniões antes de entrar na sala para não acabar concordando com Michael contra a sua vontade.
Com isso, não quero dizer que ele mente no filme. Mas todos nós sabemos que é possível você manipular a verdade para fazê-la servir aos seus propósitos (lembra daquele comercial da Folha com a foto do Hitler?). E é isso que Michael faz no filme inteiro. Um exemplo: em determinado momento, ele junta uma galera e pergunta “quem aqui conhece alguém que está servindo no Iraque?”. Todos levantam as mãos. O que não é mostrado, é que Moore, sem dúvida, fez uma pré-seleção para que todos os que fossem aparecer no filme tivessem parentes no Iraque.
Claro que a manipulação não me incomoda. Afinal, qualquer um que não nasceu ontem sabe que o tão falado “jornalismo imparcial” não existe e é muito melhor ser honesto em relação a isso do que se fingir de imparcial, como a maioria dos documentários e veículos de comunicação faz. Isso é apenas um aviso para que você vá assistir ao filme com discernimento suficiente para saber distinguir entre fatos reais e manipulações. Mas assista ao filme, independente de sua opinião sobre Bush, pois é sempre interessante conhecer fatos não mostrados na mídia sobre um dos maiores serial killers da história.